MARIA CRISTINA FRIAS
LUCIANA COELHO
ENVIADAS ESPECIAIS A DAVOS (SUÍÇA)

O presidente Michel Temer vendeu reformas em seu discurso na plenária da reunião anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos, e os empresários estrangeiros compraram —ao menos por ora.

O tom dos participantes de eventos com Temer e outras autoridades brasileiras foi de otimismo e confiança de que o pior ficou para trás, mas também de certa urgência em relação à reforma da Previdência, que ainda patina, diante das eleições presidenciais em outubro.

"Os investidores estão olhando as reformas em curso no Brasil. Tudo que for reforma para garantir a sustentabilidade das finanças públicas, tudo isso é bom para o investimento e para a confiança", disse o ex-presidente da Comissão Europeia e agora presidente do banco de investimentos global Goldman Sachs, José Manuel Durão Barroso, a jornalistas em Davos após reunir-se com Temer.

"O ritmo dessas reformas e a extensão delas compete ao sistema democrático brasileiro decidir. Eu gostaria que acontecessem agora, porque, vamos ser honestos, é um ano de eleição, e, como ex-primeiro-ministro e ex-líder da oposição [em Portugal], eu sei que em anos de eleição há a tentação de adiar as coisas, e quem perde é a economia."

Durão Barroso presidiu a Comissão Europeia, o órgão executivo da União Europeia, de 2004 a 2014, antes de passar para a iniciativa privada, em 2016.

Já o presidente-executivo da Shell, Ben van Beurden, saiu de seu encontro com Temer otimista, afirmando que havia "agradecido" ao presidente pela condução das reformas e que espera que elas sejam completadas logo.

O Brasil é um dos mercados mais importantes para a petroleira, que em abril completa 105 anos no país —diagnóstico semelhante foi feito pelo presidente-executivo da Coca-Cola, James Quincey.

Van Beurden disse não ver risco de maiores turbulências do mercado financeiro em relação ao Brasil, mesmo com as eleições presidenciais deste ano, alegando que o país tem fundamentos econômicos sólidos e que a transição de governo não deve ser um problema.

"Não comentamos [na Shell] a política do país. Mas eu gostaria muito que houvesse continuidade econômica, e da regulamentação na nossa indústria", afirmou em Davos. Ele também elogiou as mudanças na regulamentação do setor, afirmando que elas o tornam mais estável.

O Brasil foi tema de um painel estratégico na manhã desta quarta (24), do qual participaram os ministros Henrique Meirelles (Fazenda), Fernando Coelho Filho (Minas e Energia) e Blairo Maggi (Agricultura), além do presidente da Petrobras, Pedro Parente, e o da Apex, a agência brasileira para exportação, Roberto Jaguaribe.

Todos aproveitaram o evento para relatar seus feitos na gestão Temer.

A plateia para ouvir os ministros e presidentes de estatais lotou de empresários e economistas.

A mediação foi do empresário Carlos Ghosn, presidente de Renault e Nissan, que abriu as perguntas, questionando Meirelles sobre os planos de longo prazo do governo.

"Tudo o que foi feito é muito bom, mas, falando como um investidor de longo prazo, é importante saber também sobre dois temas: educação e infraestrutura." O ministro respondeu com a reforma aprovada do ensino médio e lista projetos de privatização, "que progrediram muito", segundo ele.

"Com a reforma da Previdência, a ideia é cortar nesse ponto e abrir caminho para investir em ferrovias, estradas, portos e energia."

Abertas as manifestações da plateia, o espanhol Ignacio Galán Sanchez, presidente mundial da Iberdrola, que controla a Neoenergia no Brasil, cumprimentou a delegação brasileira pela fala e pela atuação do presidente Michel Temer feito na plenária do fórum, pouco antes, e progressos em seu setor.

"Quando a crise chega, a tendência de políticos no poder é mudar as regras [para ter ganhos no curto-prazo]. Isso não foi o que aconteceu no Brasil", emendou.

O discurso foi bem recebido por brasileiros também.

"Foi bastante adequado ao momento do Brasil, ao relatar o que ocorreu nos últimos 18 meses. Do ponto de vista macroeconômico, o país deu um salto. Nunca tivemos a estabilidade financeira que há muito tempo não tínhamos", disse Maurício Minas, vice-presidente do Bradesco.

"Acredito que a participação do presidente Michel Temer em Davos é importante para fortalecer a credibilidade do Brasil. O discurso do presidente apresenta para a comunidade internacional o esforço que toda a sociedade brasileira vem fazendo em busca da retomada da economia", disse Claudia Sander, da Latam. "Além disso, trouxe uma mensagem de estabilidade, muito relevante neste momento em que nos preparamos para a eleição presidencial."

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