Descrição de chapéu machismo

Há menos mulheres que homens chamados John em postos importantes nos EUA

Índice do New York Times compara presença de homens e mulheres em papéis de liderança nos EUA

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Oficina de Lambe-Lambe para mulheres, na Avenida Paulista, em São Paulo - Jéssica Mangaba-7.mai.2016/Folhapress
The New York Times

Nos corredores do poder dos EUA encontrar um homem chamado John pode ser tão fácil quanto encontrar uma mulher.

Entre os senadores republicanos, há menos mulheres do que Johns - ainda que homens chamados John respondam por apenas 3,3% da população dos Estados Unidos, enquanto as mulheres respondem por 50,8%. Entre os governadores democratas, há mais homens chamados John do que mulheres. E entre os diretores dos 100 filmes de maior bilheteria no ano passado, há menos mulheres do que homens chamados Michael e James, combinados.

Essas comparações vêm da versão expandida e atualizada do Glass Ceiling Index [índice teto de vidro], uma contagem conduzida pelo jornal The New York Times sobre os homens e mulheres que exercem papéis importantes de liderança na vida americana - em campos como a política, o direito, a tecnologia, as universidades e a mídia.

Do grupo de líderes que examinamos, a menor presença de mulheres ocorre entre os presidentes-executivos de empresas e os diretores dos filmes de maior faturamento no ano passado. Logo abaixo vêm a liderança republicana na Câmara dos Deputados e o setor de capital para empreendimentos, seguidos por grupos de políticos de ambos os partidos: senadores e governadores republicanos, e governadores democratas.

Entre os 24 mais recentes ganhadores da "bolsa gênio" da Fundação MacArthur, nove eram mulheres, e não havia nenhum homem chamado John. O grupo, selecionado por um comitê com base em sua criatividade, diversidade de pensamento e "promessa de futuros avanços", apresenta mais diversidade do que outros grupos sob diversos critérios, o que é refletido tanto por sua composição de gênero quanto pelos nomes dos homens selecionados. A única categoria examinada em que mais de metade dos líderes eram mulheres - cerca de 52% - foi entre os editores das 50 maiores revistas dos Estados Unidos pelo critério de circulação. Isso talvez aconteça porque muitas das revistas mais populares são sobre moda e estilo de vida, e se dirigem a um público feminino.

Nosso índice foi inspirado por um relatório publicado em 2015 pela Ernst & Young, segundo o qual mulheres ocupavam 16% dos assentos nos conselhos de companhias que fazem parte do índice S&P 1500, o que representa proporção menor do que os assentos detidos por homens chamados John, Robert, James e William. O número em questão melhorou um pouco: hoje, 19% dos assentos em conselhos são ocupados por mulheres, de acordo com números atualizados da Ernst & Young. (A empresa de consultoria e auditoria não atualizou sua contagem sobre membros de conselhos com prenomes específicos.)

O primeiro Glass Ceiling Index foi publicado pelo The New York Times três anos atrás. O economista Justin Wolfers, colaborador do jornal, estudou as diversas categorias e calculou a proporção entre mulheres e homens que tivessem quatro dos prenomes masculinos mais comuns. De lá para cá, a proporção de mulheres nos principais postos não melhorou muito.

Desta vez, estudamos a questão de modo um pouco diferente. Quantos nomes masculinos, começando pelos prenomes mais comuns em cada grupo, seriam necessários para superar a presença total feminina? Em alguns casos - por exemplo os senadores republicanos, governadores democratas ou presidentes-executivos de empresas do ranking Fortune 500 -, bastam os homens chamados John para chegar à paridade com o total de mulheres, ou perto disso. Em diversas outras instituições, dois prenomes masculinos bastaram para superar o total de mulheres.

Nossas listas de nomes vêm de diferentes organizações. A maior parte delas está atualizada, mas em algumas os dados foram recolhidos já há algum tempo.

A prevalência de homens com determinados prenomes no poder é reveladora não só da distorção na representação de gênero mas do predomínio branco na maioria das instituições políticas, culturais e educacionais americanas.

As mulheres obtêm mais diplomas universitários que os homens, e têm presença cada vez maior em ocupações no passado dominadas pelos homens, mas seu avanço a posições de poder se desacelerou ou estacou. Existem muitas razões para isso, dizem pesquisadores. A probabilidade de que mulheres se afastem de suas carreiras por algum tempo para criar filhos é maior. Os homens que estão no topo costumam orientar e promover pessoas semelhantes a eles.

As mulheres também têm de enfrentar padrões dúplices: as pessoas que estão no poder precisam ser assertivas e ambiciosas, mas mulheres que agem assim são frequentemente criticadas.
Um dos principais motivos para que o número de mulheres em posições importantes seja tão baixo é a discriminação, apontam diversos estudos.

O Glass Ceiling Index poderia mudar se mais mulheres passarem a ocupar postos executivos - mas muitos desses obstáculos persistiram apesar da presença de mulheres mais que qualificadas para fazer o trabalho requerido. O mais provável é que vejamos primeiro uma mudança nos nomes dos homens que estão no controle - menos Johns e Roberts, mais Liams e Noahs.
 
Tradução de PAULO MIGLIACCI

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