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25/05/2012 - 02h30

Com 47% das intenções de voto, nacionalista é favorito no México

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SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Com 47% da preferência de voto dos mexicanos, o candidato do PRI (Partido Revolucionário Institucional), Enrique Peña Nieto, é o favorito para vencer as próximas eleições no país, em julho.

Esse advogado de 46 anos, midiático e de ar jovial, tem mantido uma considerável diferença com relação a seus opositores, Josefina Vázquez Mota (PAN), e Manuel López Obrador (PRD), agora empatados, com 25%, segundo a pesquisa Mitofsky.

Uma vitória de Peña Nieto significará o retorno ao governo do partido que comandou o México por mais de 70 anos (1929-2000). No passado, o PRI caracterizou-se pelo discurso nacionalista e estatizante, uma espécie de "peronismo" à mexicana.

Significará, também, a derrota do projeto do Partido da Ação Nacional, que governou durante 12 anos e que recebe muitas críticas agora pelo fato de não conseguir domar a narcoviolência. Na atual gestão de Felipe Calderón, já houve mais de 50 mil mortes decorrentes da guerra contra o crime organizado.

Leia, abaixo, os principais trechos da entrevista que Peña Nieto concedeu à Folha, por e-mail.

Folha - Como o sr. vê a perspectiva do retorno do PRI ao governo? Que características dos antigos governos do partido serão mantidas?
Enrique Peña Nieto - Nas últimas décadas, o México transitou em direção a uma democracia eleitoral plena. Ainda assim, não se transformou numa democracia de resultados e de direitos plenos. As altas expectativas que foram geradas pela alternância de poder e seu posterior fracasso geraram uma desilusão entre os mexicanos.
Nesse período em que ficou fora, o PRI soube renovar-se para converter-se num partido político competitivo, que sabe ganhar eleições, reconhecer derrotas e governar com eficácia numa democracia.
Somos uma opção política que representa uma mudança de rumo, temos vontade e capacidade para realizar as transformações que o México precisa.
Os priístas estamos orgulhosos dos feitos de nosso partido durante o século 20, mas também conscientes de nossos erros. Aprendemos com eles para não os repetirmos.
A essência do novo PRI é a nova geração de priístas da qual orgulhosamente formo parte.
Sabemos fazer política sob regras equitativas sancionadas por organismos autônomos e independentes e em um contexto de maior transparência, plena liberdade de expressão e sob a vigilânica de uma sociedade informada e participativa.

Folha - Como o sr. vê o comércio bilateral com o Brasil?
Peña Nieto - É prioritário e tem grandes possibilidades de crescimento. O Brasil é o principal sócio comercial do México na América Latina e o principal destino dos investimentos mexicanos na região.
Além disso, nossos países estão unidos por importantes vínculos históricos, culturais e econômicos que devem servir de base para incrementar nossos intercâmbios e fortalecer um diálogo e um comércio benéfico.
É desejável alcançar um acordo bilateral que possa ir além da dimensão comercial. Existem esplêndidas oportunidades de cooperação em setores estratégicos, como o energético, e interesses que nossas nações compartilham como potências emergentes.
Ainda assim, é importante defender um intercâmbio comercial justo e conforme a compromissos internacionais adquiridos, em benefício de ambos os países.

Folha - Como o sr. vê a relação comercial do México com o Mercosul? Qual sua opinião sobre as medidas protecionistas que estão sendo adotadas por alguns países?
Peña Nieto - É uma relação positiva, mas que mostra um crescimento muito menor do que seu verdadeiro potencial.
Creio que entre nosso país e as nações do Mercosul existem infinitas vias que podem ser percorridas com a finalidade de incrementar favoravelmente o comércio. Nelas pretendo enfocar minha gestão presidencial.
Unicamente através de mercados mais abertos e livres é que poderemos alcançar um maior crescimento econômico.
Por isso considerei equivocadas todas essas medidas recentes contrárias ao processo de abertura comercial.

Folha - O presidente Calderón fez críticas muito duras a Cristina Kirchner por conta da estatização da petroleira YPF. Como o sr. vê a questão?
Peña Nieto - Reconheço a soberania do governo argentino, eleito democraticamente, e seu pleno direito de tomar as decisões de acordo com seu interesse nacional.
Penso que o México deve recuperar sua tradição diplomática de respeito aos princípios de reciprocidade e de não intervenção nos assuntos internos de outros Estados.
Agora, como presidente, uma de minhas prioridades será fomentar o crescimento econômico e, para isso, incentivar o investimento através da segurança jurídica tanto para investidores nacionais como para os estrangeiros, para que vejam, no México, um mercado propício, seguro e idôneo para fazer negócios.

Folha - O sr. disse estar a favor de uma abertura da Pemex ao capital privado. A Petrobras seria o modelo?
Peña Nieto - Estou convencido de que, para que o México se transforme numa potência energética, é necessário tomar medidas audazes e nos despojarmos de ataduras ideológicas, como já se fez com sucesso em outros países.
Defendo a necessidade de impulsionar uma reforma energética que alcance alguns objetivos. Um deles é incrementar substantivamente os níveis de investimento em exploração, refinação e petroquímica conforme o potencial petroleiro do país, aproveitando capital, tecnologia e investimento de terceiros. Outro é garantir o
abastecimento interno de energia a preços competitivos. Depois, manter nas mãos do Estado o controle da indústria petroleira nacional.
O modelo da Petrobras é um exemplo muito interessante para o México, motivo pelo qual reitero meu interesse em aprofundar a cooperação com o Brasil em matéria energética.

Folha - Qual será sua atuação diante da guerra ao narcotráfico, que já matou mais de 50 mil mexicanos?
Peña Nieto - Temos de recuperar a paz e a liberdade do país. A segurança é uma obrigação do Estado e, nesse sentido, a decisão do atual governo federal de enfrentar com determinação o crime organizado é correta.
Porém, a estratégia que se seguiu é notoriamente falida e a prova disso é o doloroso custo humano, social e econômico dessa guerra.
O principal erro foi partir de uma compreensão limitada do problema e propor uma solução concentrada apenas no uso da força.
Deixou-se de lado outros fatores como a prevenção e as condições sociais nas comunidades onde são recrutados os jovens que se incorporam às filas do crime organizado.
No meu governo vamos reformular a estratégia a partir do paradigma da segurança democrática e cidadã.
Defendemos uma nova estratégia para reduzir a violência com o objetivos específicos de diminuir significativamente o número de assassinatos, sequestros, extorsões e o comércio de pessoas.
Vamos fortalecer a prevenção do delito e a participação comunitária para abrir as janelas da oportunidade para os jovens e fechar as portas da criminalidade. Também profissionalizar os corpos policiais e aumentar a eficácia do sistema de justiça.
Quero gerar os acordos necessários para construir una política de longo prazo, que conte com um orçamento adequado e o respaldo das três ordens do governo, a sociedade civil organizada, os meios de comunicação e os partidos políticos.

Folha - Os candidatos opositores o acusam de ter uma cobertura privilegiada por parte dos grandes meios de comunicação no México. Como o sr. vê a questão?
Peña Nieto - Gozamos de uma ampla liberdade de imprensa e, a partir de uma recém implementada e muito estrita lei eleitoral, de uma cobertura midiática bastante equitativa.

Folha - Em que sentido sua experiência como governador do Estado do México o ajudará a ser presidente?
Peña Nieto - Tive o grande privilégio e a enorme responsabilidade de governar o Estado do México, o mais povoado do país, com mais de 15 milhões de habitantes. Nele se gera hoje um de cada 10 pesos da riqueza nacional e sua economia é três vezes maior que a da Costa Rica.
Pode-se dizer que o Estado do México representa uma importante amostra de todo o país, assim pude conhecê-lo melhor.

 

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