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05/06/2012 - 02h30

Mundo precisa aceitar crescimento menor da China, diz economista

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SHEILA D´AMORIM
DE BRASÍLIA

O Brasil e o resto do mundo precisarão se acostumar com um crescimento menor da China, em torno de 6,5% a 7% ao ano. O alerta vem do economista-chefe do banco português Espírito Santo (BES), Carlos Andrade.

Em visita ao Brasil para falar da situação europeia a investidores brasileiros, ele disse à Folha que o maior risco atual é a Grécia sair da zona do euro porque isso jogaria o mundo "numa zona desconhecida".

No cenário dele, porém, a indefinição sobre o futuro da Grécia e de economias como a espanhola deverá paralisar linhas de crédito e investimentos nas próximas semanas.

Folha - Qual a avaliação do estágio atual da crise na Europa?
Carlos Andrade - Há uma preocupação grande com a Grécia e com o setor bancário espanhol que está afetando o nível de confiança. Acreditamos que o Banco Central Europeu (BCE) adotará medidas necessárias e que a Grécia se manterá na zona do euro. Qual o risco de uma saída da Grécia para zona do euro?
Os impactos diretos são relativamente contidos e suportáveis. O peso da Grécia na zona do euro é reduzido, pouco mais de 2% e a exposição do setor financeiro privado europeu à Grécia se reduziu bastante no último ano. A grande exposição está nos credores oficiais (BCE, governo e FMI) e é fácil de digerir. Portanto não há esse risco de ser um novo evento como Lehman Brothers.

Quais os impactos indiretos?
O impacto indireto é mais incerto e pode gerar falta de confiança em outras economias da zona do euro, com fuga de depósitos de países como Espanha, Itália e Portugal. Mas isso não está se concretizando. Os depósitos bancários em Portugal estão aumentando e não diminuindo. Acredito que numa crise de confiança, o BCE atuaria muito rápida e agressivamente para conter qualquer contágio e injetar liquidez no sistema financeiro de forma ilimitada.
Essa análise inclui um agravamento da situação bancária na Espanha? Lá os depósitos não estão aumentando.
É uma situação diferente. A Espanha tem problema no setor bancário e é o que difere de Portugal. Os bancos portugueses não tiveram exposição à bolha imobiliária como a Espanha e estão se recapitalizando. A Espanha, no entanto, é uma economia forte, não é como a Grécia. Ela tem condições para resolver a situação, mas de imediato gera alguma estabilidade nos mercados.

Mas está difícil retomar crescimento na Europa. Quando isso será possível?
Enquanto tivermos as medidas de estabilização, o crescimento se torna mais difícil. Nossa perspectiva é que a economia da zona do euro como um todo retome crescimento em 2013.

Qual a projeção de crescimento?
Para Portugal ainda é residual em 2013, mas já positivo. Para zona do euro creio que será acima de 1%. É um crescimento ainda reduzido, sem dúvida. E para este ano?
Este ano haverá contração da atividade na zona do euro, perto de 0,3% negativo. Para Portugal, 2,99% negativo.

Qual o maior risco na europa para as economias emergentes hoje?
É o risco de a Grécia chegar a uma situação extrema em que a própria Grécia decida sair da zona do euro. É um cenário que não consideramos como central, mas temos que admitir que esse risco está lá.

Porque esse seria o pior cenário, já que participação da Grécia é pequena?
Esse risco é o maior porque entraríamos numa zona desconhecida. Ninguém pode dizer com certeza qual seria o verdadeiro impacto dessa saída. Isso gera um clima de incerteza e de quebra de confiança na economia, nos mercados financeiros. O impacto poderia ser alargado a outras áreas. Entraríamos numa zona desconhecida com impactos incertos, penalizando confiança, mercados financeira e a economia de todo lado.

Qual o potencial de estrago da crise na Europa para economia emergentes que precisam de investimentos e parceiros europeus?
Há um impacto por essa via [investimentos]. Mas é importante destacar que se compararmos com a crise do Lehman Brothers [em 2008] não acredito num paralelo entre os dois eventos. Lá havia maior incerteza sobre as exposições das instituições financeiras às perdas do Lehman Brothers. O movimento de capitais também era bem maior. No caso da Grécia, sabemos quem tem exposição, o setor financeiro privado reduziu significativamente sua exposição, bancos americanos também. Bancos espanhóis e portugueses já reconheceram as perdas e, com isso, o impacto seria bem mais limitado do que no evento do Lehman.

Não vamos reviver a crise de 2008?
Não quero parecer demasiado confiante, mas acredito que o efeito seria bem menor. Reconheço que existe o receio de o impacto ser maior, mas acho que tem algum exagero.
Mas há risco de prolongar um período de baixo crescimento no mundo.
Minando a confiança dos agentes econômicos cria-se um impacto sobre o crescimento da economia. Mas penso que a dimensão desse impacto no mundo e na Europa dependerá da rapidez e agressividade da resposta das instituições europeias.

Investimentos e projetos portugueses e europeus no Brasil serão engavetados?
Os números que temos dão conta do aprofundamento da relação comercial e de investimentos entre Portugal e Brasil. Portugal tem se mostrado destino atrativo para investimento externo e tem havido interesse de empresas brasileiras. Haverá a privatização da TAP (companhia aérea portuguesa) que atrairá empresas brasileiras. Penso que essa relação é oportuna nesse momento. É certo que nas próximas semanas, até ficar claro a situação da Grécia e de como a Espanha vai responder a essa crise bancária poderá haver uma pausa para ter mais clareza da direção que será tomada.

*Vai faltar linha de crédito para financiar o comércio exterior? *
Penso que sim. Penso que até o final de junho devemos ter uma pausa em função das expectativas. Não creio que chegue à mesma situação de 2008/2009. Essa crise não tem a mesma natureza. Como a Europa vê a China. Ela é a tábua de salvação?
Vejo a China como um dos motores da economia mundial, sem dúvida. Mas ela está passando por um processo de desaceleração controlada do crescimento, que é necessário. A China não pode crescer sempre 9%, 10%, 11% porque isso é um risco também para inflação. Teremos que nos acostumar com crescimento da economia chinesa da ordem de 6,5% a 7%. Até chegarmos lá temos que viver com essa realidade da desaceleração. Em todo caso, crescer 6,5% a 7% é ainda um importante estímulo à procura mundial e ela vai se manter em destaque.

Com esse patamar na China é possível gerar crescimento maior em economias como a brasileira da ordem de de 4%, 5% ao ano?
A China vai partir para um patamar de crescimento mais baixo mas mais sustentável. Ela continuará crescendo bastante. Fazendo esse ajuste, o crescimento será estabilizado, mas continuará sendo fonte de procura para todos os mercados. A capacidade de crescimento no Brasil é muito motivada também pela demanda doméstica. Há muito a ser feito em infraestrutura, logística, para Copa do Mundo, jogos olímpicos. É um caminho para sustentar o crescimento.

 

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