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28/07/2012 - 12h27

Sírios relatam ofensiva de Assad em Aleppo

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DA FRANCE PRESSE

Espremidos em um micro-ônibus, homens conversavam com a voz cansada, enquanto mulheres e crianças se abraçavam assustadas. Eles fugiam de Aleppo e pronunciam apenas uma palavra: bombardeio.

Na entrada de Atareb, uma cidade 30 km a oeste de Aleppo, pessoas chegam sem parar desde sexta-feira. Elas estão fugindo da ofensiva do Exército de Bashar Assad, iniciada na manhã deste sábado.

"Mais de 3.000 refugiados passaram por aqui ontem", disse um rebelde que controla os documentos de identidade das pessoas que chegam. O controle serve para buscar policiais, militares ou "shabbihas" (mercenários do regime) infiltrados. "Desde esta manhã, não parou de chegar gente, mais de mil civis fugiram pela estrada", ele assegura.

A intensidade dos bombardeios obrigou milhares de habitantes de Aleppo a pegarem a estrada, em busca de refúgio em áreas relativamente poupadas pelo conflito, nas aldeias controladas pelos rebeldes ou do outro lado da fronteira, na Turquia.

Um ônibus é parado pelos rebeldes em um posto de controle. A bordo, os refugiados estão em silêncio, ainda chocados com a partida repentina, sufocados pelo calor. Nenhum diz seu nome, mas alguns chegam a pronunciar algumas palavras, sem mencionar de onde vêm os tiros, quem luta e sem acusar o Exército regular ou os rebeldes.

Reuters
Mulheres rezam em frente aos túmulos de parentes mortos pelas forças do ditador sírio Bashar Assad
Mulheres rezam em frente aos túmulos de parentes mortos pelas forças do ditador sírio Bashar Assad

ALEPPO

"Já faz quatro dias que não há água ou eletricidade em Soukkari", um bairro no sul de Aleppo, relata um homem, perto de sua esposa que segura um bebê nos braços. "Esta manhã (sábado), as bombas caíram a cada dois ou três minutos sobre nossas casas, nossos apartamentos", contou.

A família correu para a rodoviária e fugiu da cidade sob tiros. "Vi os aviões atacando", afirma o homem irritado, que descreve "um barulho enorme" e "crianças chorando". Ele não disse mais nada. Os rebeldes estão com pressa, o ônibus tem que partir.

Em outro veículo, um sírio de 60 anos, com óculos de lentes grossas, denunciou o "bombardeio indiscriminado".

"As bombas caíam por todo o bairro Firdaous (sul). Edifícios desabaram. Há mortos e feridos sob os escombros", assegura. "O que se pode fazer senão fugir?", disse ele, segurando as mãos em um gesto de impotência.

Os refugiados descrevem o mesmo bombardeio em Salaheddin, reduto rebelde de Aleppo, Mashhad e Firdaous Soukkari.

Muitos partiram ao amanhecer. "Esperamos dar seis horas (00h00 de Brasília) e fugimos. Olhe para os meus filhos", disse um homem na parte traseira de uma picape apontando para uma dezena de crianças. "Eu não tenho certeza se vamos voltar".

Os rebeldes verificam cada veículo e os documentos de cada homem em idade de combate. "Nós caçamos os shabbihas", afirma um deles, explicando que o seu comando tem "listas".

"Nós olhamos em que bairro os refugiados vivem e vamos verificar com o comando". Pela manhã, eles prenderam um policial que foi levado para interrogatório.

Um combatente do Exército Sírio Livre (ESL), que reúne principalmente militares que aderiram à revolução, chega ao posto de controle. Ele é o primo do policial preso. O homem assegura que seu primo é "louco" e deve ser liberado. Ele sai de mãos vazias.

Pierre Torres/France Presse
Família síria foge de Aleppo diante da ofensiva das forças leais de Bashar Assad à cidade neste sábado
Família síria foge de Aleppo diante da ofensiva das forças leais de Bashar Assad à cidade neste sábado

EM BUSCA DE PÃO

Atareb, cenário de violentos combates há várias semanas, enfrenta uma fuga em massa de moradores.

Fora de uma imensa padaria industrial, que abastece várias aldeias, centenas de refugiados de Aleppo esperam durante horas para conseguir pães vendidos em sacos por 15 liras sírias (cerca de 25 centavos).

A fábrica funciona com meia capacidade. "Os trabalhadores não vêm para trabalhar, eles estão com medo dos bombardeios", disse um empregado que mostra os buracos de balas que perfuraram o teto e as paredes do local.

A fábrica tem reduzido sua produção. "Passamos de 35.000 para 10.000 sacos de pão", afirmou um outro funcionário.

"Fomos forçados a racionar o pão a três sacos por pessoas, pois muitos entram em pânico e querem levar dez", acrescenta.

Trabalhadores e moradores estão no limite. Alguns sobem nos portões e nas paredes.

Quando o portão se abre, dezenas de sírios correm para dentro da fábrica. Um guarda atira para o alto para controlar a situação.

 

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