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Putin explica decisão de candidatar-se à Presidência outra vez
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ELLEN BARRY
DO "NEW YORK TIMES", EM MOSCOU
O primeiro-ministro Vladimir Putin divulgou na segunda-feira a explicação mais pessoal que apresentou até agora de sua decisão de retornar à Presidência russa, rejeitando a possibilidade de transformações políticas aceleradas e retratando-se, num contexto histórico, como a figura que deve conduzir o país para fora de uma longa e dolorosa "zona de turbulência" que estaria apenas começando.
Publicado no jornal diário "Izvestia", o manifesto de Putin estende um convite aos cidadãos para que travem um diálogo amplo com os governantes do país, dedicando atenção considerável às implicações políticas da crescente classe média russa. Mas Putin também transmite a mensagem de que não está disposto a negociar com figuras da oposição que, segundo ele, não têm uma agenda clara para o país.
"Um problema recorrente na história russa é o desejo de parte das elites nacionais de dar saltos, de aderir à revolução ao invés do desenvolvimento sequencial", disse o documento.
"Não apenas a experiência russa, mas a de todo o mundo mostram o resultado fatal dos saltos históricos: pressa e subversão, sem criação."
Em seguida Putin argumentou que um novo conjunto de líderes seria igualmente vulnerável à corrupção, ao parasitismo e à estagnação, problemas que, segundo ele, são crônicos na classe política russa.
Ele escreveu: "Em cada oportunidade, os 'subversores' que estão à nossa frente se tornam 'cavalheiros satisfeitos com si mesmos', que se opõem a quaisquer mudanças, protegendo zelosamente seu status e seus privilégios. Ou acontece o inverso: os 'cavalheiros' viram 'subversores'."
Putin ofereceu poucas explicações ao público sobre a agenda política que o levou a pretender tomar o lugar do presidente Dmitri Medvedev e retornar à Presidência, e o anúncio que fez da decisão, em setembro, irritou os eleitores, que sentem que já não têm participação no processo político.
O novo documento procura tratar diretamente desse ponto.
"Quero declarar novamente por que concordei em me candidatar à Presidência da Rússia em 2012", diz o documento, mas então apresenta uma lista já conhecida das realizações de Putin na superação da turbulência social dos anos 1990.
Uma plataforma de campanha divulgada na quinta-feira no site de Putin na internet mal reconheceu as inusitadas manifestações públicas que pegaram o Kremlin de surpresa em dezembro.
Na época, o porta-voz de Putin disse que a plataforma de campanha não era realmente de Putin e que seu manifesto pessoal, redigido por ele sozinho durante suas férias de inverno, seria divulgado futuramente.
O novo documento reflete a preocupação de Putin com a história russa: seu título, "A Rússia Concentra sua Força", é o mesmo de um relatório de 1856 escrito pelo estadista czarista Alexandr M. Gorchakov.
O texto deste propunha uma política externa imperial feita de alianças flexíveis e relativo isolamento dos assuntos europeus, movida em grande medida por considerações domésticas.
O documento de Putin pinta um retrato sombrio de turbulência global crescente na qual choques econômicos convergem com tensões sociais e étnicas tóxicas.
Putin disse que outros países --os Estados Unidos, presume-se-- estão alimentando esse processo intencionalmente, para isso apoiando levantes como os do Oriente Médio. Ele retrata a Rússia como interlocutora necessária entre o Ocidente e o Oriente.
"Em várias regiões ouvimos as declarações de forças agressivamente destrutivas que, em última análise, ameaçam a estabilidade de todos os povos da terra", diz o documento de Putin.
"Objetivamente falando, os aliados delas revelam ser os Estados que procuram 'exportar a democracia' com a ajuda de meios militares e de força."
"Sob essas condições, a Rússia pode e deve exercer com valor o papel ditado por seu modelo cívico, sua história, geografia e genoma cultural grandiosos, que combinam de modo orgânico a base fundamental da civilização europeia com muitos séculos de experiência de cooperação com o Oriente, onde estão se desenvolvendo novos centros de influência econômica e política."
Putin reiterou várias vezes a questão do governo da maioria, que, argumentou, é a base fundamental do processo democrático.
Ele viu com maus olhos a mobilização que aconteceu em dezembro, sugerindo que os eleitores que se sentiram inspirados pelos protestos de rua incomuns vão se desencantar em pouco tempo e afastar-se da ação política direta.
Nesse ponto o tom de Putin passou do estudioso para o irritado, argumentando que os dissidentes devem pensar mais além das eleições e preocupar-se com as escolhas políticas de longo prazo do país.
"Hoje as pessoas estão falando sobre várias formas de renovação do processo político", escreveu Putin.
"Mas sobre o que se pensa que deveríamos estar negociando? Sobre como nosso poder deve ser estruturado? Sobre se ele deveria ser entregue a 'pessoas melhores'? E, para além disso, o quê? O que devemos fazer?"
TRADUÇÃO DE CLARA ALLAIN
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