Nos corredores do poder dos EUA encontrar um homem chamado John pode ser tão fácil quanto encontrar uma mulher.
Entre os senadores republicanos, há menos mulheres do que Johns - ainda que homens chamados John respondam por apenas 3,3% da população dos Estados Unidos, enquanto as mulheres respondem por 50,8%. Entre os governadores democratas, há mais homens chamados John do que mulheres. E entre os diretores dos 100 filmes de maior bilheteria no ano passado, há menos mulheres do que homens chamados Michael e James, combinados.
Essas comparações vêm da versão expandida e atualizada do Glass Ceiling Index [índice teto de vidro], uma contagem conduzida pelo jornal The New York Times sobre os homens e mulheres que exercem papéis importantes de liderança na vida americana - em campos como a política, o direito, a tecnologia, as universidades e a mídia.
Do grupo de líderes que examinamos, a menor presença de mulheres ocorre entre os presidentes-executivos de empresas e os diretores dos filmes de maior faturamento no ano passado. Logo abaixo vêm a liderança republicana na Câmara dos Deputados e o setor de capital para empreendimentos, seguidos por grupos de políticos de ambos os partidos: senadores e governadores republicanos, e governadores democratas.
Entre os 24 mais recentes ganhadores da "bolsa gênio" da Fundação MacArthur, nove eram mulheres, e não havia nenhum homem chamado John. O grupo, selecionado por um comitê com base em sua criatividade, diversidade de pensamento e "promessa de futuros avanços", apresenta mais diversidade do que outros grupos sob diversos critérios, o que é refletido tanto por sua composição de gênero quanto pelos nomes dos homens selecionados. A única categoria examinada em que mais de metade dos líderes eram mulheres - cerca de 52% - foi entre os editores das 50 maiores revistas dos Estados Unidos pelo critério de circulação. Isso talvez aconteça porque muitas das revistas mais populares são sobre moda e estilo de vida, e se dirigem a um público feminino.
Nosso índice foi inspirado por um relatório publicado em 2015 pela Ernst & Young, segundo o qual mulheres ocupavam 16% dos assentos nos conselhos de companhias que fazem parte do índice S&P 1500, o que representa proporção menor do que os assentos detidos por homens chamados John, Robert, James e William. O número em questão melhorou um pouco: hoje, 19% dos assentos em conselhos são ocupados por mulheres, de acordo com números atualizados da Ernst & Young. (A empresa de consultoria e auditoria não atualizou sua contagem sobre membros de conselhos com prenomes específicos.)
O primeiro Glass Ceiling Index foi publicado pelo The New York Times três anos atrás. O economista Justin Wolfers, colaborador do jornal, estudou as diversas categorias e calculou a proporção entre mulheres e homens que tivessem quatro dos prenomes masculinos mais comuns. De lá para cá, a proporção de mulheres nos principais postos não melhorou muito.
Desta vez, estudamos a questão de modo um pouco diferente. Quantos nomes masculinos, começando pelos prenomes mais comuns em cada grupo, seriam necessários para superar a presença total feminina? Em alguns casos - por exemplo os senadores republicanos, governadores democratas ou presidentes-executivos de empresas do ranking Fortune 500 -, bastam os homens chamados John para chegar à paridade com o total de mulheres, ou perto disso. Em diversas outras instituições, dois prenomes masculinos bastaram para superar o total de mulheres.
Nossas listas de nomes vêm de diferentes organizações. A maior parte delas está atualizada, mas em algumas os dados foram recolhidos já há algum tempo.
As mulheres obtêm mais diplomas universitários que os homens, e têm presença cada vez maior em ocupações no passado dominadas pelos homens, mas seu avanço a posições de poder se desacelerou ou estacou. Existem muitas razões para isso, dizem pesquisadores. A probabilidade de que mulheres se afastem de suas carreiras por algum tempo para criar filhos é maior. Os homens que estão no topo costumam orientar e promover pessoas semelhantes a eles.
As mulheres também têm de enfrentar padrões dúplices: as pessoas que estão no poder precisam ser assertivas e ambiciosas, mas mulheres que agem assim são frequentemente criticadas.
Um dos principais motivos para que o número de mulheres em posições importantes seja tão baixo é a discriminação, apontam diversos estudos.
O Glass Ceiling Index poderia mudar se mais mulheres passarem a ocupar postos executivos - mas muitos desses obstáculos persistiram apesar da presença de mulheres mais que qualificadas para fazer o trabalho requerido. O mais provável é que vejamos primeiro uma mudança nos nomes dos homens que estão no controle - menos Johns e Roberts, mais Liams e Noahs.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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