Redução de imposto nos EUA vai impulsionar o PIB global, aponta FMI

Crédito: Yin Bogu/Xinhua FMI manifestou confiança de que Christine Lagarde pode continuar à frente da instituição
Christine Lagarde, diretora do FMI

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS (SUÍÇA)

O FMI está otimista com a economia mundial. No novo World Economic Outlook, lançado nesta segunda (22) em Davos, o Fundo Monetário Internacional revisou em 0,2 ponto percentual para cima suas expectativas de crescimento em 2018 e 2019 e prevê avanço de 3,9% nos dois anos, impulsionado sobretudo pela reforma tributária nos EUA.

Para 2017, a projeção é de crescimento global de 3,7%.

Essa melhora, porém, não dissipa riscos de médio prazo, como a implementação da própria reforma americana (ante a queda de braço entre Congresso e Casa Branca) e eleições-chave previstas em economias de peso como Brasil, México e Itália, cujos resultados podem desviar a rota das reformas que o FMI recomenda.

A diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, alertou ao apresentar o relatório em Davos para o fato de que 1/5 dos países emergentes e em desenvolvimento experimentaram um encolhimento de sua renda per capita em 2017: "Muita gente ainda está fora da recuperação".

Além dos EUA, que devem crescer 2,7% neste ano e 2,5% no próximo (0,4 ponto e 0,6, respectivamente, acima da projeção anterior), segundo o fundo, também as economias europeias e asiáticas começam a ganhar fôlego após os anos de avanço modesto que se seguiram à crise global de 2008-2010.

Já para os mercados emergentes as projeções foram mantidas em crescimento de 4,9% neste ano e 5% em 2019, puxado pelas maiores economias do bloco, a China (que avançará 6,6% e 6,4%, segundo o fundo, 0,1 ponto acima da projeção anterior) e a Índia, que saltará 7,4% e 7,8%, respectivamente.

O cenário para a América Latina, que passará por uma série de trocas de governo no ano, está fortemente atrelado às urnas, ressalva o FMI. Para este ano a previsão de crescimento de 1,9% na região foi mantida, e para 2019 houve elevação de 0,2 ponto, para 2,6%.

BRASIL

O Brasil, ainda assim, teve suas perspectivas de crescimento melhoradas pelo FMI, em 0,4 ponto neste ano (quando é esperado crescimento de 1,9%) e 0,1 ponto no próximo, quando muda o governo e o país deve avançar 2,1%, afirma o FMI no relatório.

Apesar do recente rebaixamento da avaliação do país pela agência de classificação de risco Standard & Poor's, o FMI ampara seus cálculos em um avanço acima do esperado no último trimestre e na perspectiva "mais firme", diz, de implementação das reformas —embora o pacote que esteja em discussão fique aquém dos planos iniciais do governo Temer.

Apesar da melhora, o crescimento da economia brasileira deve ser mais modesto do que o da mexicana, que também passará por eleições neste ano (em julho). O FMI espera que a economia do país cresça 2,3% e 3% neste ano e em 2019, respectivamente, 0,4 ponto e 0,7 ponto acima do projetado antes.

Diferentemente do caso do Brasil, contudo, o relatório atribui a melhor performance não ao cenário interno, mas ao fortalecimento da demanda nos EUA, com a qual a economia mexicana é simbioticamente ligada. Isso pode mudar, entretanto, caso o presidente americano, Donald Trump, leve adiante sua ameaça de revisar o Nafta, o acordo de livre-comércio que une seu país a México e Canadá.

Para o FMI, o risco de uma deterioração da economia venezuelana, contaminada por uma tripla crise política, financeira e humanitária, é mitigado pela melhora da performance nos países vizinhos e de uma ligeira melhora nos preços das commodities, motor da região.

SOMBRA

A expectativa de que os cortes de impostos prometidos nos EUA para os próximos anos dê impulso ao consumo terá, segundo o relatório, impacto não apenas na produção dos EUA e de outros grandes exportadores (China, Alemanha), mas também no comércio global, que deve avançar 4,6% e 4,4% em 2018 e 2019, respectivamente 0,6 e 0,5 ponto acima do projetado antes, em termos de volume.

Apesar do otimismo, o FMI não foge à sua cartilha e exorta os governos a aproveitarem o ciclo de fortalecimento das economias para promoverem reformas e ajustes que o sustentem, já que a partir de 2022 a reforma tributária dos EUA elevará os impostos de parte das famílias de classe média, o que deve afetar o consumo e, possivelmente, a demanda global.

Além disso, uma eventual correção de preços de ativos e a possibilidade de maior inflação nas economias desenvolvidas, puxando uma alta de juros, podem pesar contra o consumo e o crescimento a médio prazo.

A falta de perspectiva para uma solução dos conflitos e de outros problemas geopolíticos no Oriente Médio, onde guerras na Síria e no Iêmen se arrastam desde a primeira metade da década e envolvem por tabela os países vizinhos, também pode afetar os prognósticos.

Por ora, o FMI elevou sua projeção para os preços do petróleo no ano em 11,9 pontos percentuais, para 11,7%, e reduziu, para 2019, em cinco pontos, para uma contração de 4,3%.

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