Entenda por que o porco tem simbologia negativa nas religiões
"Não deis aos cães o que é santo, nem lanceis ante os porcos as vossas pérolas, para que não as pisem com os pés e, voltando-se, vos dilacerem." Esse é apenas um dos trechos bíblicos que aborda os suínos de uma forma negativa. Para o doutor em teologia Paulo Augusto de Souza Nogueira, professor da Universidade Metodista, a rejeição em relação ao porco está ligada à simbologia do animal.
"Não atire pérolas aos porcos. Essa expressão metafórica usa de extremos. Você pega algo precioso e joga para um ser desprezível. O significado deveria ser no âmbito da polêmica religiosa como: 'não entregues verdades religiosas aos pagãos ou aos descrentes'", explica.
O episódio em que Jesus transfere espíritos imundos para os corpos dos porcos também está carregado de elementos simbólicos, segundo o teólogo. "É uma associação triplamente imunda. A legião, como potência estrangeira que domina, os demônios como seres imundos, e os porcos. E eles se atiram no mar, que para o judaísmo é símbolo do caos".
Para a cultura chinesa, no entanto, o porco tem um significado positivo. De acordo com o teólogo, na Grécia, na Roma Antiga, o porco também representava algo bom, ao ponto de ser sacrificado aos deuses.
Carne de porco
"Faz sentido a imagem que a gente tem do porco, um animal historicamente carregado de rejeição, que é aquilo que a gente não quer ser, mas ao mesmo tempo, se a gente observar o uso que o porco tem para a ciência, não seria científico ratificar que o porco não serve para nada", afirma Luiz Felipe Pondé, filósofo e colunista da Folha.
Segundo o filósofo, é provável que a carne de porco e a de boi fossem proibidas para o consumo por possuírem cores escuras e, por isso, eram consideradas "figuras das trevas".
A Igreja Adventista do Sétimo Dia, um cristianismo específico do tronco das religiões abraâmicas, além do porco, não recomenda o consumo de outras carnes, de acordo com o filósofo.
O pastor Ronaldo Alberto de Oliveira, da Igreja Adventista do Sétimo Dia de Moema, em São Paulo, diz que alimentos como peixes sem escamas, frutos do mar, carne de javali, de coelho, de cavalo e de porco não devem ser consumidos pelos adventistas. Segundo ele, estas restrições alimentares são baseadas em Levítico 11.
"Quando você abre o círculo da alimentação, você vê que não é só o porco, mas a própria carne é vista como um alimento que faz mal, que intoxica, porque deixa o sistema digestivo pesado e a pessoa, depois que come, se sente indisposta", analisa Pondé.
No hinduísmo, o porco e a vaca também não podem servir de alimentos. O primeiro por ser considerado impuro, e o segundo porque é considerado sagrado. "Isso é interessante, porque, às vezes, com relação às religiões, as interdições ocorrem não só por ser imundo, mas também por representar a limpeza", diz o filósofo.
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