BRUNO BOGHOSSIAN
DE BRASÍLIA

A resistência de Michel Temer até anunciar o afastamento por 15 dias dos dirigentes da Caixa investigados por corrupção e outras irregularidades reforça a lógica de autopreservação política que se tornou marca de seu mandato. O episódio mostra, mais uma vez, que o presidente vai até o limite para tentar blindar o grupo que o mantém no poder.

O Palácio do Planalto recebeu em dezembro, do Ministério Público Federal, a primeira recomendação de afastamento dos vice-presidentes que, segundo os procuradores, participaram de operações suspeitas.

Se atendesse ao pedido, Temer provocaria ira entre os partidos que ajudaram a colocá-lo na cadeira de presidente em troca de cargos na máquina federal. Temer recusou a sugestão dos investigadores e tranquilizou as siglas que fizeram as indicações: PP, PR, PRB e, em especial, seu círculo de aliados do MDB.

As apurações internas da Caixa apontavam que havia risco de ingerência política na administração do banco. Ora, nenhum outro grupo além do círculo íntimo de Temer ocupou com tanto apetite esses espaços, o que reduziu o ímpeto do presidente para começar uma limpeza ali.

Como ocorre desde o início de seu governo, o presidente resiste ao máximo às pressões feitas sobre os atos que têm impacto direto sobre a sustentação de seu governo. Temer, que ficou conhecido por seus recuos, vai até o fim para manter acordos com aliados fiéis e evitar rachaduras em sua coalizão.

Foi assim quando foi atacado pela criação de um ministério para Moreira Franco (Secretaria-Geral da Presidência), quando tentou segurar Geddel Vieira Lima no cargo de articulador político, quando negociou com deputados para escapar das duas denúncias baseadas na delação da JBS, quando aceitou a indicação de Cristiane Brasil para o Ministério do Trabalho e, agora, na Caixa.

Os quatro vice-presidentes do banco sob investigação só foram afastados (por apenas 15 dias) depois que a Folha revelou uma recomendação que saíra do Banco Central –ou seja, de dentro do governo. Temer "recuou" porque o episódio ameaçava gerar uma crise com uma figura forte de sua equipe econômica, a secretária do Tesouro, Ana Paula Vescovi.

Temer tentava resistir a uma "faxina" na Caixa para evitar uma degradação política semelhante à que Dilma Rousseff sofreu depois que demitiu caciques dos partidos de sua base aliada no início de seu primeiro mandato.

Em 2011, a então presidente era movida menos por um desejo de depuração ética e mais pela vontade de afastar desafetos e romper os contratos assinados por essas siglas com seu antecessor e padrinho, Luiz Inácio Lula da Silva. Demitiu da Esplanada dos Ministérios homens-fortes de PP, PR, PDT, MDB e PC do B. Ninguém ficou feliz, o governo vagarosamente perdeu sustentação política e ficou refém do Congresso daí por diante.

Vale destacar, porém, que mesmo Dilma entendeu a necessidade de preservação de seu núcleo mais próximo. Quando, no fim daquele ano, a imprensa começou a investigar as receitas da consultoria de seu amigo Fernando Pimentel (então ministro do Desenvolvimento), a petista decidiu que a faxina havia chegado ao fim.

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