Empresa declara aos EUA possível propina em aeroporto de Brasília
Bento Viana/Divulgação | ||
Aeroporto de Brasília |
A empresa argentina Corporación América –controladora do aeroporto de Brasília– identificou um possível pagamento de propina no valor de US$ 250 mil, feito em 2014. A informação está em comunicado ao mercado americano, ao qual a Folha teve acesso.
Em 2014, a operadora aeroportuária argentina tinha como sócia no empreendimento a Engevix. A empreiteira foi investigada na Lava Jato, teve um dos sócios presos e, para superar problemas financeiros, vendeu a sua parte à Corporación em 2015.
No comunicado às autoridades americanas, a empresa diz que, ao avaliar a contabilidade pregressa, não conseguiu explicar o destino de milhares de dólares e reportou o problema para não ser responsabilizada futuramente.
"Identificamos pagamentos feitos pela Inframérica [concessionária que opera o aeroporto] que podem não ter tido propósito apropriado e que poderiam nos expor a multas e sanções", diz o texto, que ainda ressalta que a empresa pode estar sob investigação.
Segundo o documento, os pagamentos teriam sido destinados a "indivíduos ou entidades que a imprensa sugeriu terem feito repasses ilegais a oficiais do governo em nome de companhias".
A Engevix ganhou projeção nos escândalos envolvendo empresários e políticos quando um dos sócios, José Antunes Sobrinho, negociou um acordo de delação com o Ministério Público Federal, em 2016. Sobrinho presidia o conselho de administração do aeroporto em 2014.
Em documentos que vazaram, Antunes Sobrinho relatou o pagamento de R$ 1 milhão em propina, em 2014, ao coronel João Baptista Lima Filho, apontado como suposto operador do presidente Michel Temer. O repasse teria sido por meio de uma fornecedora do aeroporto, a empresa de mídia Alúmi.
Em setembro deste ano, após esse vazamento, a Alúmi entrou na Justiça contra a empresa que prospectou o contrato com o aeroporto, a EPS Engenharia, sob a alegação de que sua imagem foi prejudicada pelo envolvimento em negócios ilícitos então desconhecidos.
Na ação, a Alúmi narra que, em 2014, ao assinar um contrato para explorar publicidade na área externa do aeroporto, recebeu a indicação de Antunes Sobrinho, por meio da EPS, para subcontratar uma empresa do coronel Lima, que faria o projeto dos painéis publicitários.
Em outubro e novembro de 2014, a Alúmi pagou à empresa, em duas parcelas, R$ 1,16 milhão.
A defesa, porém, desistiu da delação. O caso caiu no esquecimento, até porque um presidente da República não pode ser investigado por supostos crimes cometidos antes do mandato.
OUTRO LADO
Procurada, a Engevix diz desconhecer o relato da Corporación America. A Folha não conseguiu localizar o coronel Lima. A Alúmi informou que a empresa de Lima de fato prestou os serviços de engenharia que justificaram o pagamento e que não recebeu nenhum benefício. A reportagem não conseguiu contato com a EPS.
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