Caos financeiro no Rio era inevitável, escreve ex-secretário

Crédito: Ricardo Borges - 9.fev.2017/Folhapress Manifestantes utilizam rojões em confronto com a polícia durante ato contra pacote de ajuste fiscal no Rio, em 2017
Manifestantes utilizam rojões em confronto com a polícia durante ato contra pacote de ajuste fiscal no Rio, em 2017

NICOLA PAMPLONA
DO RIO

Em fevereiro de 2015, o engenheiro Julio Bueno deixou a Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Rio para assumir a Fazenda estadual, pasta que já enxergava os primeiros sinais do caos econômico que o Rio viveria nos anos seguintes.

Ao assumir o cargo, soube que as contas do Estado chegariam ao fim daquele ano com um rombo de R$ 13,5 bilhões, resultado da queda abrupta de receitas provocada pela crise econômica e pela bancarrota da Petrobras.

"Que tragédia, hein?", foi o comentário que fez, logo após sua primeira reunião no cargo, com a jornalista Jacqueline Farid, que levou consigo para assumir a área de comunicação da Fazenda, ainda no estacionamento do edifício onde está baseada a secretaria, no centro do Rio.

Esse é o ponto de partida de "Rio em Transe", livro em que os dois buscam explicar como o Estado chegou a essa situação e como foram definidas as estratégias para tentar enfrentar o caos.

Pouco mais de seis meses após a Copa do Mundo e em meio aos preparativos para a Olimpíada, Bueno assumiu o cargo já com a missão de definir quem deixaria descoberto, situação que se agravou nos anos seguintes, com sucessivos atrasos de salários e de faturas de fornecedores.

Por isso, brincava que era o "capitão do Titanic": não projetou o navio nem colocou o iceberg na rota, mas iria responder pelo naufrágio, que culminou com o acordo de socorro assinado com a União em setembro de 2017.

O livro é dividido em duas partes. Na primeira, Farid conta bastidores da ação do governo e sua relação com outros públicos, como a imprensa, economistas e os servidores estaduais, principais vítimas do processo.

Na segunda, o ex-secretário lança mão de tabelas e gráficos para defender que a crise não poderia ter sido evitada, mesmo que prevista com antecipação, diante da inflexibilidade na gestão do Orçamento estadual, amarrado em salários, aposentadorias e despesas obrigatórias.

Bueno tenta desconstruir visões sobre o impacto dos incentivos fiscais e da dependência do petróleo, criticadas por economistas e pela oposição ao governo estadual, no aprofundamento da crise.

Defende também que a corrupção das lideranças políticas locais não teve impacto no cenário, missão ingrata em um Estado que teve três ex-governadores (Anthony e Rosinha Garotinho e Sérgio Cabral) e dois ex-comandantes do Legislativo (Jorge Picciani e Paulo Melo, ambos do MDB) presos nos últimos anos.

REFORMAS

Em sua conclusão, a obra lança um debate oportuno sobre a necessidade de reforma das Previdências estaduais e da revisão do pacto federativo estabelecido pela Constituição de 1988 –que, para Bueno, desequilibra as relações entre Estados e União.

No Rio, diz ele, a Previdência deve consumir R$ 18 bilhões do Tesouro estadual em 2018, entre a contribuição patronal de R$ 5 bilhões e a cobertura do rombo, de R$ 13 bilhões. Por isso, acredita que o socorro federal não resolve os problemas de longo prazo.

Nem do Rio nem de outros Estados, considerando que 23 unidades da Federação devem fechar as contas de 2017 com deficit previdenciário somado de R$ 87 bilhões. Apenas em São Paulo, o mais rico da Federação, o rombo deve ser de R$ 19 bilhões.

"Se nada for feito, todos quebrarão", conclui o ex-secretário de Fazenda, que deixou o cargo em julho de 2016, pouco depois de o governo estadual decretar calamidade financeira para conseguir recursos da União para garantir os Jogos Olímpicos.

Rio em Transe

  • Preço R$ 40 (248 PÁGS.)
  • Autor JULIO BUENO E JACQUELINE FARID
  • Editora CASA DO ESCRITOR

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