Descrição de chapéu Financial Times

Bancos se preparam para o maior número de demissões desde a crise de 2008

Cortes devem ser 'brutais', com Credit Suisse, Goldman Sachs e Morgan Stanley já demitindo funcionários

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Owen Walker Katie Martin
Financial Times

Os bancos estão se preparando para a maior rodada de cortes de empregos desde a crise financeira global, conforme os executivos sofrem pressão para cortar custos depois do colapso nas receitas dos bancos de investimento.

As demissões –que devem chegar a dezenas de milhares em todo o setor– revertem as contratações em massa feitas pelos bancos nos últimos anos e a relutância em demitir funcionários durante a pandemia de Covid-19.

"Os cortes de empregos que estão por vir serão superbrutais", disse Lee Thacker, proprietário da empresa de RH de serviços financeiros Silvermine Partners. "É uma redefinição porque eles contrataram demais nos últimos dois ou três anos."

Logo do Credit Suisse; banco suíço disse que eliminaria 9.000 funções de sua força de trabalho de 52 mil nos próximos três anos - Arnd Wiegmann/Reuters

Bancos como Credit Suisse, Goldman Sachs, Morgan Stanley e Bank of New York Mellon começaram a cortar mais de 15 mil empregos nos últimos meses, e observadores do setor esperam que outros sigam o exemplo, encorajados pelos planos já anunciados.

"Vimos alguns tiros de advertência dos Estados Unidos", disse Thomas Hallett, analista da Keefe, Bruyette & Woods.

"Os investidores precisam ver a administração agindo sobre os custos e tentando manter um perfil de retorno razoável. Os europeus tenderão a seguir os bancos americanos."

Ana Arsov, codiretora de serviços bancários globais da Moody's, disse que prevê cortes de empregos menos severos do que durante a crise financeira, mas mais pesados do que no colapso dos mercados após a quebra das pontocom em 2000.

"O que estamos vendo é uma retomada das demissões normais nos bancos que foram suspensas nos últimos anos", disse ela. "Veremos cortes nas franquias europeias, mas não tão grandes quanto nos bancos americanos."

Executivos de bancos disseram que as amplas demissões no Goldman –parte de seu maior esforço de corte de custos desde a crise financeira que inclui tudo, de jatos corporativos a bônus– estabeleceram um precedente que outros bancos procurarão seguir.

"As manchetes sobre o Goldman estão acelerando a tomada de decisões", disse um executivo do setor com conhecimento dos planos de vários bancos. "É um bom momento para anunciar cortes dolorosos se você apenas seguir o Goldman."

O banco de Wall Street iniciou um processo de demissão de até 3.200 funcionários na semana passada, equivalentes a 6,5% da força de trabalho, à medida que aumenta a pressão sobre o executivo-chefe, David Solomon, para melhorar o retorno do banco sobre o patrimônio tangível.

O Goldman está cortando um número de funcionários semelhante ao efetuado em 2008, no auge da crise financeira global, mas sua força de trabalho na época era de dois terços de seu tamanho atual.

O Morgan Stanley demitiu 1.800 funcionários em dezembro, pouco mais de 2% de sua força de trabalho. Apesar de ter um forte negócio de gestão de fortunas, o banco de investimento do credor sofreu junto com seu feroz rival Goldman Sachs uma queda de quase metade das receitas de fusões e aquisições no ano passado.

O Morgan Stanley disse que não há outro corte de pessoal iminente.

"Francamente, estávamos um pouco atrasados", disse o executivo-chefe James Gorman a analistas. "Faz alguns anos que não fazemos nada. Tivemos muito crescimento e continuaremos monitorando isso."

Logo do Goldman Sachs - Andrew Kelly/Reuters

O Bank of New York Mellon, maior banco de custódia do mundo, planeja cortar pouco menos de 3% de sua força de trabalho –cerca de 1.500 funcionários– no primeiro semestre do ano.

O executivo-chefe Robin Vince disse ao Financial Times que o banco foi "muito cuidadoso em reconhecer" que demitir pessoal durante a pandemia de Covid teria "rompido o contrato social" com os funcionários.

Mas ele acrescentou que "no curso normal dos negócios, revisamos os níveis de pessoal. Como uma empresa bem dirigida, temos que ser bons administradores de nossa base de despesas".

De longe, os maiores cortes anunciados até agora são do Credit Suisse, que está numa reformulação estratégica radical com o objetivo de solidificar o banco atormentado por escândalos. Em outubro passado, o banco suíço disse que eliminaria 9.000 funções de sua força de trabalho de 52 mil nos próximos três anos.

Enquanto 2.700 dos cortes foram planejados no ano passado, o banco já iniciou consultas de redundância em mais de 10% das funções de banco de investimento na Europa, informou o Financial Times na semana passada.

O tamanho da reestruturação no Credit Suisse é maior do que a realizada durante a crise financeira em 2008, quando o banco foi forçado a demitir mais de 7.000 funcionários, mas evitou um resgate estatal.

Nem todos os bancos esperam fazer grandes reduções no número de funcionários, embora estejam tomando outras medidas para reduzir os custos.

O Bank of America, que emprega 216 mil pessoas em todo o mundo, disse que "não tem planos de demissões em massa", mas está adotando uma abordagem disciplinada de custos e contratando apenas para as funções mais cruciais.

O executivo-chefe Brian Moynihan disse à Bloomberg em Davos que menos pessoas deixaram o banco do que o esperado no ano passado, o que estava afetando sua política de recrutamento.

"Nós superamos o lado das contratações e ultrapassamos nossa meta de número de funcionários", disse ele. "E agora podemos desacelerar as contratações."

Até agora, o Citigroup deu poucos detalhes sobre quantos de seus 240 mil funcionários globais serão afetados por demissões, mas o diretor financeiro Mark Mason disse a jornalistas que havia pressão para cortar custos no banco de investimento, após a queda de 22% dos lucros da divisão.

"Como parte dos [negócios como de costume], estamos constantemente selecionando talentos para garantir que tenhamos as pessoas certas nas funções certas e, quando necessário reestruturar, também o fazemos", disse ele.

No entanto, pelo menos um banco global está procurando fortalecer suas fileiras, embora de forma direcionada. O executivo-chefe do UBS, Ralph Hamers, disse em Davos que o credor suíço está "contrariando a tendência" no que se refere a recrutamento.

Ao contrário de seus rivais, o UBS não contratou agressivamente nos últimos anos e, portanto, não sofre as mesmas pressões para cortar cargos.

Ele também dedicou mais recursos à gestão de patrimônio na última década, e os altos executivos do banco sentem que este é um bom momento para investir mais no banco de investimento –junto com contratações em gestão de patrimônio e ativos– à medida que os concorrentes recuam.

Esses esforços incluem selecionar negociadores descontentes de firmas de consultoria, disseram figuras importantes do UBS ao FT.

Em comparação, o UBS foi forçado a cortar 10% de sua força de trabalho em 2008 –com a maioria dos cargos vindo de seu banco de investimento–, quando o credor foi socorrido pelo governo suíço após sofrer pesadas perdas em hipotecas subprime.

Vários dos maiores cortes de empregos em 2008 foram em bancos que resgataram rivais derrubados pela crise financeira. Quando o Bank of America assumiu o controle da Merrill Lynch, por exemplo, demitiu 10.000 funcionários, ao mesmo tempo em que despediu 7.500 trabalhadores da financeira hipotecária Countrywide Financial.

O JPMorgan dispensou 9.200 funcionários do Washington Mutual quando assumiu a maior associação de poupança e empréstimo dos Estados Unidos, além de cortar um décimo de sua própria força de trabalho.

Enquanto isso, o colapso do Lehman Brothers e do Bear Stearns deixou dezenas de milhares de bancários sem trabalho. No total, mais de 150 mil bancários perderam o emprego durante a crise financeira.

Assim como há 15 anos, é sombria a perspectiva de encontrar rapidamente um novo emprego para os que agora estão desempregados, segundo os recrutadores.

"Você tem um terrível fluxo de qualidade chegando ao mercado, mas quem os pega?", disse Thacker. "O ‘buyside’ não está lá para contratar essas pessoas desta vez. Eles simplesmente não têm a capacidade."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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