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UE alerta para sobrecarga da banda larga por causa de home office e streaming

Bruxelas instrui companhias de streaming a limitar serviços, e Facebook afirma que administrar o tráfego é um desafio

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Nic Fildes Hannah Murphy
Londres e San Francisco | Financial Times

A União Europeia apelou a serviços de streaming como a Netflix que limitem suas operações a fim de impedir um colapso das redes de banda larga do continente, agora que milhões de pessoas estão trabalhando de casa.

Até agora, as companhias de telecomunicações vinham se mantendo otimistas sobre a capacidade da internet para resistir à mudança drástica no comportamento dos usuários causada pelo surto do coronavírus.

Mas no começo da noite de segunda-feira (16), Thierry Breton, um dos comissários que respondem pela política digital da União Europeia, disse que as plataformas de streaming tinham “parte da responsabilidade por adotar medidas que garantam o funcionamento tranquilo da internet” durante a crise.

A União Europeia afirmou que as plataformas de streaming deveriam considerar a possibilidade de oferecer conteúdo apenas em definição padrão, em lugar de em alta definição, e que os usuários deveriam agir com responsabilidade quanto ao seu consumo de dados.

Logo da Netflix no escritório em Los Angeles, Estados Unidos - Lucy Nicholson/Reuters

Há preocupação com a possibilidade de que as conexões residenciais de banda larga, projetadas para lidar apenas com os picos noturnos de tráfego, possam não ser capazes de enfrentar a sobrecarga gerada por longos dias de uso de videoconferências, por adultos, e de aulas online, pelas crianças, bem como o consumo adicional de jogos e filmes online;

Mesmo as maiores empresas de tecnologia admitiram que estão enfrentando dificuldades com a mudança nos padrões do tráfego. Mark Zuckerberg, o presidente-executivo do Facebook, disse a jornalistas na quarta-feira (18) que a companhia estava experimentando “sobrecargas” no uso de certos serviços, entre as quais um aumento de 100% no número de ligações realizadas por meio dos apps WhatsApp e Messenger.

O uso “em base sustentada” está bem acima de seu pico anual no dia de Ano-Novo, ele disse, acrescentando que administrar a situação era “um desafio”. Zuckerberg acrescentou que “precisamos garantir que a situação esteja sob controle do ponto de vista da infraestrutura”.

As leis de neutralidade de rede da União Europeia proíbem restrições ao uso de banda por serviços de entretenimento, como a Netflix ou o site de games Twitch, mas alguns executivos do setor de telecomunicações, de diversos lugares do continente, disseram que havia espaço para a cooperação a fim de salvaguardar o sistema.

Um executivo de um grupo multinacional de telecomunicações disse que as companhias precisavam mitigar “qualquer frenesi de Fortnite”, afirmando que “as companhias de telecomunicações estão discutindo maneiras de trabalhar em cooperação com os serviços de jogos a fim de garantir que esse tipo de evento seja previsto no planejamento e administrando, essencialmente atenuando a curva da conectividade”.

Scott Petty, vice-presidente de tecnologia da Vodafone, que controla uma rede de telefonia móvel e uma rede de telefonia fixa usadas por empresas no Reino Unido., argumentou que o “horário de pico”, em termos de uso, agora se estendia do meio-dia às 21h.

Ele também destacou os atrativos de novos serviços como a nova plataforma de streaming da Disney e o lançamento online de filmes da Universal Pictures, para compensar o fechamento dos cinemas.

Na Itália, o primeiro país a impor uma quarentena nacional completa, o uso de videoconferências triplicou; em companhia da alta no uso de serviços de vídeo e jogos, isso resultou em crescimento de 75% no consumo residencial de dados nos finais de semana, tanto nas redes de banda larga quanto nas de telefonia móvel, de acordo com a Telecom Italia.

“Não é um dilúvio, mas é uma grande alta”, disse Johan Ottosson, diretor de negócios internacionais na companhia sueca de telecomunicações Telia.

O setor espanhol de telecomunicações divulgou um alerta no começo da semana instando os consumidores a racionar seu uso de internet, usando serviços de streaming e fazendo downloads fora dos horários de pico.

As empresas também pediram que seus clientes usassem telefones fixos para as chamadas de voz e evitassem as redes móveis, que viram uma alta de 50% na quantidade de dados que estão transmitindo, nos últimos dias.

São as redes de telefonia móvel que mostraram mais sinais de desgaste. Dados compilados pela Ookla, uma companhia que testa a velocidade de conexão da internet, demonstram que as velocidades da banda larga se mantiveram, na China e na Itália, mas que as redes de telefonia móvel vêm enfrentando dificuldades.

No Reino Unido, executivos do setor de telecomunicações realizaram uma teleconferência na semana passada para discutir um defeito que deixou centenas de milhares de clientes impossibilitados de fazer chamadas de voz a números de outras operadoras. O número de ligações de voz havia subido em 30%, sobrecarregando os sistemas.

Nos Estados Unidos, a Comissão Federal de Comunicações (FCC, na sigla em inglês) permitiu na quarta-feira que a Verizon usasse frequências adicionais a fim de atender à demanda ampliada por banda larga. T-Mobile e US Cellular se beneficiaram da mesma concessão.

John Graham, vice-presidente de tecnologia da Cloudfare, uma empresa americana que oferece infraestrutura para a web, disse que embora os padrões de acesso à internet estejam mudando, ainda não surgiu uma desaceleração mundial na velocidade de acesso. “Parece que existe capacidade suficiente. Nada indica que isso vá causar problemas”, ele disse.

Um porta-voz da Netflix reconheceu as potenciais dificuldades mas apontou para as ferramentas que a companhia já oferece a provedores de acesso à internet, que permitem que eles armazenem o conteúdo do serviço de streaming mais perto de seus clientes, o que alivia parte da sobrecarga na infraestrutura da internet.

“O comissário Breton tem razão em destacar a importância de garantir que a internet continue a operar com suavidade durante esse momento crítico”, a companhia afirmou. “Nosso foco vem sendo a eficiência de redes há muitos anos, o que inclui prover gratuitamente um serviço de conexão aberta para as companhias de telecomunicações”.

A tecnologia de “streaming adaptativo” da Netflix também ajusta a resolução dos vídeos de acordo com a disponibilidade de banda no domicílio ou área, a empresa acrescentou.

Nesta quinta-feira (19), a revista americana Variety informou que a plataforma de streaming concordou em diminuir a qualidade de suas transmissões a fim de não sobrecarregar as redes de internet do continente.

“Devido aos desafios extraordinários criados pelo coronavírus, a Netflix decidiu começar a reduzir a taxa de bits em todas as nossas transmissões na Europa”, informou a empresa à publicação.

O YouTube não quis comentar.

Tradução de Paulo Migliacci

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