Cunha nega influência sobre Caixa e atribui nomeação a Temer

Crédito: Ueslei Marcelino - 12.mar.2016/Reuters Brazil's Vice President Michel Temer (L) is seen near President of the Chamber of Deputies Eduardo Cunha during the Brazilian Democratic Movement Party (PMDB) national convention in Brasilia, Brazil, March 12, 2016. REUTERS/Ueslei Marcelino ORG XMIT: BSB01
O presidente Michel Temer e o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ)

BRUNO BOGHOSSIAN
DE BRASÍLIA

Em nota escrita no complexo penal onde está preso, no Paraná, o ex-deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) negou que tenha exercido influência sobre a cúpula da Caixa e afirmou que a nomeação de um dos dirigentes afastados do banco coube ao presidente Michel Temer.

Acusado de pressionar Antônio Carlos Ferreira, que até esta terça-feira (16) comandava a área Corporativa do banco, Cunha declarou no texto que não tem "relação", "influência" ou "qualquer relação pessoal" com os quatro vice-presidentes afastados por suspeitas de irregularidades.

O ex-deputado afirmou que Ferreira foi indicado para a vice-presidência Corporativa da Caixa em 2014 "pela então deputada e hoje senadora Rose de Freitas [MDB-ES] diretamente ao então vice-presidente Michel Temer" quando Cunha era líder do PMDB na Câmara.

"Coube a Michel Temer a sua nomeação à época atendendo à hoje senadora", declarou o ex-parlamentar, acrescentando que Ferreira foi indicado para substituir Geddel Vieira Lima no cargo.

Cunha afirmou que esteve com Ferreira apenas duas vezes após sua nomeação para o cargo no comando da Caixa. O ex-deputado diz que o então vice-presidente o procurou "para se pôr à disposição da bancada por orientação de Rose de Freitas".

Ferreira disse em auditoria interna da Caixa que Cunha cobrava dele informações semanais sobre operações do banco superiores a R$ 50 milhões e que procurou Michel Temer para reclamar da pressão do ex-deputado. Segundo o depoimento, Temer afirmou que Ferreira deveria continuar trabalhando e que nada aconteceria com sua posição no banco.

Cunha afirmou que as declarações de Ferreira são falsas e que Temer "jamais relatou qualquer queixa dele". "Se não tive qualquer influência na sua nomeação, qual a razão de ele depender de mim para permanecer?", questionou, na nota.

O Palácio do Planalto declarou que "as nomeações da Caixa Econômica Federal, no referido período, não eram de responsabilidade do então vice-presidente, que não tinha essa atribuição. Ele apenas encaminhou a indicação à Secretaria de Relações Institucionais do governo passado".

A senadora Rose de Freitas informou que a indicação foi feita em nome da bancada do Espírito Santo, que ela coordenava à época. A parlamentar afirmou ainda que Ferreira era superintendente da Caixa em seu Estado havia nove anos.

Em nota, Antônio Carlos Ferreira disse que é servidor efetivo da Caixa, à qual tem prestado serviços "com ética e dedicação" há 35 anos. Ele afirmou que enfrentou com "veemência" as "absurdas exigências" de Cunha assim que foi nomeado.

EX-MINISTRO

No texto escrito na prisão, Cunha afirmou que, "ao que parece", o atual padrinho político de Ferreira "seria o ex-ministro Marcos Pereira", que deixou a pasta da Indústria e Comércio Exterior no início de janeiro.

Ferreira foi citado na delação premiada do dono da JBS, Joesley Batista, como intermediário de propinas ao ex-ministro, presidente nacional do PRB. Os dois negam as acusações.

"É muito fácil nesse momento me atribuir fatos inexistentes visando a encobrir os seus verdadeiros atos de corrupção envolvendo Joesley Batista", escreveu Cunha.

Pereira não quis comentar as afirmações do ex-deputado. Ferreira declarou que sua "única ligação" com o PRB foi "ideológica". "Esse partido apoiou a intensa luta pela implantação de uma cultura profissional e de governança, pautada sempre na honestidade e discrição", sustentou.

Cunha rebateu ainda o pedido feito pelo Ministério Público Federal em Brasília para que ele seja condenado a 387 anos de prisão por cobrança de propina e desvio de recursos da Caixa.

"Não existe qualquer prova, somente palavra de delatores, e o [Ministério Público] mudou a acusação da denúncia original pedindo a condenação por aquilo que não fui processado. Os meus advogados apresentarão as minhas alegações e esse absurdo e midiático pedido não prosperará", anotou.

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