Escola atual não elimina desigualdade que vem do berço
Uma das principais funções da escola é contribuir para que as sociedades se tornem mais igualitárias em termos das oportunidades que oferecem aos seus cidadãos.
O estudo do IBGE mostra que, apesar de termos avançado nesse quesito, continuamos falhando gravemente.
Como aponta a própria pesquisa "existe uma barreira intergeracional para o acréscimo de escolaridade, dependendo da educação paterna". Ou seja, nosso sistema educacional não consegue eliminar a desigualdade que vem do berço.
Um dado que ilustra isso claramente: apenas 4,6% da população brasileira de 25 a 65 anos cujos pais não tiveram nenhuma instrução formal conseguiram chegar ao ensino superior.
A pesquisa corrobora ainda as inúmeras outras evidências numéricas e anedóticas de que pretos e pardos são os mais punidos pelas nossas falhas educacionais.
Metade dos filhos brancos cujos pais tinham no máximo o nível superior incompleto conseguiu se formar numa faculdade. Entre os filhos pretos na mesma situação, essa parcela cai para 28,4%.
Há aspectos positivos evidenciados pelos dados divulgados nesta sexta-feira. Eles mostram por exemplo que o destino educacional dos adultos de 45 a 65 anos era mais dependente da escolaridade materna do que o da geração de 25 a 44 anos.
A grande ampliação da política de cotas para o acesso ao ensino superior deverá fazer com que essa tendência se acentue bastante quando analisarmos em alguns anos o que ocorreu com os nossos jovens de hoje.
Mas precisamos de mecanismos –hoje inexistentes no Brasil– para acompanharmos o futuro dos beneficiários no mercado de trabalho.
Outra pesquisa do IBGE, do fim de 2016, mostrou que o diploma de ensino superior por si só não resolve a imensa desigualdade de oportunidades existente no nosso país.
Segundo o estudo, em 2014 era de R$ 6.739 o rendimento médio do trabalho de pessoas de 25 anos ou mais, com ensino superior completo, cujo pai tinha a mesma escolaridade. Já os brasileiros com diploma universitário e pai sem nenhuma instrução recebiam R$ 2.603.
O remédio para isso, como mostra a literatura acadêmica recente, é investir pesadamente na educação infantil.
Não há retorno social maior que o obtido pela oferta de cuidados, estímulos e educação de qualidade para as crianças de mais tenra idade.
Enquanto não acordar para isso, continuaremos avançando lentamente na direção de maior igualdade social e desenvolvimento econômico.
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