Após proposta da Comcast, Sky retira recomendação por oferta da Fox

Companhia que lançou TV paga no Reino Unido foi avaliada em R$ 98 bilhões

Sede da Sky em Isleworth, em Londres
Sede da Sky em Isleworth, em Londres - AFP
 
Matthew Garrahan
Londres | Financial Times

A Sky retirou sua recomendação favorável a uma oferta da 21st Century Fox, de Rupert Murdoch, para sua aquisição, depois que a Comcast apresentou proposta formal de aquisição ao valor de 12,50 libras por ação, o que representa avaliação de 22 bilhões de libras (R$ 98 bilhões) para a companhia pan-europeia de mídia.

A Sky lançou a era da TV paga no Reino Unido, quando foi criada por  Murdoch em 1989, mas se tornou presa em uma disputa mundial de poder na mídia entre a operadora de TV a cabo americana Comcast e a Fox. E a Disney, maior companhia mundial de mídia, que fechou acordo com a Fox no ano passado para adquirir a maior parte de seus ativos de entretenimento - o que inclui uma participação de 39% na Sky -, por US$ 66 bilhões (R$ 230 bilhões), está à espreita nos bastidores.

As esperanças de Murdoch de adquirir as ações da Sky que ainda não estão sob o controle da Fox sofreram um abalo quando o comitê independente que a empresa formou para estudar a oferta -em valor de 10,75 libras por ação- retirou sua recomendação favorável à transação. O comitê também cancelou o "acordo de cooperação" que existia entre a Fox e a Sky, o que significa que a primeira já não tem a obrigação de pagar uma multa de 200 milhões de libras caso sua proposta seja retirada.

A Fox afirmou em comunicado que continua "firme" em sua oferta pela Sky, e acrescentou que estava "considerando suas opções".

Brian Roberts, presidente-executivo da Comcast, disse que a oferta da companhia representava "ágio significativo" com relação à proposta da Fox, e apontou para as "oportunidades de crescimento que a combinação de nossos negócios criaria".

A Comcast controla o grupo de mídia NBC Universal, cujos ativos incluem a rede de TV americana NBC e o estúdio de cinema Universal. 

INOVAÇÕES

As ações da companhia caíram acentuadamente quando ela anunciou sua proposta para adquirir a Sky, em fevereiro, em parte por medo de que o setor de TV via satélite esteja diante de desafios únicos.

Mas Roberts afirmou em entrevista coletiva por telefone que a Sky havia sido caracterizada indevidamente como "companhia de TV via satélite", e enfatizou seu histórico de inovações tecnológicas e seus investimentos em programação internacional. "A Sky é uma companhia que opera em múltiplos países", ele disse. "Seu mapa de rota se enquadra muito bem ao da Comcast".

MÍDIA

A oferta da Fox pela Sky, apresentada inicialmente em dezembro de 2016, foi alvo de escrutínio pelas autoridades regulatórias britânicas. A Autoridade de Competição e Mercados (CMA) é a mais recente agência a investigar o acordo, e pessoas informadas sobre o assunto dizem que ela informou em caráter privado a executivos da Fox que não estava inclinada a recomendar que o secretário da cultura britânico, Matt Hancock, aprove a transação, ao menos não sem salvaguardas adicionais para garantir a independência editorial do canal de notícias Sky News.

Isso se deve a preocupações quanto à influência de Murdoch sobre o mercado de mídia britânica, por meio da News UK, antiga News Corp, que controla jornais como The Times e The Sun.

A Fox propôs medidas para responder às preocupações da CMA -entre as quais o compromisso de vender a Sky News à Disney. A CMA deve dizer a Hancock até o dia 1º de maio se as soluções oferecidas pela Fox bastam para atender às preocupações de interesse público quanto ao impacto da transação sobre a pluralidade da mídia.

A Comcast também tentou minimizar as preocupações quanto ao efeito de sua aquisição da Sky sobre a pluralidade da mídia, assumindo o compromisso de manter o investimento na Sky News e preservar sua independência editorial. A empresa afirmou na terça-feira (24) que assumiria "um compromisso mandatório pós-oferta" de não adquirir interesses majoritários em qualquer jornal britânico pelos cinco anos subsequentes.

"A Sky será nossa plataforma para crescimento na Europa", disse Roberts. "A base combinada de cerca de 52 milhões de assinantes permitirá que invistamos mais em programação original e adquirida, e em inovação".

A empresa antecipa que a aquisição da Sky gere sinergias anuais de cerca de US$ 500 milhões, por uma combinação de benefícios de receita e cortes de custos recorrentes, e acrescentou que antecipava "impacto limitado sobre o número de empregados", como resultado do acordo. 

As ações da Sky mostravam alta de 3,3%, no começo da tarde.,

A Comcast havia feito uma oferta inicial pelos ativos de entretenimento da Fox - entre os quais a participação na Sky - que Murdoch mais tarde aceitou vender à Disney. Seu interesse pela Sky é visto por alguns como esforço para prejudicar os planos de Murdoch de vender ativos à Disney -importante concorrente da Comcast nos Estados Unidos.

Mas ao apresentar uma oferta formal, a Comcast sinalizou que está falando sério sobre adquirir a Sky, disseram analistas. "Isso já não pode ser visto como parte de uma jogada maior da Comcast para perturbar a venda dos ativos da Fox à Disney, com o objetivo de adquirir certos ativos da Fox", disse Ian Whittaker, analista do banco de investimento Liberum.

Tradução de PAULO MIGLIACCI

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