Demissão após festa da firma gera polêmica entre especialistas em RH

Crédito: Robert Galbraith/Reuters A judoca Stefannie Arissa Koyama, que disputará o Mundial de Budapeste pela seleção brasileira
Festa de fim de ano em multinacional levou à demissão do presidente no Brasil

FILIPE OLIVEIRA
DANIELLE BRANT
DE SÃO PAULO

A demissão de três executivos da multinacional americana Salesforce após episódio envolvendo uma fantasia considerada inapropriada na festa de fim de ano da companhia gera controvérsias até entre especialistas em gestão de pessoas.

Para alguns, o corte sumário foi exagerado e a empresa poderia ter adotado punições mais brandas, como suspensão. Outros dizem que a liderança tinha, sim, que ser responsabilizada por representar a imagem da empresa.

No início de dezembro, Daniel Prado, que atuava na área de vendas da Salesforce, foi fantasiado como o meme "Negão do WhatsApp" na festa de fim de ano da empresa.

Uma foto do evento chegou à matriz, que decidiu demitir não só o funcionário mas também Rodrigo Pinto, diretor comercial, e Mauricio Prado, presidente da multinacional no Brasil.

Para Edmarson Barcelar Mota, coordenador de MBA da FGV (Fundação Getulio Vargas), as demissões foram excessivas e a solução poderia ser uma conversa ou suspensão dos envolvidos.

"Não sei se a demissão do presidente é uma coisa correta, porque não necessariamente ele sabia o que tinha acontecido", afirma.

"É muito complicado assumir a culpa pelo comportamento errado de alguém."

Sérgio Margosian, gerente de recursos humanos da consultoria Michal Page, diz que os limites para descontração dos funcionários dependem da cultura da empresa.

Algumas companhias, por exemplo, toleram o consumo de álcool nas festas, enquanto outras não. Para Margosian, o mais importante é que haja alinhamento de expectativas entre funcionários e lideranças antes do evento.

O fato de se tratar de uma multinacional deixa a situação mais complexa, avalia. "A cultura do Brasil é diferente de outros países, aqui temos costumes que, em outros lugares, não existem", diz.

Marcia Vazquez, gestora do capital humano e de operações da Thomas Case & Associados, afirma que a punição aos envolvidos na organização da festa poderia ter sido ainda mais rígida.

"Se fosse uma empresa alemã, teria rolado a cabeça do RH, que fez a premiação, e a de um monte de gente. Estamos num país mais liberal, mas as matrizes levam a sério princípios rígidos", diz.

Ela ressalva, porém, que uma empresa brasileira também teria demitido os três, pelo dano causado à imagem da companhia.

"Não é mera liberalidade. A gente não pode quase nada nas empresas. Colocamos nosso nome e o da empresa em risco. É muito caro ter uma boa marca, e muito fácil perder isso", conclui.

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