Descrição de chapéu copom Selic juros

BC interrompe ciclo de cortes e mantém taxa de juros em 6,5% ao ano

Turbulências fizeram Banco Central antecipar fim das reduções, apesar de fraqueza econômica

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Presidente do Banco Central,  Ilan Goldfajn
Presidente do Banco Central, Ilan Goldfajn - Pedro Ladeira/Folhapress
São Paulo

​O Banco Central surpreendeu nesta quarta-feira (16) ao anunciar a manutenção da taxa básica Selic em 6,5% ao ano, interrompendo um ciclo de queda de juros iniciado em outubro de 2016.

A decisão, unânime, era esperada por apenas um dos 38 economistas e casas ouvidos pela agência de notícias Bloomberg — John Welch, do HSBC. Para 37, o Banco Central cortaria em 0,25 ponto percentual a taxa básica, para 6,25% ao ano.

Em comunicado, o Banco Central informou que os últimos indicadores de atividade econômica "mostram arrefecimento, num contexto de recuperação consistente, mas gradual, da economia brasileira."

Segundo o BC, o cenário externo se mostrou mais desafiador e apresentou volatilidade.

"A evolução dos riscos, em grande parte associados à normalização das taxas de juros em algumas economias avançadas, produziu ajustes nos mercados financeiros internacionais. Como resultado, houve redução do apetite ao risco em relação a economias emergentes", afirmou o BC em comunicado.

A decisão ocorre em meio às preocupações com aumentos adicionais na taxa de juros americana. Os títulos de dívida americana com vencimento em dez anos bateram 3,1% nesta quarta-feira. Alguns economistas questionam se o Brasil teria condições de sustentar um diferencial de juros tão baixo em relação aos EUA, considerando que os papéis americanos estão entre os ativos mais seguros do mundo.

O Banco Central informou que a evolução do cenário básico e do balanço de riscos tornou "desnecessária uma flexibilização monetária adicional" para impedir o risco de adiamento da convergência da inflação rumo às metas estabelecidas pelo CMN, de 4,5% ao ano, com tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo.

A decisão do Banco Central se dá num contexto de aumento das turbulências no exterior pela perspectiva de aumento adicional de juros nos Estados Unidos, que tem penalizado ativos de emergentes, como o Brasil.

No comunicado, o BC diz que os choques externos devem ser combatidos apenas no impacto secundário que podem ter sobre a inflação. "Esses choques, entretanto, podem alterar o balanço de riscos ao reduzir as chances de a inflação ficar abaixo da meta no horizonte relevante, por meio de seus possíveis efeitos secundários", indicou.

A forte valorização do dólar no último mês —a moeda acumula alta de 7,4% em relação ao real— gerou dúvidas sobre o 13º corte de juros aqui no Brasil, em meio à fraqueza da atividade econômica que, na avaliação de analistas, permitiria que o BC reduzisse em mais 0,25 ponto percentual.

O indicador de atividade econômica do BC, divulgado também nesta quarta, mostrou queda de 0,74% em março na comparação com fevereiro.

A queda foi maior que o esperado pelo mercado. O centro de expectativas da Bloomberg indicava recuo de 0,3% na comparação mensal. No trimestre, o IBC-Br caiu 0,13% em relação aos três últimos meses de 2017.

O dado ruim fez economistas revisarem as projeções para a atividade econômica neste ano. O Comitê de Acompanhamento Macroeconômico da Anbima (associação das entidades de mercado) reduziu de 3% para 2,4% a projeção para o PIB (Produto Interno Bruto) de 2018, na primeira sinalização de queda desde julho de 2017.

Segundo o comitê, a recuperação de setores mais sensíveis às reduções de juros, como produção de veículos, se contrapõe ao fraco desempenho de segmentos que dependem da renda da população, como o de serviços.

"O quadro está em linha ao baixo dinamismo do mercado de trabalho, refletido nas taxas de desemprego que continuam bastante elevadas", afirmou, em nota. Em meio a esse cenário, o comitê já esperava que a Selic caísse para 6,25% ao ano. 

David Beker, chefe de economia e estratégia do Bank  of  America  Merrill  Lynch no Brasil, informou que o banco reduziu de 3% para 2,1% a projeção para crescimento da economia brasileira neste ano. "A intensidade da recuperação tem decepcionado na margem", indicou, em nota.

Já André Perfeito, economista-chefe da Spinelli Corretora, estima o PIB em 2% neste ano. "Temos assim um desafio grande na mão do governo uma vez que a atividade em queda pode, ato contínuo, derrubar mais uma vez a arrecadação", afirmou, em relatório.

Para Everton Pinheiro de Souza Gonçalves, superintendente da Assessoria Econômica da ABBC (Associação Brasileira de Bancos), há desafios para a recuperação da economia brasileira. 

"Em relação à última reunião, houve alterações no cenário, com os aumentos nas cotações do dólar e do barril do petróleo que poderão produzir impactos significativos na aversão ao risco nos mercados de ativos financeiros e no nível de preços interno."

Ao manter a Selic, o Banco Central levou em consideração também a inflação sob controle no país. Em abril, o IPCA (índice oficial de preços) acelerou para 0,22%. No ano, a inflação acumulada está em 0,92%, o menor patamar desde 1994. Em 12 meses, soma 2,76%, também o menor índice desde o início do Real.

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