'Ninguém é perfeito': alguns empregados da Uber desaprovam saída do presidente
Jeffery Salter/Redux | ||
Travis Kalanick, ex-presidente da Uber |
A Uber e seus investidores estão enfrentando reações adversas à saída de Travis Kalanick da presidência executiva —especialmente por parte de alguns trabalhadores.
Na noite de quarta-feira (21), começou a circular uma petição de funcionários da Uber pedindo que o conselho da empresa trouxesse Kalanick de volta a um papel ativo. Mais de mil trabalhadores clicaram para apoiar o retorno de Kalanick nessa capacidade. Além disso, recorreram às redes sociais para expressar sua rejeição à saída dele, que foi um dos fundadores da Uber e fez da companhia um gigante no setor de transporte.
"Ele trabalhou dia e noite para criar esta companhia e transformá-la naquilo que é hoje", a petição afirma.
A reação se segue a alguns dias muito tumultuados na Uber. Na noite de terça-feira (20), Kalanick, 40, anunciou sua renúncia como presidente-executivo depois que um grupo de investidores —entre os quais a Benchmark, um dos maiores acionistas da empresa— pressionou por sua resignação. Eles agiram depois de meses de controvérsia na empresa quanto a questões legais e trabalhistas, entre as quais acusações de assédio sexual, que levaram a demissões, investigações e promessas de reforma.
A renúncia de Kalanick foi um choque para muita gente do Vale do Silício que encarava a posição dele como segura, já que detém grande volume de ações da Uber, e transformou a empresa de serviços de carros em uma companhia avaliada em quase US$ 70 bilhões em apenas oito anos.
O movimento deixa a Uber na incerteza. Não há um presidente-executivo interino no comando da companhia, e as responsabilidades de gestão cabem a um comitê de executivos. A Uber está buscando pessoal para renovar seus quadros de primeiro escalão, e o conselho da empresa também está passando por diversas mudanças.
A petição dos funcionários surgiu quando Michael York, um gerente de produto, começou a contatar colegas em busca do apoio deles a Kalanick.
"Ninguém é perfeito, mas acredito fundamentalmente que ele possa evoluir e se tornar o líder de que a Uber precisa hoje, e que ele seja crucial para o sucesso da empresa", escreveu York em e-mail aos colegas, com o título "Em apoio a Travis". "Quero que o conselho ouça, dos trabalhadores da Uber, que tomou a decisão errada ao pressionar pela saída de Travis, e que ele deve ser reaproveitado em um papel operacional."
Os mil cliques de apoio à petição representam uma pequena fração dos mais de 15 mil funcionários.
York é próximo da Kalanick, que o convenceu a deixar a escola aos 18 anos de idade para trabalhar na Uber, em 2012. Com Jeff Holden, um executivo de produtos, York ajudou Kalanick a formular a hoje infame lista de 14 valores culturais da empresa, alguns anos atrás, de acordo com duas pessoas informadas sobre o assunto, que pediram que seus nomes não fossem mencionados. A lista de valores está sendo reformulada depois de uma investigação interna da cultura da empresa.
Na noite da quarta-feira, em San Francisco, onde fica a sede da Uber, funcionários também realizaram pelo menos duas pequenas reuniões informais para discutir a situação da empresa e, em alguns casos, lamentar a saída do líder, de acordo com três antigos e atuais empregados da companhia.
A direção da Uber se apressou a tratar das preocupações dos trabalhadores.
"Como seria de esperar, as emoções causadas pela decisão de Travis são intensas. Compreendemos o fato, e queremos que todos vocês saibam que ele não a tomou levianamente", escreveu a liderança executiva da empresa aos funcionários na quarta-feira, de acordo com um e-mail visto pelo "New York Times". "Sair agora foi a maneira que ele encontrou de colocar a Uber em primeiro lugar, como sempre fez. Travis deu mais que qualquer outra pessoa a esta companhia. Teve impacto profundo e significativo em incontáveis trabalhadores da Uber e em pessoas de todo o mundo, e por isso seremos eternamente gratos."
A Uber se recusou a acrescentar outros comentários.
A funcionária Margaret-Ann Seger escreveu uma longa mensagem no Facebook definindo Kalanick como inspiração para todos os empreendedores. Ela o agradeceu por inspirar a companhia a "pensar maior, pensar mais rápido, e pensar com mais impacto do que qualquer pessoa havia ousado pensar antes".
Ela acrescentou que "cometemos alguns erros —sou a primeira a admitir que a Uber não é perfeita. Mas o impacto positivo que você teve sobre esta empresa, e o mundo, é uma verdadeira inspiração."
O post conquistou mais de 1.700 likes no Facebook, entre os quais o de Mark Zuckerberg, presidente-executivo do Facebook, e o de Joe Lonsdale, um profissional de capital para empreendimentos muito bem conectado no Vale do Silício.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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