Descrição de chapéu Financial Times Folhainvest

Qual é o tamanho do rombo no capital do Credit Suisse?

Ações do banco suíço sofreram queda histórica, em meio a uma tempestade nas mídias sociais

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Owen Walker Robert Smith
Londres | Financial Times

O Credit Suisse passou os últimos dias lutando contra rumores nas redes sociais sobre sua saúde financeira, e tentando convencer investidores e clientes de que a queda no preço de suas ações e a disparada nos CDS (contrato que funciona como uma espécie de seguro contra calote de uma empresa) não contam a história verdadeira sobre a saúde do banco.

No centro da tempestade está uma pergunta simples que analistas e comentaristas de mercado vêm fazendo desde que o Credit Suisse anunciou, semanas atrás, que reduziria as atividades de seu banco de investimentos e cortaria 1,5 bilhão de francos suíços em custos: qual será realmente o tamanho do rombo no capital do banco?

No mês passado, analistas do Deutsche Bank estimaram que as medidas drásticas forçariam a instituição suíça a encontrar 4 bilhões de francos suíços adicionais, devido aos custos de reestruturação, à necessidade de expandir outras linhas de negócios e à pressão regulatória para fortalecer seu capital.

Escritório do Credit Suisse em Bern, na Suíça - Arnd Wiegmann/Reuters

A redução das atividades do banco de investimento e a demissão de milhares de trabalhadores resultariam em custos trabalhistas e na possível necessidade de contabilizar prejuízos com a liquidação de negócios de alto risco. O banco também precisaria investir em outras áreas de seus negócios –notadamente a gestão de patrimônio– para aumentar os fluxos de receita e compensar o rendimento perdido pelo banco de investimentos.

Na sexta-feira (30), os analistas do banco de investimento Keefe, Bruyette & Woods estimavam o valor em 6 bilhões de francos suíços. Eles argumentavam que, depois da venda de ativos, isto forçaria o Credit Suisse a pedir 4 bilhões de francos suíços em capital aos investidores "para acomodar um plano claro de crescimento e/ou compensar quaisquer fatores desconhecidos, tais como litígios ou medo de perda de clientes".

Para um banco cuja capitalização de mercado caiu para 10 bilhões de francos suíços nas últimas semanas, como resultado de uma queda de 25% no preço de suas ações, a perspectiva de pedir ajuda aos investidores, que já tiveram que enfrentar perdas decorrentes de escândalos como os da Archegos e Greensill, parece cada vez menos convidativa.

Executivos importantes do banco –que anunciou que revelará um plano detalhado para a redução nas atividades de seu braço de investimentos até o final do mês– insistem que aumentar o capital seria um último recurso.

Um executivo que passou o final de semana ligando para os principais clientes e pares da instituição para tentar tranquilizá-los quanto à saúde financeira do Credit Suisse afirmou que o banco não está atrás de capital.

O banco planeja vender partes de seu braço de investimentos –o que poderia incluir sua cobiçada divisão de produtos securitizados, cujo valor analistas estimaram em até 2 bilhões de francos suíços.

Os gestores do Credit Suisse foram forçados a iniciar uma campanha de relações públicas depois que os spreads nos CDS do grupo chegaram a um pico na semana passada, o que indica que os investidores estão se tornando cada vez mais pessimistas quanto ao grupo. Durante o final de semana, as redes sociais e fóruns da web estavam repletos de rumores sobre o colapso iminente do banco.

Na segunda-feira (3), ficou claro que a campanha de comunicação do banco não havia conseguido acalmar o nervosismo dos mercados. Operadores e investidores correram para vender ações e títulos do Credit Suisse e adquirir CDS.

Os CDS de cinco anos do Credit Suisse subiram em mais de 100 pontos básicos na segunda-feira, e alguns operadores os estavam cotando em até 350 pontos básicos, de acordo com cotações vistas pelo Financial Times. As ações do banco caíram para mínimos históricos abaixo de 3,60 francos suíços, uma queda de 10%, quando o mercado abriu.

As duas questões que mais parecem preocupar os investidores e os comentaristas das redes sociais são a posição de capital do banco, que reflete sua capacidade de absorver prejuízos, e seus níveis de liquidez, que poderiam ser colocados à prova em um período de desgaste em curto prazo. O banco insiste que nenhuma das duas coisas representa risco.

Em seus últimos resultados trimestrais, em julho, o Credit Suisse relatou um índice de capital próprio de primeira linha, um indicador de sua resiliência financeira, de 13,5%, bem dentro de sua meta de entre 13% e 14% para este ano. Isso representa uma alta ante os 11,4% de 2015 e os 12,9% de 2020, e equivale a 37 bilhões de francos suíços de capital.

Em comparação com outros bancos europeus, o Credit Suisse tem uma relação CET1 semelhante à do UBS, HSBC, Deutsche Bank e BNP Paribas.

Além disso, o banco tem 15,7 bilhões de francos suíços em capital adicional de primeira linha, levantado por meio da emissão dos chamados títulos "conversíveis contingentes" –"cocos", na gíria do mercado— porque eles podem ser convertidos em ações em momentos de desgaste.

O Credit Suisse captou US$ 1,5 bilhão de capital AT1 nos últimos meses, com uma emissão de títulos com rendimento de 9,75%. Embora no momento a emissão parecesse cara, de lá para cá o banco teve sua classificação rebaixada por várias agências de crédito e o papel está sendo negociado atualmente com um rendimento de 12,5%.

Além disso, em seus mais recentes resultados financeiros, o banco tinha 44,2 bilhões de francos suíços de "fundos próprios complementares", que é um capital adicional exigido pelas autoridades regulatórias suíças para absorver prejuízos sem desencadear uma falência.

Um executivo do Credit Suisse afirmou que o banco precisaria queimar 97 bilhões de francos suíços de capital antes que algo aconteça aos clientes ou funcionários, somando o CET1, AT1 e os fundos próprios complementares. Ele destaca que o UBS queimou bilhões durante a crise financeira e foi resgatado —situação que seria diferente da do Credit Suisse.

No final de semana, também surgiram comparações com as fortes vendas de títulos do Deutsche Bank em 2016, quando a preocupação de que o banco alemão tivesse de deixar de pagar os cupons de alguns de seus títulos de capital impulsionou movimentos bruscos no mercado de CDS.

"Nós encaramos com cautela a ideia de fazer paralelos com os bancos em 2008 ou com o Deutsche Bank em 2016", disse Andrew Coombs, analista do Citigroup.

"O mercado parece estar incorporando aos seus preços uma captação de capital altamente diluidora. Não acreditamos que essa seja uma conclusão inevitável e, portanto, argumentaríamos que o Credit Suisse pode ser comprado pelos corajosos, às cotações atuais."

Já quanto aos níveis de liquidez do banco, o Credit Suisse tem uma taxa de cobertura de liquidez de 191%, significativamente mais alta do que a maioria de seus pares. O índice é um reflexo da quantidade de ativos financeiros altamente líquidos que o banco detém e que podem ser usados para cobrir obrigações de curto prazo.

"De nossa perspectiva, olhando para as finanças da empresa no final do segundo trimestre, vemos a posição de capital e a liquidez do Credit Suisse como saudáveis", afirmou Kian Abouhossein, analista do JP Morgan.

No final da segunda-feira, os acionistas do banco pareciam mais calmos por conta das mensagens tranquilizadoras enviadas pelos analistas, mesmo que houvesse também apelos cada vez mais fortes para a revelação do novo plano estratégico a ser apresentado.

No fechamento do mercado em Zurique, as ações do Credit Suisse haviam se recuperado para aproximadamente onde haviam começado o dia, cotadas a 4 francos suíços.

Enquanto isso, na Austrália, um jornalista de negócios da rede pública de TV ABC que havia postado um tuíte amplamente divulgado, no sábado, dando a entender que um grande banco de investimento internacional estava "à beira da falência", retirou a mensagem e seu empregador informou que havia relembrado o funcionário sobre suas diretrizes de mídia social.

Tradução de Paulo Migliacci

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