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Aceleradoras apoiam negócios que geram renda na Amazônia

Iniciativas impulsionam empreendimentos com potencial de impacto positivo na região

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Alice Martins Morais
Belém (PA)

Com quase 5 milhões de quilômetros quadrados, a Amazônia brasileira tem um grande potencial de produção de mercadorias a partir de recursos naturais. Essa capacidade, porém, não é totalmente aproveitada.

Entre 2017 e 2019, 64 produtos foram classificados como "compatíveis com a floresta" e geraram uma receita anual de US$ 298 milhões (R$ 1,6 bilhão), segundo estudo do projeto Amazônia 2030. Esse valor representa apenas 0,17% dos mercados globais de cadeias agroflorestais.

Imagem aérea da floresta amazônica, na região da bacia do Rio Tapajós, no estado do Pará.
Imagem aérea da floresta amazônica, na região da bacia do Rio Tapajós, no estado do Pará. - Pedro Ladeira/Folhapress

Para se ter uma ideia, em 2019, a Bolívia arrecadou cerca de US$ 190 milhões (R$ 1 bilhão) com a exportação de castanha-do-Brasil, enquanto o próprio Brasil gerou US$ 33 milhões (R$ 175 milhões) com a venda do mesmo produto. A área da floresta no país vizinho (824 mil km²) é cerca de um sexto da brasileira.

Hoje, a Amazônia brasileira gera um PIB (Produto Interno Bruto) de apenas R$ 660 bilhões (9% do PIB nacional) e enfrenta diversos problemas socioeconômicos. Entre os 6 estados com menor PIB do país, 5 estão na região.

"Não é possível aceitar que um lugar com tanta área de floresta não tenha esse setor como uma grande base da sua economia", afirma Mariano Cenamo, cofundador do Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia).

Na opinião de Salo Coslovsky, professor da Universidade de Nova York e autor do estudo do projeto Amazônia 2030, quando se fala em economia sustentável na Amazônia, o debate tende a se direcionar para o mercado de carbono, para a indústria farmacêutica e para formas de comercialização de matéria-prima bruta.

Segundo ele, essas são opções válidas, mas há um imenso potencial que não é explorado. "Estamos vendo, por exemplo, um incentivo cada vez maior para uma alimentação com menos produtos processados, e é aí que a Amazônia precisa entrar no debate."

Um dos principais obstáculos nessa direção, de acordo com Coslovsky, é a falta de organização formal dos produtores locais. "Mesmo quando há cooperativas de extrativistas, falta um senso de coletividade entre elas, para que, juntas, possam obter recursos compartilhados."

Para ajudar empreendedores locais, Mariano Cenamo criou a aceleradora AMAZ, que realiza, desde 2021, uma chamada anual para empreendimentos com potencial de impacto positivo e que tenham o compromisso de começar a operação dentro de seis meses a partir da aceleração. A previsão de próxima chamada é em maio de 2023.

Segundo Cenamo, um dos objetivos do Idesam sempre foi estimular negócios que se propunham a solucionar problemas socioambientais na região. No entanto, ele percebeu que havia um desequilíbrio entre o nível de maturidade buscado pelos investidores e o apresentado pelos empresários locais.

As propostas selecionadas recebem um cheque inicial de R$ 200 mil e, ao longo de seis meses, obtêm outros apoios, como assessoria jurídica e marketing. O recurso vem de um fundo de financiamento de R$ 25 milhões que deve ser investido em negócios de impacto até 2030.

Até o momento, 18 empresas já foram aceleradas pelo Idesam, sendo seis a partir da AMAZ. Até o final deste ano, mais seis iniciativas receberão o investimento.

"Depois dessa jornada, os negócios continuam conosco no portfólio e buscamos novas captações para que possam crescer mais", diz Cenamo.

Uma das "aceleradas" foi a Da Tribu, empresa social paraense de moda sustentável. O empreendimento tem a participação da comunidade da Pedra Branca, na ilha de Cotijuba, e envolve cerca de 25 pessoas, que extraem o látex da seringueira, colorem e produzem os fios, que são a matéria-prima das peças.

"Vimos que é possível ressignificar modelos de negócio e unir o conhecimento tecnológico da área urbana aos saberes da floresta", afirma Tainah Fagundes, sócia da empresa.


Com quase 5 milhões de quilômetros quadrados, a Amazônia brasileira tem um grande potencial de produção de mercadorias a partir de recursos naturais. Essa capacidade, porém, não é totalmente aproveitada.

Entre 2017 e 2019, 64 produtos foram classificados como "compatíveis com a floresta" e geraram uma receita anual de US$ 298 milhões (R$ 1,6 bilhão), segundo estudo do projeto Amazônia 2030. Esse valor representa apenas 0,17% dos mercados globais de cadeias agroflorestais.

Imagem aérea da floresta amazônica, na região da bacia do Rio Tapajós, no estado do Pará. 
Imagem aérea da floresta amazônica, na região da bacia do Rio Tapajós, no estado do Pará.
Pedro Ladeira/Folhapress
Imagem aérea da floresta amazônica, na região da bacia do Rio Tapajós, no estado do Pará.****


Para se ter uma ideia, em 2019, a Bolívia arrecadou cerca de US$ 190 milhões (R$ 1 bilhão) com a exportação de castanha-do-Brasil, enquanto o próprio Brasil gerou US$ 33 milhões (R$ 175 milhões) com a venda do mesmo produto. A área da floresta no país vizinho (824 mil km²) é cerca de um sexto da brasileira.

Hoje, a Amazônia brasileira gera um PIB (Produto Interno Bruto) de apenas R$ 660 bilhões (9% do PIB nacional) e enfrenta diversos problemas socioeconômicos. Entre os 6 estados com menor PIB do país, 5 estão na região.

"Não é possível aceitar que um lugar com tanta área de floresta não tenha esse setor como uma grande base da sua economia", afirma Mariano Cenamo, cofundador do Idesam (Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia).

Na opinião de Salo Coslovsky, professor da Universidade de Nova York e autor do estudo do projeto Amazônia 2030, quando se fala em economia sustentável na Amazônia, o debate tende a se direcionar para o mercado de carbono, para a indústria farmacêutica e para formas de comercialização de matéria-prima bruta.

Segundo ele, essas são opções válidas, mas há um imenso potencial que não é explorado. "Estamos vendo, por exemplo, um incentivo cada vez maior para uma alimentação com menos produtos processados, e é aí que a Amazônia precisa entrar no debate."

Um dos principais obstáculos nessa direção, de acordo com Coslovsky, é a falta de organização formal dos produtores locais. "Mesmo quando há cooperativas de extrativistas, falta um senso de coletividade entre elas, para que, juntas, possam obter recursos compartilhados."

Galeria
Ribeirinhos do Arquipélago do Marajó, no Pará, recebem energia solar
Ribeirinhos do Arquipélago do Marajó, no Pará, recebem energia solar
Programa Mais Luz para a Amazônia deve atender 25,4 mil famílias na região
https://fotografia.folha.uol.com.br/galerias/1742817458900482-ribeirinhos-do-arquipelago-de-marajo-recebem-energia-eletrica
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Para ajudar empreendedores locais, Mariano Cenamo criou a aceleradora AMAZ, que realiza, desde 2021, uma chamada anual para empreendimentos com potencial de impacto positivo e que tenham o compromisso de começar a operação dentro de seis meses a partir da aceleração. A previsão de próxima chamada é em maio de 2023.

Segundo Cenamo, um dos objetivos do Idesam sempre foi estimular negócios que se propunham a solucionar problemas socioambientais na região. No entanto, ele percebeu que havia um desequilíbrio entre o nível de maturidade buscado pelos investidores e o apresentado pelos empresários locais.

As propostas selecionadas recebem um cheque inicial de R$ 200 mil e, ao longo de seis meses, obtêm outros apoios, como assessoria jurídica e marketing. O recurso vem de um fundo de financiamento de R$ 25 milhões que deve ser investido em negócios de impacto até 2030.

Até o momento, 18 empresas já foram aceleradas pelo Idesam, sendo seis a partir da AMAZ. Até o final deste ano, mais seis iniciativas receberão o investimento.

"Depois dessa jornada, os negócios continuam conosco no portfólio e buscamos novas captações para que possam crescer mais", diz Cenamo.

Uma das "aceleradas" foi a Da Tribu, empresa social paraense de moda sustentável. O empreendimento tem a participação da comunidade da Pedra Branca, na ilha de Cotijuba, e envolve cerca de 25 pessoas, que extraem o látex da seringueira, colorem e produzem os fios, que são a matéria-prima das peças.

"Vimos que é possível ressignificar modelos de negócio e unir o conhecimento tecnológico da área urbana aos saberes da floresta", afirma Tainah Fagundes, sócia da empresa.



Da Tribu - comunidade pedra branca
Da Tribu - comunidade pedra branca
Divulgação
Da Tribu - comunidade pedra branca****




Para ela, a aceleração da AMAZ foi essencial. "Nós já tínhamos feito outras acelerações, mas o programa da AMAZ foi pensado a partir da realidade amazônica", diz.

Outro exemplo de iniciativa que impulsiona negócios na Amazônia vem do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, que mantém cinco programas de educação empreendedora e pré-aceleração para jovens da região, com apoio e financiamento de diversas empresas, como as mineradoras Vale e Hydro.

"Só neste ano foram abertos cerca de 30 processos simultâneos de aceleração, todos com requisitos de sustentabilidade", diz Vitor Alves, diretor da Açaí Valley, Associação de Tecnologia e Inovação de Startups do Estado do Pará.
Moradores da comunidade da Pedra Branca, na ilha de Cotijuba (PA) mostram fios que serão matéria-prima para as roupas da Da Tribu, empresa de moda sustentável, um dos empreendimentos acelerados pela AMAZ - Divulgação

Para ela, a aceleração da AMAZ foi essencial. "Nós já tínhamos feito outras acelerações, mas o programa da AMAZ foi pensado a partir da realidade amazônica", diz.

Outro exemplo de iniciativa que impulsiona negócios na Amazônia vem do Centro de Empreendedorismo da Amazônia, que mantém cinco programas de educação empreendedora e pré-aceleração para jovens da região, com apoio e financiamento de diversas empresas, como as mineradoras Vale e Hydro.

"Só neste ano foram abertos cerca de 30 processos simultâneos de aceleração, todos com requisitos de sustentabilidade", diz Vitor Alves, diretor da Açaí Valley, Associação de Tecnologia e Inovação de Startups do Estado do Pará.

Esta reportagem foi produzida a partir de aulas e conteúdos debatidos no curso Nova Economia, promovido pelo  FolhaLab+ iFood

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