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Alta no preço do petróleo pode auxiliar no aumento de receitas da balança comercial

Leilões dos próximos meses podem ser mais atraentes, aumentando as margens dos projetos das companhias petrolíferas

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Fernanda Delgado

A primeira pergunta que passou pela cabeça de quase todos os brasileiros que viram as notícias dos ataques às instalações da Saudi Aramco no sábado (14) e a consequente pressão para cima nos preços do óleo cru no mercado internacional foi: e o preço do diesel aqui no Brasil, como vai ficar?

Isso porque a nova política de reajuste de preços de combustíveis da Petrobras, em vigor desde outubro de 2016, tem causado uma série de indagações entre especialistas e os consumidores finais. 

Com alterações que chegaram a ser diárias, os preços da gasolina e do diesel estão alinhados conforme as variações do mercado internacional e do câmbio. 

O fato é que, desde o início dessa nova política de reajuste e, apesar da subvenção aplicada pelo governo federal (consequência da greve dos caminhoneiros em 2018), o preço do produto tem subido continuamente.

Incêndio na sede da Aramco, em Buqayq, na Arábia Saudita - 14.set.19/Reuters

Por mais que a estatal brasileira coloque que a sua intenção seja a de aumentar a competitividade da companhia e incentivar a entrada de investidores no país, principalmente no segmento de downstream, sabe-se que existem desafios relevantes atrelados a essa política. 

Assim, quando drones atacaram as instalações de processamento de petróleo da Arábia Saudita em Abqaiq, as notícias de aumento de preços reverberaram nos mercados globais já desde o início da noite de domingo (15).

Os ataques tinham como alvo uma grande planta de processamento de petróleo e um grande campo de petróleo da Saudi Aramco.

O ataque reduziu o suprimento global de petróleo em 5% e levantou algumas questões geopolíticas sérias, primeiro quando os rebeldes houthis do Iêmen assumiram a responsabilidade e, especialmente, quando Washington culpou o Irã sem apresentar nenhuma prova. Na visão de muitos analistas internacionais, a intensificação da situação é extremamente tensa, com uma possível escalada militar envolvendo a Arábia Saudita, o Irã, o Iêmen e os Estados Unidos. 

Adicionalmente, é massivamente perturbador para a indústria do petróleo um spike de preços de 19% —o maior salto desde 1991, quando o Iraque invadiu o Kuwait na preparação para a Guerra do Golfo. Ainda na noite de domingo, o presidente Donald Trump anunciou (via Twitter) a possibilidade de uso das reservas estratégicas de petróleo dos EUA para contornar a alta dos preços.

Ainda assim, vale destacar que a própria Arábia Saudita, como membro swing da Opep, tem capacidade ociosa de aproximadamente 2 milhões de barris por dia e poderia disponibilizá-los ao mercado.

À parte isso, uma liberação do embargo norte-americano à Venezuela poderia também colocar mais óleo cru disponível no mercado internacional, diminuindo a pressão nos preços. 

Para o Brasil, existem pontos positivos e negativos a serem avaliados. Em se tratando de um movimento que perdure por um período maior do que um mês ou dois (entendendo esse como um movimento conjuntural apenas), o aumento no preço da commodity pode tornar mais atraentes os leilões de áreas dos próximos meses, aumentando as margens dos projetos das companhias petrolíferas.

Pode-se atribuir essa explicação em parte à área de estabilidade que o Brasil representa face às demais zonas de instabilidade no resto do mundo, como o golfo Pérsico, a Rússia, a Turquia, algumas regiões da África, à instabilidade política da Argentina, entre outras regiões. 

Adicionalmente, os preços maiores no mercado internacional representariam também aumento da arrecadação dos royalties e participações especiais nos estados produtores, incrementando as receitas destes.

Simultaneamente, há um aumento das receitas da balança comercial nacional, uma vez que se exporta parte do óleo cru produzido no Brasil.

Fernanda Delgado

Professora e Coordenadora de Pesquisa da FGV Energia

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