Descrição de chapéu Financial Times mercado de trabalho juros

EUA cortam mais de 1 milhão de vagas em agosto, segunda maior redução em 20 anos

Número indica que esforços do Fed para esfriar a economia começam a fazer efeito

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Taylor Nicole Rogers Colby Smith
Nova York e Washington | Financial Times

Os empregadores americanos cortaram mais de 1 milhão de vagas em agosto, em um sinal de que os esforços agressivos do Fed (Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos) para esfriar a economia estão começando a fazer efeito no mercado de trabalho.

O declínio mensal foi o segundo mais acentuado em duas décadas de acompanhamento desse indicador, atrás apenas de abril de 2020, quando o lockdown generalizado congelou as contratações, no início da pandemia do coronavírus.

Os números foram divulgados antes dos dados oficiais sobre o emprego, que serão anunciado na sexta-feira. O indicador será observado de perto pelos investidores por sua influência sobre as próximas decisão do Fed sobre os juros americanos. O banco está numa campanha agressiva para acabar com a inflação, que está se aproximando de seus níveis mais altos em quatro décadas.

Águia no teto do Federal Reserve, em Washington, nos Estados Unidos - Jonathan Ernst - 31.jul.2013/Reuters

As vagas de emprego, uma medida da demanda por mão de obra, ficaram em 10,05 milhões, de acordo com os dados divulgados na terça pelo Departamento de Trabalho dos Estados Unidos, uma queda de 1,1 milhão de vagas ante os números de julho.

Foi uma das maiores quedas mensais no número de vagas em duas décadas de dados analisados pelo Financial Times, ficando atrás apenas do declínio de 1,2 milhão reportado em abril de 2020, depois que a Covid-19 foi oficialmente declarada como pandemia.

Ainda que outras partes da economia americana estivessem se desacelerando, o mercado de trabalho continuou quente, mantendo a pressão ascendente sobre a inflação. Mas outros números da Pesquisa de Oferta de Emprego e Giro de Mão de Obra (Jolts, na sigla em inglês) também indicaram que o mercado de trabalho pode estar desacelerando.

O número de trabalhadores que deixam seus empregos voluntariamente vem caindo nos últimos meses, mas mudou pouco em agosto, ficando em 4,2 milhões de pessoas. As demissões voluntárias continuam a flutuar acima dos níveis anteriores à pandemia, um sinal de que os trabalhadores estão confiantes em que podem encontrar novas oportunidades de emprego. Enquanto isso, a proporção entre vagas de emprego e número de desempregados está em 1,7 para um, depois de se manter estável em duas para um nos seis últimos meses.

"O relatório Jolts de hoje mostra alguns sinais claros de que o mercado de trabalho está esfriando mesmo que a temperatura inicial seja alta", disse Daniel Zhao, economista no site de emprego Glassdoor.

O declínio nas vagas de emprego deve proporcionar algum alívio para o Fed, que está no meio do maior aperto na política monetária desde o início da década de 1980. No mês passado, o banco central implementou seu terceiro aumento consecutivo de 0,75 ponto percentual na taxa de juros, o que elevou a taxa de fundos federais para uma faixa de 3% a 3,25%.

"Jay Powell, [o chairman do Fed], será o primeiro a celebrar os números sobre as vagas ", disse Nick Bunker, economista do site de empregos Indeed.

Embora o Fed esteja elevando as taxas de juros para um nível que restringe ativamente a economia, as autoridades de política monetária acreditam que o mercado de trabalho está tão apertado que será possível alcançar um equilíbrio melhor sem perda substancial de empregos. Eles têm esperanças de que os empregadores, que vêm batalhando desde o início da pandemia para encontrar trabalhadores, hesitem mais em reduzir seus quadros num momento em que a demanda dos consumidores ainda é elevada.

Isso contraria a visão defendida por muitos economistas de Wall Street, que previram que a taxa de desemprego oscilaria em torno de ou acima de 5%, à medida que o Fed avança em seus esforços para devolver a inflação à sua meta de 2% anuais. Nessas circunstâncias, uma recessão é quase inevitável, eles argumentam.

Em seus primeiros comentários públicos desde que assumiu a presidência de uma das unidades regionais do Fed, Philip Jefferson na terça-feira descreveu o mercado de trabalho como "muito apertado", mas disse que o desequilíbrio entre oferta e procura "provavelmente se aliviará um pouco".

Powell e outras autoridades reconheceram mais diretamente que o processo de restauração da estabilidade de preços envolverá "algum sofrimento", mas ainda assim não chegaram a prever uma recessão. Na entrevista coletiva que se seguiu à decisão de setembro sobre os juros, porém, Powell admitiu que "ninguém sabe se este processo levará a uma recessão ou, se isso acontecer, qual seria a severidade da recessão".

O Departamento do Trabalho divulgará na sexta-feira os números sobre as folhas de pagamento não agrícolas, que os economistas antecipam mostrem que os Estados Unidos criaram 250 mil empregos em setembro –possivelmente o menor crescimento mensal este ano. A previsão é de que o índice de desemprego permaneça estável em 3,7%, próximo ao seu ponto mais baixo em cinco décadas.

"Os empregadores continuam a contratar, e portanto ainda há empuxo no mercado de trabalho", disse Bunker. "A questão é só que a velocidade caiu um pouquinho".

Tradução de Paulo Migliacci

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