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01/10/2012 - 06h30

Romney, dos ricos para os ricos

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MICHAEL BARBARO
ASHLEY PARKER
DO "NEW YORK TIMES"

No Illinois, Mitt Romney, o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, presenteou doadores ricos com recordações de como, adolescente, ofereceu-se como voluntário para limpar um campo de futebol coberto de lixo. É o tipo de relato humanizador que ele costuma evitar em eventos da campanha.

Na Flórida, ele apresentou a doadores para sua campanha uma lista das agências federais que pretende fechar ou consolidar. É um grau de especificidade de informação que ele não ofereceu aos eleitores.

Num evento de levantamento de fundos no Wyoming, ele cobriu de elogios o ex-vice-presidente Dick Cheney, alinhando-se com uma Presidência republicana impopular, de uma maneira que reluta em fazer em público.

Por sua franqueza política, os comentários feitos por Romney a doadores em Boca Raton, Flórida, e gravados em segredo -quando ele disse que 47% dos americanos são dependentes de ajuda do governo e não pagam imposto de renda- pareceram chocantes e incomuns para quem vem digerindo suas declarações públicas há um ano.

Eles sugerem a possibilidade de existirem dois Romney: o candidato cuidadoso no pódio em comícios e o homem sem papas na língua que se manifesta a portas fechadas, com doadores para sua campanha.

Romney argumenta que sua visão e seus valores são coerentes, não importa quem esteja na plateia. "Vocês vêm a meu evento de arrecadação de fundos e ouvem a mesma mensagem que eu transmito às pessoas: que o presidente e eu temos abordagens muito diferentes", disse ele a repórteres depois que o vídeo começou a circular.

Uma revisão das declarações de Romney em dezenas de eventos de levantamento de fundos destaca diferenças sutis e importantes no modo como ele fala com eleitores e doadores.
Os candidatos presidenciais sempre adaptaram suas mensagens para os públicos diferentes que as ouvem, mas este ano um único grupo -o dos doadores ricos- vem sendo alvo de mais tempo e energia que nunca.

Pelo fato de optarem por não fazer parte do sistema de financiamento federal de campanha, Romney e o presidente Obama se comprometeram com uma corrida financeira implacável que exige que sejam realizados mais eventos de arrecadação de fundos que eventos de campanha públicos. Romney participou de 11 eventos de arrecadação de fundos, frente à cinco eventos divulgados e abertos ao público; já Obama foi a seis eventos de arrecadação de fundos e cinco comícios eleitorais.

Depois de um incidente embaraçoso quatro anos atrás, quando Obama teceu reflexões sobre eleitores da classe trabalhadora que "se aferram às armas ou à religião", hoje, o presidente parece não fugir de seu discurso eleitoreiro padrão, mesmo quando está a portas fechadas.

Mas Obama também modifica seu discurso quando fala com determinados grupos. Diante de doadores ricos ele suaviza ou omite as farpas em relação ao "sucesso pessoal" de Mitt Romney.

Romney repete muitas das mesmas falas. Mas o clima íntimo das recepções (em residências e hotéis), sua natureza de transação (frequentemente se paga US$ 75 mil por casal à campanha republicana) e a familiaridade de Romney com a plateia (cheia de outros empresários) parecem deixar o candidato republicano à vontade.

Ele fala mais livremente, revela sua estratégia, relata histórias pessoais detalhadas e responde a perguntas detalhadas.

Romney reconheceu que os doadores querem informação diferente daquela do grande público. "Há algo que as pessoas que arrecadam fundos e vão doar recursos próprios estão muito interessadas em saber: se você tem ou não tem condições de vencer", explicou ele.

Nos comícios, Romney fala por 20 minutos e depois cumprimenta eleitores com apertos de mão. Ele raramente responde perguntas. Nos eventos de arrecadação de fundos, a história é outra. Ele responde a perguntas por até uma hora, dando respostas que definem sua candidatura em profundidade.

Um doador importante, o investidor imobiliário texano Ray Washburne, relatou que recentemente, num evento no Texas, doadores individuais encheram Romney de perguntas sobre subsídios ao etanol e perfurações petrolíferas em terrenos federais.

"Os doadores querem saber que são ouvidos", disse Washburne. "Eles não querem gritar diante da TV. Querem conversar com o candidato cara a cara, com Mitt olhando-os nos olhos."

 

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