Apenas 37,8% das empresas brasileiras chegam a completar cinco anos, segundo estudo divulgado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em outubro de 2017.
Os empreendedores que conseguiram quebrar essa barreira relatam que foi preciso mais do que resistência às mudanças no mercado e na economia, foi necessário saber se reinventar.
Há 80 anos, quando os primos alemães Alfredo e Bernardo Strauss inauguraram a AB Uniformes, em São Paulo, a grande demanda era por macacões para operários.
Em 1966, a segunda geração da família decidiu focar no varejo e abriu uma loja de uniformes para empregados domésticos no recém-inaugurado shopping Iguatemi.
Hoje, com oito lojas na Grande São Paulo, a empresa tem cara nova outra vez. O economista Gustavo Viscardi, 36, que adquiriu a AB em 2014, enxergou na gastronomia o potencial para crescer.
O carro-chefe da AB passou a ser os dólmãs, jalecos que os chefs de cozinha usam –uma peça feminina custa até R$ 210.
"Como os chefs estavam ficando famosos, chamamos profissionais para conversar e entender as suas demandas. Criamos dólmãs resistentes a chamas e com tecnologia dry-fit, que afasta o suor da pele", explica Viscardi, que fabrica 15 mil peças por mês.
Os figurinos da AB estão hoje nos participantes dos realities de gastronomia como o "MasterChef", da Band, e "The Taste Brasil" e "Cozinheiros em Ação", exibidos pelo canal pago GNT.
Estar atento às transformações do mercado é a principal receita para a empresa não ficar obsoleta, afirma Fábio Costa de Souza, consultor do Sebrae-SP.
"O empreendedor que só presta atenção à parte operacional e perde de vista a estratégia a longo prazo não consegue resistir", diz.
Nem sempre assumir um negócio com longa história é fácil. Em 2013, os irmãos Juliano e Bruno Mendes, de 43 e 39 anos respectivamente, decidiram comprar a Laticínios Pomerode, pequena fábrica de queijos fundidos inaugurada há 70 anos na cidade de Pomerode (SC).
"A marca ficou estacionada por tanto tempo, sem qualquer inovação, que a recepção das redes de varejo foi hostil", conta Juliano.
Os irmãos investiram R$ 500 mil para revigorar o departamento comercial da empresa, inaugurar uma loja de fábrica em Pomerode, lançar uma linha de queijos finos e mudar o visual do queijo em bisnaga Kraeuterkaese, o produto mais característico da marca catarinense.
Já a receita da bisnaga de queijo temperada com erva é a mesma desde a fundação. "Caprichar na divulgação da nossa história pelas mídias sociais tem nos ajudado a conquistar novos públicos. Acabamos de lançar embalagens de 1,1 kg para os restaurantes", explica.
Em quatro anos, a produção de queijos foi de uma para dez toneladas por mês. A linha Kraeuterkaese responde por 21% do faturamento.
À FRENTE
Para se manter relevante, não basta seguir as tendências do mercado -é preciso se adiantar a elas.
Em 2003, a queda no preço do café no mercado internacional levou o cafeicultor paulista Marco Suplicy, 57, a encontrar novas fontes de receita para os grãos.
Ele inaugurou a Suplicy Cafés Especiais no Jardim Paulista, em São Paulo, em que os clientes podiam escolher entre diversas opções de grãos e métodos de extração.
Nos anos seguintes, a cafeteria virou rede com duas lojas próprias e 14 franquias, em São Paulo, Rio de Janeiro, Manaus e Brasília.
Mas o mercado mudou - e rapidamente. Em pouco tempo, Suplicy se viu rodeado de concorrentes de peso, como a rede Starbucks.
Em 2016, o empresário abriu as portas para dois novos sócios: Bruna Caselato, 35, e Felipe Braga, 28. A dupla trouxe um novo foco para a rede: abrir unidades dentro de empresas.
"Já tínhamos algumas parcerias, como a do Banco de Tokyo, que completou oito anos. Mas era um braço passivo do negócio. Hoje, temos um produto formatado para oferecer", conta Caselato.
Hoje a lista inclui empresas como a Apple e a Linkedin, além do novo centro cultural Farol Santander, no centro de São Paulo.
Nesse modelo, a Suplicy fica responsável pela instalação e pela operação da cafeteria. O espaço é cedido pelo cliente, que também paga pelo café oferecido gratuitamente a visitantes e funcionários. Os demais produtos são vendidos normalmente.
O faturamento cresceu 55% nos últimos dois anos e a meta é chegar a R$ 100 milhões até 2021, diz Caselato.
Para a bailarina e empresária Tati Sanchis, 46, o segredo da longevidade está na boa formação.
Ela fundou a Casa da Dança em 2000, com uma única sala de aula e 40 alunos. Em 2014, inaugurou a terceira unidade em São Paulo e reunia 700 matriculados. Cada um paga, em média, R$ 250 por duas aulas semanais.
Quando a crise se instalou, a partir de 2015, a empreendedora percebeu que teria de aprimorar seus métodos. Foi estudar administração na Fundação Getulio Vargas.
"Nunca tinha estudado gestão e sempre agi pela intuição, mas as aulas mudaram minha visão administrativa", conta a bailarina.
Uma das unidades está sendo transformada em espaço colaborativo, com salas que podem ser alugadas por professores de dança e empresas que queiram realizar dinâmicas para clientes e funcionários.
"É um modelo que tem feito sucesso em Nova York e tem tudo para pegar aqui também", diz Sanchis.
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