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31/12/2010 - 08h52

Faltam dados básicos de turismo no Brasil

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MAÍRA TEIXEIRA
DE SÃO PAULO

Se depender dos indicadores que o setor hoteleiro brasileiro consegue apresentar hoje, vai sobrar turista sem acomodação ou hotel ocioso depois da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016. Basicamente, falta planejamento.

Não é possível obter com o Ministério do Turismo, nem com entidades do setor, indicadores básicos como a taxa de ocupação e a diária média dos hotéis. Assim, é impossível saber oficialmente quantos turistas se hospedam no país e quanto movimenta esse setor.

Outro indicador imprescindível -usado no mundo todo-, mas que não é levantado por aqui, é o Revpar (receita por apartamento disponível, "renevue per available room", na sigla em inglês).

Atualmente, o índice de ocupação utilizado pelo ministério é elaborado por meio de levantamento do Fohb (Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil), entidade que engloba números de apenas 27 redes de hotéis nacionais e internacionais em atividade no Brasil.

Há ainda números de ocupação separados para o setor de "resorts". O Fohb engloba cerca de 60% do mercado corporativo de hotéis.

O ministro do Turismo, Luiz Barretto, concorda que há uma lacuna e classifica a organização dos indicadores como "fundamental para o desenvolvimento" da indústria hoteleira e do turismo como um todo.

Ele reconhece que o país precisa evoluir nesse quesito. "Se não há um bom planejamento, se não tivermos índices fundamentais, fica difícil organizar."

Para o especialista em turismo Marcelo Picka, o gargalo não é do ministério, mas da cadeia hoteleira. "No Brasil, apanhamos para conseguir a taxa de ocupação do concorrente; isso quando conseguimos", reclama Picka, coordenador-geral dos hotéis-escola Senac.

Na avaliação de Picka, o problema está ligado a uma mentalidade conservadora. "É uma questão cultural. Os hoteleiros não abrem os números por medo da concorrência. Mas essa questão tem um outro lado, totalmente negativo, a desorganização e a falta de indicadores básicos para fazer o planejamento de grandes eventos e de uma demanda que explode."

ESTRATÉGIA

Para o presidente da Abih (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis), Enrico Ferme Torquato, esconder dados é uma prática normal e uma maneira estratégica de o hoteleiro se resguardar diante da concorrência.

"Não concordo [em abrir os números de ocupação e de faturamento]. Acho que temos de falar quando está bom e, quando não está bom, temos de nos calar", defende Torquato, cuja entidade engloba 50% do mercado.

Danilo Verpa/Folhapress
Hotel em construção no bairro de Meireles, em Fortaleza; a capital cearense é uma das cidades-sede da Copa de 2014
Hotel em construção no bairro de Meireles, em Fortaleza; a capital cearense é uma das cidades-sede da Copa de 2014

Para Marcelo Picka, é absurda a falta de dados consolidados. "Não temos o índice Revpar para apurar quanto um quarto dá de rentabilidade no mês ou no ano. Sem ele, e sem a taxa de ocupação nacional, o setor pode errar no planejamento porque não tem a exata dimensão do mercado, quanto lucra, quanto precisa investir para ter retorno", argumenta.

"Não temos nem o mais básico dos indicadores, a taxa de ocupação. Os hotéis relutam em passar esses dados e, quando passam, nem sempre são números reais."
Roberto Rotter, presidente do Fohb, acredita que o gargalo pode ser uma grande oportunidade para o setor se profissionalizar de fato.

"A iminência dos grandes eventos vai ser positiva para nossa organização", diz.

"Se não nos organizarmos, essa falha vai aparecer depois do investimento feito. Por isso temos de tomar cuidado no planejamento; sem os dados é fácil errar. Se superofertar para os eventos, depois vai ficar ocioso", conclui Rotter.

O ministro do Turismo concorda com Rotter: "Se não entendemos os mecanismos do setor, não conseguimos sanar as dificuldades", diz Barretto.

"Acredito que o aumento da demanda vai causar a competição no setor, como aconteceu com as companhias aéreas. O resultado foi positivo, causou o aquecimento do mercado e preços mais justos, com mais acesso. Isso teria de acontecer com os hotéis. Os hoteleiros serão obrigados a se profissionalizar", complementa.

SETOR

O Ministério do Turismo informa que vem traçando políticas públicas e liberando linhas de crédito específicas para a organização do setor, como a linha ProCopa, do BNDES, que tem R$ 1 bilhão disponível para financiamentos exclusivamente para o setor hoteleiro até 2012.

O ministro Luiz Barretto declara, no entanto, que o setor de turismo é privado, e por isso o Estado não deve fazer esse gerenciamento. "Até para não substituir o empreendedorismo do setor."
Segundo ele, os bancos oficiais (Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) devem fechar 2010 com cerca de R$ 6 bilhões de financiamento para o setor do turismo. Em 2003, o montante financiado foi de R$ 1 bilhão.

"Isso significa que estamos trabalhando fortemente no viés importante que é o crédito. Estamos fazendo a nossa parte", detalha Barretto.

Barretto diz que é fundamental o diálogo entre todo o setor privado de hotelaria. "O ministério tem se preparado, mas os hoteleiros teriam de fazer sua parte. É difícil para o próprio ministério saber esses dados [indicadores de ocupação, taxas, rendimento]", diz o ministro.

"Tudo o que conseguimos hoje são dados regionais. A gente liga para as associações ou para um sindicato de hotéis e consegue um nível de ocupação, mas não consegue ter um índice nacional", critica Barretto.

Segundo um estudo da Ernst & Young divulgado no dia 13, o Brasil deve receber recursos de US$ 1 bilhão no setor hoteleiro nos próximos dois anos em razão do bom momento econômico e das perspectivas de desenvolvimento dos negócios com a Copa do Mundo e a Olimpíada.

O levantamento foi realizado com bancos de investimento e fundos especializados no segmento imobiliário e mais de 60 investidores internacionais, incluindo fundos de "private equity".

 

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