Macri elogia reformas e pede continuidade da Lava Jato

Crédito: Laurent Gillieron/Keystone/Associated Press
O presidente da Argentina, Mauricio Macri, discursa no Fórum Econômico Mundial, em Davos

LUCIANA COELHO
ENVIADA ESPECIAL A DAVOS (SUÍÇA)

O presidente da Argentina, Mauricio Macri, disse à Folha nesta quinta (25) ver com bons olhos as reformas no Brasil, pede que elas sejam mantidas pelo próximo presidente, afirma que a Argentina precisa de um sócio forte no Brasil e disse esperar que as investigações da Lava Jato continuem —a Argentina também investiga o esquema de corrupção da Odebrecht no país.

"Vejo bem as reformas no Brasil, tudo que dá fôlego a nossos sócios ajuda a nós [na Argentina]. Tenho defendido firmemente um Mercosul forte, e como já disse muitas vezes, me sinto em parte brasileiro", disse Macri à Folha após discursar na plenária do 48º encontro anual do Fórum Econômico Mundial, em Davos.

Indagado se se preocupa com uma mudança de rumo no país após as eleições de outubro, afirmou esperar que haja continuidade e alfinetou sua antecessora, Cristina Kirchner (2007-2015), que em oito anos no governo praticamente tirou o país do mapa dos fóruns e investimentos internacionais.

"Espero que não [haja mudança na condução de reformas], espero que quem ganhe a eleição reafirme seu compromisso com o Mercosul e com o Mercosul no mundo, porque como disse há pouco, temos sido a região mais fechada do mundo, e isso não traz resultado positivo para nossa população. Reduzimos pouco ou nada da pobreza."

O presidente da Argentina também exortou a continuidade das investigações da Lava Jato, que já atingem mais de 30 países, sendo a Argentina um dos principais.

"Que continuem, pedimos que a Justiça brasileira siga investigando, e que saibamos a verdade, quem são os que receberam na Argentina pelas obras da Odebrecht", declarou à Folha.

A empreiteira brasileira é investigada no país por nove obras em que é suspeita de ter pago propina para obter contratos superfaturados, incluindo a de um gasoduto e de uma linha ferroviária, após delações premiadas no Brasil indicarem a prática (a Odebrecht afirma que cabe a suas subcontratadas dar informações sobre o caso e nega ter havido ágio).

Esta é a terceira participação de Macri em Davos —a primeira, em 2016, se deu pouco mais de um mês após assumir a Presidência, como sinal de afirmação de sua agenda liberal globalista. Ele falou, porém, para um salão apenas parcialmente ocupado, com menos público até que o brasileiro Michel Temer.

Em seu discurso sucinto no Fórum, Macri enumerou dados da economia, ofereceu a investidores a oportunidade de investir em turismo e mineração no país, citando inclusive a exploração de gás natural no campo de Vaca Morta, na Patagônia, que encontra resistência de ambientalistas e ativistas indígenas que defendem a população mapuche na região.

Ele, que mais tarde daria entrevista coletiva à imprensa estrangeira, também se mostrou otimista quanto a um acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, prometendo abordar o assunto com o presidente da França, Emmanuel Macron, que encontra nesta sexta (26). "Dizem que o entrave é agricultura, e isso aponta para a França", afirmou na plenária. "Espero voltar com boas notícias.'

Questionado sobre a crise na Venezuela, o presidente argentino disse não estar otimista. "As coisas vão de mal a pior", afirmou Macri. "Não estou otimista. Tenho pedido nos últimos anos eleições abertas e livres, mas a Venezuela não respeita os direitos humanos, não é uma democracia."

Erramos: o texto foi alterado
Diferentemente do informado anteriormente, a primeira ida de Mauricio Macri a Davos foi em 2016, não em 2017.

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