Paralisação de caminhoneiros afeta todos os setores da economia no Brasil

Indicadores do IBGE mostram que indústria, comércio e serviços recuaram em maio; inflação disparou

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Fila de caminhões durante paralisação de caminhoneiros na rodovia Régis Bittencourt, próximo a Embu das Artes
Fila de caminhões durante paralisação de caminhoneiros na rodovia Régis Bittencourt, próximo a Embu das Artes - Danilo Verpa/Folhapress
São Paulo

A paralisação dos caminhoneiros reverteu o viés positivo com o qual os serviços iniciaram o segundo semestre, em mais uma indicação de que o movimento que parou o país no fim de maio deve tornar a retomada da economia brasileira mais difícil.

O volume do setor caiu 3,8% em maio ante abril, quando registrou alta mensal de 1,1%, a primeira no ano. Foi o resultado negativo mais intenso da série histórica iniciada em janeiro de 2011, apontou o IBGE nesta sexta-feira (13).

Em relação a maio de 2017, o recuou também foi de 3,8%. No ano, o setor acumula queda de 1,3% e, em 12 meses, de 1,6%.

O volume de todas as cinco atividades do segmento investigadas pelo IBGE caiu, com destaque para transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, que registrou retração de 9,5%.

A atividade foi pressionada para baixo, sobretudo, pelo desempenho dos transportes terrestres, que despencou 15% e também atingiu a taxa negativa mais baixa da série.

As informações são da PMS (Pesquisa Mensal de Serviços), que fecha o ciclo de levantamentos que capturam o impacto dos protestos de caminhoneiros em importantes setores da economia durante o mês de maio. 

As pesquisas revelam que nenhum segmento foi poupado, e o próprio governo vai reduzir a projeção de crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 2,5% para 1,6% neste ano.

INDÚSTRIA E VAREJO

Em maio, a indústria recuou a patamares de 2003. A produção industrial teve queda de 10,9% ante abril. O resultado foi o pior desde dezembro de 2008, durante a crise internacional, quando o arrefecimento da atividade econômica mundial fez a produção recuar 11,2%.

Dos 14 estados pesquisados pelo IBGE, 13 registraram queda na produção industrial no período. Os mais afetados foram Mato Grosso (-24,2%), Paraná (-18,4%), Bahia (15%) e Santa Catarina (-15%). A exceção foi o Pará (+9,2%).

O protesto de caminhoneiros também interrompeu 18 meses de alta na produção de veículos. Com a suspensão temporária das atividades de todas as montadoras no país, a produção do setor automotivo caiu mais de 15% em maio, na comparação com o mesmo mês do ano passado.

 

As vendas no varejo registraram em maio o primeiro resultado mensal negativo do ano. O volume de vendas caiu 0,6% na comparação com abril, resultado mais fraco para o mês desde a queda de 0,8% em 2016.

Maio costuma ser um mês bom para o varejo, devido à comemoração do Dia das Mães, mas seis das oito atividades pesquisadas pelo IBGE caíram. 

INFLAÇÃO

O movimento dos caminhoneiros começou em 21 de maio e durou 11 dias. Bloqueios em estradas do país levaram ao desabastecimento de alimentos e combustíveis, o que pressionou os preços no período. 

Em maio, o IPCA, índice oficial de inflação no país, dobrou para 0,4%.

Como os dados do indicador são coletados até o dia 29 de cada mês e a paralisação se estendeu até o início de junho, o impacto do movimento foi sentido também no índice do mês seguinte. 

Além disso, após o fim da paralisação, houve uma corrida dos consumidores aos mercados, o que postergou a volta à normalidade no abastecimento.

Assim, junho registrou a maior inflação em 23 anos. O IPCA teve alta de 1,26%, a maior para o mês desde 1995. Considerando todos os meses, foi o maior índice desde janeiro de 2016. 

CONFIANÇA E INVESTIMENTOS

Em junho, os seis indicadores de confiança da FGV (Fundação Getulio Vargas) caíram, ajudando a compor o cenário de estragos causados pela paralisação dos caminhoneiros.

Os indicadores captam o ânimo de indústria, comércio, serviços e construção civil, além de empresários e consumidores.

A escala vai de zero (desconfiança total) a 200 pontos, sendo 100 pontos o nível neutro. Historicamente, a escala oscila entre 60 e 140. Hoje, todos os índices estão abaixo de 100 pontos, o que indica pessimismo. A exceção é a confiança da indústria, que caiu, mas ainda está nos 100.

Embora o recuo tenha sido mais forte em junho, o mais grave é que a piora da confiança antecede a paralisação. E, sem confiança, os investimentos não vingam.

O Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) aponta que a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) recuou 11,3% em maio ante abril. 

Só o consumo de máquinas e equipamentos apresentou queda de 14,6%. 

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