Crítica
Economista ataca juros altos sem apontar saída convincente
Marlene Bergamo - 27.jun.2016/Folhapress | ||
O economista André Lara Resende, um dos formuladores do Plano Real e de outros planos de combate à hiperinflação |
Tornou-se mantra apontar que o Brasil abriga as maiores taxas de juros do planeta. Nem sempre a afirmação é precisa: há pouco a Rússia subiu ao topo da lista; não se sabe tudo o que acontece nos rincões do Terceiro Mundo.
Entretanto, é fato que, há mais de duas décadas, as taxas reais (acima da inflação) brasileiras mantêm-se muito acima dos patamares tidos como razoáveis a partir da experiência internacional.
Nem por isso o objetivo de conter a alta dos preços foi atingido a contento. A hiperinflação chegou ao fim nos anos 1990, é verdade, mas ainda não se chegou a um padrão civilizado para os índices de alta do custo de vida.
Dado que os especialistas mais renomados não encontraram explicação satisfatória para o fenômeno, o debate sobre juros ultrapassou as fronteiras da tecnocracia e instalou-se na esfera política.
Isso pode significar tanto o interesse em compreender e aprimorar a gestão da economia como, mais frequentemente, teorias conspiratórias e bravatas demagógicas.
Tal contexto ajuda a entender a repercussão provocada por uma pergunta apresentada, no início deste ano, pelo economista André Lara Resende: e se os juros altos estiverem alimentando –e não combatendo– a inflação?
Exposta inicialmente em um artigo publicado pelo jornal "Valor Econômico", a tese mais que controversa ganha agora a forma do livro "Juros, Moeda e Ortodoxia".
HETERODOXIA
O autor é um heterodoxo, mas não na acepção pejorativa que pensadores de formação, alianças ou interesses duvidosos fizeram o termo merecer no Brasil.
Não se fala em Lara Resende sem recordar sua con- tribuição decisiva para os planos que, desafiando teorias convencionais, procura- ram debelar a hiperinflação no país –tanto o exitoso Real como seus antecessores fracassados.
Sua mais recente provocação se ampara na perplexidade com que o mundo rico acompanha outro paradoxo: a adoção de juros próximos de zero, nos EUA, na Europa e no Japão, não resultou em aceleração inflacionária.
No livro, o economista demonstra consciência dos riscos que correu ao questionar a política monetária.
Entre eles, conferir respeitabilidade intelectual a pressões interesseiras de políticos e empresários contra a ação do Banco Central –ou ser confundido com os que pregam soluções mágicas para problemas complexos.
O texto defende, porém, que um tema tão fundamental precisa ser exposto ao público. Numa analogia voltada aos leigos, compara os juros a um medicamento que debilita o paciente sem curar sua doença crônica.
"Deve-se continuar a ministrar doses maciças do remédio ou reduzi-las rapidamente?", questiona.
NA PRÁTICA
Uma resposta poderia ser recordar a malfadada tentativa de redução forçada das taxas do BC, no governo da petista Dilma Rousseff. Tudo o que se colheu foi mais inflação e, depois, mais juros.
Com o IPCA agora finalmente em queda, prevalece a turma do deixa-disso: por fascinante que seja o debate da teoria, não há como colocar em prática ideias que carecem de evidência empírica.
O livro de Lara Resende não parece reunir argumentos capazes de encorajar algum experimento inovador e arriscado nesse campo.
Seu mérito principal é iluminar falhas históricas do pensamento que embasa as políticas monetárias, além do tribalismo vicioso de economistas encastelados em comunidades que desprezam as hipóteses
alheias.
Juros, Moeda E Ortodoxia - Teorias Monetárias E Controvérsias Políticas |
André Lara Resende |
Comprar |
Os não especialistas devem deixar para depois o segundo dos seis capítulos da obra (fora introdução e conclusão), rebuscado em excesso. No sexto, o próprio autor sugere que os não iniciados pulem as fórmulas matemáticas.
Tudo somado e subtraído, conclui-se que não haverá solução virtuosa sem o equilíbrio do Orçamento do governo brasileiro –algo que só se conhece de ouvir falar.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Calculadoras
O Brasil que dá certo
s.o.s. consumidor
folhainvest
Indicadores
Atualizado em 18/04/2024 | Fonte: CMA | ||
Bovespa | -0,17% | 124.171 | (18h30) |
Dolar Com. | +0,15% | R$ 5,2503 | (09h30) |
Euro | 0,00% | R$ 5,5853 | (09h06) |