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11/08/2011 - 18h30

Para jornalista, a crise global pode causar a falta de crédito no Brasil

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DE SÃO PAULO

O jornalista Toni Sciarretta, 38, repórter de Finanças da Folha, participou de bate-papo nesta quinta-feira (11) sobre os desdobramentos da crise econômica mundial no mercado e no bolso dos brasileiros.

Para o jornalista, a maior preocupação é com o crédito. "Sempre faltou dinheiro no Brasil, mas se as torneiras fecharem, ficará inviável as obras da Copa, Olimpíadas. Nossa infraestrutura não sairá do papel".

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Arquivo Pessoal
Toni Sciarretta é repórter de Finanças da *Folha*
Toni Sciarretta é repórter de Finanças da Folha

O temor de uma nova recessão global começou após agência Standard & Poor's rebaixar na última sexta-feira a nota dos papéis da dívida dos EUA, que sempre foi triplo A, para AA+.

Participaram do bate-papo 405 pessoas.

O texto abaixo reproduz exatamente a maneira como os participantes digitaram suas perguntas e respostas.

*

(05:02:15) Toni Sciarretta: Olá pessoal. Vamos falar, de novo, da crise? Espero ajudar a tirar dúvidas e dar uma ideia da situação atual.

(05:13:00) Paulo: Os EUA irão aplicar mesmo o calote nos credores? O que isso acarretará para o mundo se acontecer de fato?

(05:21:03) Toni Sciarretta: Paulo, os EUA são os melhores pagadores do mundo... a questão é que eles já não têm a mesma situação confortável de antes e também enfrentam dificuldades políticas. Por esse motivo foram rebaixados de AAA para AA, uma nota que o Brasil está anos luz de conquistar.

(05:21:32) Hélio: Toni, hoje li uma matéria que dizia que o ouro era a nova moeda. É isso mesmo? Esqueça os dólares e os euros?

(05:24:17) Toni Sciarretta: Helio, o ouro sempre foi a moeda do mundo. No Brasil, na época da inflação, o ouro bombava na Bolsa; o BC até intervinha no ouro da BM&F. O ouro surfa na crise, no pânico, dispara em época de guerra. Só que deixou, faz tempo, de ser popular e de ser reserva de garantia de moeda. O mundo convive com um vácuo, em que o dólar não é mais o que era, mas não surgiu nada importante para substituir.. Vejam o caso do euro...

(05:24:37) Marcos: Toni, Boa Tarde. Desta vez, os governos não estão mais fragilizados para combater a crise, pois estão muito mais endividados do que antes de 2008?

(05:25:36) Toni Sciarretta: Sim, Marcos e essa é a maior preocupação. Os governos não têm mais bala na agulha (corte de impostos, juro para baixar etc) para lidar com a crise. Chegou a hora da verdade !!!

(05:25:44) Igor: Toni, o Diogo Mainardi certa vez disse: Em breve as commodities voltam ao seu preço normal (mais baixo do que o atual) e o Brasil se dana mais uma vez... Ele estava certo em seu pensamento?

(05:28:39) Toni Sciarretta: Igor, as commodities funcionam como uma moeda. Conforme o dólar foi desabando, desde 2008, as commodities subiram (o real, aliás, vai junto). As commodities são reserva de valor contra a desvalorização do dólar... se os EUA não recuperarem a economia, as commodities continuarão tendo essa função.

(05:29:04) Rodrigo: Concorda com o ex-presidente Lula, que disse que a crise é cada vez mais política do que econômica?

(05:32:58) Toni Sciarretta: Não concordo, Rodrigo. Temos razões econômicas para tudo isso. O problema é que os políticos não conseguem se entender. Veja a dificuldade do presidente Obama de elevar o teto da dívida. Veja no Brasil a dificuldade para cuidar da Previdência Social...

(05:33:17) hollowearth20: Olá, Toni. O que você acha que essa crise, pode causar a nós, brasileiros?

(05:35:24) Toni Sciarretta: Hollo..., Como disse a Dilma, não somos uma ilha. Mesmo. De cara, perdemos com o comercio internacional, preço de commodities... A maior preocupação é com o crédito. Sempre faltou dinheiro no Brasil, mas se as torneiras fecharem, ficará inviável as obras da Copa, Olimpíadas etc. Nossa infraestrutura não sairá do papel...

(05:35:40) Fernando: Há causas diferentes para a crise nos EUA e na Europa,, ou trata-se de uma única crise?

(05:37:22) Toni Sciarretta: São faces diferentes da mesma crise. É muito difícil ter crescimento em cima de crescimento, como faz a China. Subprime, dívida na Europa/EUA, são consequências de uma dificuldade do mundo de crescer...

(05:37:36) Marcos: Toni, Com essa crise forte na Europa, o Euro está em risco? A zona do Euro pode desmoronar?

(05:38:55) Toni Sciarretta: Fernando, são faces diferentes da mesma crise. Uma crise de crescimento baixo na Europa e também nos EUA... dai a atratividade dos Emergentes

(05:39:25) Marcos: Toni, Com essa crise forte na Europa, o Euro está em risco? A zona do Euro pode desmoronar?

(05:40:56) Toni Sciarretta: Marcos, o euro está na berlinda. Ninguém imaginou que Grécia e economias menores pudessem causar um estrago na coesão. Mas não acho que terá consequências políticas a ponto de esfacelar a UE. Vai ser dificil a convivência e as dificuldades poderão aumentar

(05:41:07) holves: A China sai fortalecida com a crise?

(05:42:03) Toni Sciarretta: Ninguém sai fortalecido com uma crise dessas, Holves. A China e Asia, na verdade, sustentam o mundo...

(05:42:16) Helô: Toni, aZona do Euro corre risco de acabar e seus países terem que voltar às suas moedas antigas?

(05:43:23) Toni Sciarretta: Helô, não veja uma volta dessas em hipótese alguma... Mas vai ser difícil conviver com tanta disparidade. O problema maior são dos países que carregam a zona euro nas costas como Alemanha e França, que agora está na linha de tiro

(05:43:38) 123: há risco de uma crise como a de 1929 acontecer?

(05:45:25) Toni Sciarretta: 123, Europa (e EUA em menor escala) pode ficar uma década sem crescer, como aconteceu com o Japão. Isso é muito sério. Em 29, a crise foi outra, faltou dinheiro... precisou vir uma guerra para acabar com aquilo tudo.

(05:45:43) Bruno Sanjê: O governo esta fazendo uma mega campanha que estamos preparados para crise. Voce concorda? Ou a situação pode piorar? E o Brasil continua crescendo ainda com a crise?

(05:47:35) Toni Sciarretta: Bruno, Se em 2008 já estávamos bem preparados para a crise, agora estamos mais ainda. O fato é que temos um mercado interno forte (até demais). Por outro lado, o Brasil precisa de muito dinheiro para tocar obras, se modernizar, ganhar muuuuita eficiência em tudo, educar o povo... As coisas são muito caras e muito inviáveis no Brasil. Uma crise mundial não ajuda em nada isso.

(05:48:11) Igor: O que causou efetivamente a crise na Grécia?

(05:49:37) Toni Sciarretta: A Grécia é uma economia pequena, super endividada, com problemas políticos seríssimos.. na verdade, não tinha bala na agula para implementar políticas expansionistas (corte de imposto etc) e estava menos preparada para o período ruim que veio.

(05:50:10) Tadeu: Li na Veja outro dia uma matéria em que mostrava a folga dos Espanhóis em Cádiz que eram sustentados pelo governo. Isso é uma das causas da crise?

(05:52:20) Toni Sciarretta: Isso, Tadeu, é uma face do Estado benevolente.. E olha que a Espanha é um dos mais linha dura na Europa. O Brasil tem muito disso também, infelizmente. Mas o problema maior é o baixo crescimento.

(05:52:31) Fernando: Toni, boa tarde. Todos falam da crise e da forma de combate, mas, afinal, quais as causas da crise?

(05:54:21) Toni Sciarretta: Fernando, o problema agora é fiscal, dos Estados que gastam mais do que podem. Em 2008, era mais financeiro, com o preço de papéis excessivamente maiores do que a economia real. Ambos são uma face das dificuldades da economia de continuar crescendo com sustentabilidade.

(05:54:40) tiago: Toni, o quanto essa crise afeta para quem vai pretende viver na europa?

(05:56:44) Toni Sciarretta: Tiago, talvez facilite na hora de comprar euro. Sem falar que as coisas estão baratinhas por lá. Por outro lado, anos de baixo crescimento trazem pessimismo geral, suspendem investimentos, podem sucatear serviço (muito melhores que os nossos)...

(05:57:22) magoo: TONI!sera entao q vamos dar conta de prepara o pais pra esses mega eventos esportivos?

(05:58:58) Toni Sciarretta: Magoo. Já era bem difícil sem crise, imagine agora!! Mas vejo faltar mais capacidade de gerenciamento, entendimento, política, do que dinheiro para as obras...

(05:59:10) Bruno Sanjê: Quanto tempo pode durar essa crise internacional?

(06:00:56) Toni Sciarretta: Bruno, tão falando em década perdida para Europa. O Japão, que viveu auge nos anos 80, até hoje não se recuperou... Mas há uma capacidade grande de resistência da Europa. Nessa hora, organização, educação, concorrência, instituições fortes, trazem ganhos enormes de eficiência.

(06:01:28) luiz henrique: como ficara a situacao dos demais paises da AL, notadamente a argentina q vive serios problemas de recessao no mercado interno?

(06:02:55) Toni Sciarretta: Luiz Henrique, América Latina (e mesmo a Argentina) estão no geral bem preparados para crise. Argentina perdeu a sua década depois do calote de 2001, mas no ano passado surpreendeu o mundo por sua capacidade de recuperação...

(06:03:24) Boris: A China sinalizou que gostaria de uma moeda mundial, como você avalia essa possibilidade?

(06:05:17) Toni Sciarretta: Boris, o dólar é uma tentativa de moeda mundial !! A China quer é se livrar do dólar, mas não apareceu nada a altura ainda. Veja a situação da zona euro com várias países diferentes tentando não romper a moeda única. Imagine isso levado a proporções mundiais... Totalmente invíável, no mínimo, por décadas.

(06:05:29) Nato: Toni, pode se dizer que essa crise marca o início do declínio dos EUA? Ou ainda falta muito pra isso?

(06:07:48) Toni Sciarretta: Nato, essa crise é parte do declínio da supremacia econômica dos EUA. O problema é que não surgiu nada, nem de longe, nem China, para ocupar esse vácuo. Quanta dificuldade tem o euro para se manter forte.

(06:08:20) Maior: Toni, embora todos muito otimistas com o futuro do Brasil e nossa presidente diz que estamos preparados para a crise, vejo várias e várias pequenas empresas pequenas e médias com sua atividade operacional normal, mas com um passivo bastante alto (dívidas em banco, princiupalmente). Vc têm observado isso?

(06:10:26) Toni Sciarretta: Tenho observado, Maior, a dificuldade que é para se fazer qualquer coisa no Brasil. Se já é difícil para as grandes empresas, imagine para as pequenas. O problema não é dívida. Dívida é boa para viabilizar projetos, ampliar investimentos, crescer. O problema são os custos, muito altos para se endividar no Brasil.

(06:10:51) Alice: Toni a Oceania é uma boa opção para quem quer ir para o exterior?

(06:12:47) Toni Sciarretta: Vc fala de Austrália/Nova Zelândia, Alice? São países jovens como Brasil, de boas perspectivas. Mas o mundo acontece é na Ásia.

(06:13:40) Elias_Jr: Como você encara o im pacto na economia brasileira a recente classificação da agência japonesa dos títulos brasileiros, para BBB. Isso não atrairía muitov investimento estrangeiro pro país, prejudicando ainda mais a questão do câmbio?

(06:15:35) Toni Sciarretta: Nenhum impacto, Elias. Só bumbo para o governo. Se o Brasil tiver um upgrade da S&P, Moodys, Fitch, no momento em que EUA são rebaixados.. aí, sim, veremos tudo isso que você falou. Mas, segundo essas agências, estamos bem longe disso..... Pessoal, adorei as perguntas. Até a próxima.

(06:15:47) Moderador UOL: O Bate-papo UOL agradece a presença de Toni Sciarretta e de todos os internautas. Até o próximo!

 

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