DO "FINANCIAL TIMES"

A economia da China cresceu em 6,9% em 2017, seu maior crescimento em dois anos, a despeito dos esforços bem-sucedidos das autoridades para restringir os riscos financeiros causados por dívidas excessivas.

O crescimento de 6,8% no quarto trimestre propiciou a primeira aceleração no crescimento anual do PIB chinês desde 2010. O resultado anual superou a meta original do governo, de um crescimento de "cerca de 6,5%", e o crescimento de 6,7% em 2016.

As exportações líquidas contribuíram com 0,6% do crescimento total, sua maior contribuição desde 2008, devido ao estímulo que o crescimento da economia mundial propiciou ao comércio.

No começo de 2017, a maioria dos analistas antecipava que as autoridades econômicas agiriam para garantir crescimento sólido no período que antecedeu ao congresso quinquenal do Partido Comunista, realizado em outubro durante o qual o líder Xi Jinping estendeu ainda mais seus poderes.

As autoridades econômicas atingiram esse objetivo e ao mesmo tempo conseguiram promover desaceleração significativa no crescimento do crédito, depois de anos de alertas dos economistas sobre os riscos que estavam se acumulando por causa das medidas agressivas de estímulo ao crédito.

A relação entre o PIB e a dívida da China caiu pela primeira vez vez desde 2011, no primeiro semestre, de acordo com algumas estimativas.

"[Xi] compreende que a China não pode mais recorrer à carta do crescimento alto. Questões como o acúmulo de dívidas e a poluição do ar podem causar inquietação social, se não um colapso financeiro", escreveu Raymond Yeung, economista-chefe do banco ANZ.

O crescimento nominal do PIB –indicador que muitos analistas consideram mais confiável que o avanço ponderado pela inflação, que fica mais sujeito a influências políticas– foi de 11,2%, ante 8% em 2016, após a recuperação no preço das commodities, que acelerou a inflação.

A China agiu para reduzir sua capacidade excedente de produção em setores como o carvão, siderurgia e alumínio, no ano passado, o que ajudou a elevar os preços.

ANO DIFÍCIL

Mas analistas advertem que neste ano será mais difícil encontrar um equilíbrio entre reduzir dívidas e promover crescimento, dada a desaceleração no mercado de imóveis e os controles mais rígidos sobre os gastos dos governos locais com projetos de infraestrutura, que devem causar arrasto na economia.

Eles apontam também que o impacto remanescente do forte crescimento do crédito em 2016 continuou a estimular a expansão no ano passado, enquanto a compressão de crédito adotada em 2017 terá o efeito oposto neste ano.

Se o crescimento mostrar sinais de forte desaceleração, as autoridades enfrentarão pressões para abrandar sua campanha pela redução da carga de dívida, como aconteceu repetidamente vezes no passado.

"A demanda interna deve se reduzir [em 2018], com o aperto da política financeira, mas as autoridades econômicas chinesas desejam que a desaceleração do crédito e da economia seja gradual", escreveu Louis Kuijs, diretor da consultoria Oxford Economics, em Hong Hong. Ele prevê crescimento de 6,4% para o PIB chinês neste ano.

Um grande tema do discurso no qual Xi ditou a agenda nacional, no congresso de outubro de 2017, foi o início de uma "nova era" na qual a China priorizaria avanços na qualidade, e não na quantidade –o que inclui maior atenção à proteção ambiental.

BRASIL

A aceleração do crescimento chinês foi sentida no Brasil, especialmente nas exportações. Com o aumento de 35% nas vendas brasileiras para o país asiático, o mercado chinês respondeu por 21,8% das exportações nacionais no ano passado, ante 19% em 2016, puxadas principalmente pela soja.

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