Descrição de chapéu The New York Times tiktok

Usuários do TikTok encontram vídeos problemáticos em meia hora de uso, dizem pesquisadores

Empresa afirma que relatório não reflete as experiências de visualização de pessoas reais

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Sapna Maheshwari
The New York Times

O TikTok parece estar sugerindo vídeos sobre distúrbios alimentares e conduta autolesiva a usuários de 13 anos de idade em ritmo acelerado, disseram pesquisadores em dezembro, despertando novas preocupações quanto à influência do serviço de vídeos sobre os jovens.

O TikTok encaminha um fluxo de vídeos curtos aos usuários com base em seus interesses, horários de visualização e nas contas que eles seguem. O serviço começa a recomendar conteúdo ligado a distúrbios alimentares e conduta autolesiva a jovens de 13 anos de idade apenas 30 minutos depois de eles começarem a usar a plataforma, e às vezes isso acontece em apenas três minutos, de acordo com um relatório do Center for Countering Digital Hate, uma organização sem fins lucrativos.

O TikTok começa a recomendar conteúdo ligado a distúrbios alimentares a jovens de 13 anos de idade apenas 30 minutos - Charlotte Kesl/The New York Times

E assim que os jovens usuários veem conteúdo sobre imagem corporal e saúde mental e indicam que gostaram dele, o TikTok automaticamente recomenda vídeos correlatos a eles a cada 39 segundos, de acordo com os pesquisadores. Para testar o aplicativo, os pesquisadores criaram oito contas em agosto, fazendo-se passar por jovens de 13 anos de idade, a idade mínima autorizada para uso do aplicativo nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Austrália e Canadá.

"Os caminhos que conduzem a conteúdo extremo são muito inócuos", disse Imran Ahmed, presidente do Center for Countering Digital Hate, em uma entrevista. "A atenção pode ser capturada por um vídeo que mostra um corpo atraente, em belas roupas, e o algoritmo percebe muito rapidamente que o usuário está interessado em imagem corporal".

Algumas das contas criadas para o teste receberam indicações de vídeos promovendo a "junkorexia", um termo de gíria para designar pessoas anoréxicas que só comem junk food, e outros de usuários falando sobre suicídio ou mostrando lâminas de barbear. Os pesquisadores descobriram que muitos vídeos promovem distúrbios alimentares por meio de hashtags que usam palavras de código, em um esforço para evitar bloqueio pelos moderadores, e que vídeos nocivos surgem em companhia de outros mais positivos sobre recuperação. Por exemplo, pessoas usam o hashtag #EdSheeranDisorder para identificar posts sobre distúrbios alimentares embora aparentemente estejam falando sobre o cantor.

O TikTok contestou as conclusões do relatório.

"Essa atividade e a experiência resultante não refletem o comportamento genuíno ou as experiências de visualização de pessoas reais", disse Mahsau Cullinane, porta-voz do TikTok. "Consultamos regularmente especialistas em saúde, removemos violações de nossas regras de uso e proporcionamos acesso a recursos de apoio para qualquer pessoa que precise deles".

Cullinane acrescentou que o objetivo da empresa era construir um serviço para todas as pessoas, incluindo "aquelas que escolhem compartilhar suas jornadas de recuperação ou educar outras pessoas sobre esses tópicos importantes".

O relatório surge em um momento difícil para o TikTok, que é propriedade da empresa chinesa ByteDance. Embora o TikTok continue a crescer em popularidade —a empresa diz ter mais de 1 bilhão de usuários— alguns legisladores dos Estados Unidos ameaçam proibir sua operação, mencionando preocupações de segurança nacional.

Também há preocupação crescentes com o conteúdo que o TikTok oferece aos adolescentes. Uma investigação do Wall Street Journal em 2021 descobriu que os adolescentes recebiam numerosas indicações de vídeos perigosos sobre perda de peso, incluindo "dicas" sobre como consumir menos de 300 calorias por dia. Enquanto isso, o programa jornalístico "60 Minutes" noticiou recentemente que os jovens usuários do Douyin, a versão do TikTok que a ByteDance oferece na China, recebem conteúdo educativo e patriótico e são limitados a apenas 40 minutos de tempo de uso do aplicativo por dia.

O TikTok não é a única plataforma de mídia social que enfrenta escrutínio por sua influência sobre os jovens. Este ano, um médico legista na Inglaterra decidiu que o Instagram e outras plataformas de mídia social contribuíram para o suicídio de Molly Russell, 14, em 2017. No ano passado, documentos vazados por Frances Haugen, ex-funcionária da Meta, proprietária do Instagram, detalhavam pesquisas internas da empresa segundo as quais meninas adolescentes estavam sofrendo problemas de imagem corporal ao usar o Instagram. O Instagram vem enfrentando problemas com o controle do conteúdo que promove uma alimentação desordenada.

Ahmed disse que era necessário mais fiscalização sobre o TikTok e uma conscientização mais intensa dos pais e legisladores, bem como transparência em torno dos algoritmos da empresa. O Center for Countering Digital Hate criou um guia sobre a plataforma para pais, com a participação de Ian Russell, o pai de Molly, que comanda uma fundação que leva o nome de sua filha.

Tradução de Paulo Migliacci

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.