Análise
Aprovação de reforma não é salvo-conduto para Temer se manter
É natural que um governo cambaleante queira explorar a aprovação de uma bandeira prioritária como a reforma trabalhista para vender a imagem de que tem força suficiente para superar a crise política. O fato é positivo para Michel Temer, mas essa tradução não é tão simples como quer o presidente.
Convenientemente, o presidente ignora o fato de que as mudanças na CLT tinham um apoio que transcendia o capital político cada vez menor do Planalto –a começar pelos votos do PSDB, que ameaçava desembarcar do governo assim que esse texto fosse aprovado.
Os tucanos abraçaram a reforma desde o início, indicaram relatores para o projeto e repetiram inúmeras vezes o compromisso de aprovar o texto independentemente de seu apoio a Temer.
A antítese é clara: 10 dos 11 senadores do PSDB votaram a favor da reforma trabalhista, mas Temer seria ingênuo se acreditasse que essa mesma proporção de deputados tucanos ajudará a derrubar a denúncia por corrupção passiva contra ele na Câmara. O inverso é mais provável.
Transpor o resultado desta terça (11) para o outro lado do Congresso é pura propaganda. A alteração das leis trabalhistas tinha apoio em massa do empresariado, que influenciou parlamentares de partidos que já não caem mais de amores por Temer.
O mercado, aliás, tratava a reforma como pauta imprescindível, mas não como salvo-conduto para a sobrevivência do presidente. A aprovação foi interpretada apenas como o cumprimento de um contrato de compra e venda assinado havia tempos por Temer.
Com 50 votos no Senado, o governo pode alardear ter conquistado uma vitória com apoio de 60% do plenário e transmitir sinais de que teria poder para aprovar também a reforma da Previdência, que precisa desse quorum. A trabalhista, entretanto, enfrentou muito menos resistência.
Não é trivial que o governo tenha enfrentado um caminho relativamente calmo na tramitação do texto. A oposição fez barulho em embates esparsos, mas não houve um adversário real.
Para transpor o resultado da reforma trabalhista para o plenário da Câmara, o presidente teria que esquecer que, entre aqueles 513 nomes que vão julgá-lo, há um homem ávido para tomar seu lugar.
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