IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO

Para a fabricante de aviões Embraer, a vitória da canadense Bombardier numa disputa contra a americana Boeing nos EUA confirma que sua concorrente no mercado de aviões regionais recebeu subsídios ilegais do governo de Ottawa.

Na sexta (23), a agência americana que regula relações comerciais internacionais no país desautorizou o governo Donald Trump de taxar em 292% a importação de aviões da linha CSeries, concorrente direto da nova família de jatos regionais da Embraer, a E2.

O governo dos EUA atendia a uma queixa da Boeing, que apontava um baixo preço artificial nos modelos devido ao subsídio maciço que o governo canadense deu à empresa -ele chegou a ser sócio da linha de produção. A Boeing dizia que um dos modelos da canadense competiria diretamente com uma nova versão menor do Boeing-737.

A agência americana desconsiderou a existência de competição e permitiu a venda da CSeries sem sobretaxa nos EUA. "É importante destacar que o Departamento de Comércio [que havia criado a taxa em dezembro] provou que o governo canadense subsidiou a Bombardier e a CSeries pesadamente e ilegalmente, permitindo a companhia a sobreviver e a oferecer seus aviões a preços artificialmente baixos", diz a Embraer.

Para a empresa brasileira, "essa violação de regras da Organização Mundial do Comércio distorceu toda a indústria da aviação e está prejudicando milhares de empregos no Brasil e nos diversos países em que a Embraer mantém atividades industriais".

A Embraer vem ganhando, ao longo dos anos, as diversas disputas comerciais com a Bombardier no âmbito da OMC. No ano passado, o Itamaraty pediu e a OMC abriu um painel de consultas sobre os subsídios à CSeries, estimados em US$ 3 bilhões dos US$ 6 bilhões que o programa custou ao longo de uma década.

Os EUA apoiam o Brasil no caso. Em outubro, a rival europeia da Boeing, Airbus, comprou o controle da CSeries e enfim adquiriu um avião regional à sua linha, algo que os americanos não têm. Esse foi um dos motivos que levou à proposta de compra da Embraer pela Boeing, que enfrenta diversas barreiras regulatórias por parte do governo brasileiro. A Boeing não tem um avião desse tipo, e a Embraer tem. E a Embraer não tem o peso e a estrutura de vendas da Airbus para enfrentar a CSeries, logo a associação com a Boeing seria lógica.

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