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07/10/2012 - 06h50

Manter apoio na periferia é vital para êxito de Chávez na eleição

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FLÁVIA MARREIRO
ENVIADA ESPECIAL A CARACAS

Em Antímano, uma área pobre do oeste de Caracas, dois eleitores expõem os motivos pelos quais Hugo Chávez, 58, vai enfrentar hoje nas urnas a eleição mais difícil de seus quase 14 anos de poder na Venezuela.

"Quem não gosta do presidente é quem tem dinheiro. Ninguém fez o que ele fez, com ajuda [aos pobres]. As pessoas ficam felizes só de vê-lo", diz Oscar Rodríguez, 28, ambulante que reflete a visão do Chávez herói dos pobres e alvo de devoção na periferia.

Perto dali, à espera de uma van precária, a vendedora Elizabeth Ramírez, 29, matiza o cenário. Ela sempre votou a favor do governo. Pela primeira vez, vai votar na oposição.

"Perdi dois irmãos num ano só", diz ela. E se emociona. Ramírez espera que o oposicionista Henrique Capriles dê um jeito na delinquência.

Chávez venceu na região --parte do Distrito Capital, o miolo da cidade que abriga o Palácio Miraflores-- na eleição presidencial de 2006 com 26 pontos de vantagem, mas viu a margem cair a menos de dois pontos nas eleições parlamentares de 2010.

O desafio do presidente na votação de hoje, quando quer obter seu terceiro mandato consecutivo de seis anos, é justamente estancar a sangria de votos em zonas populares urbanas como essa, fenômeno em curso desde 2008.

É nessas regiões que aparece o maior problema para o governo: para parte de sua base de eleitores, nem os generosos programas sociais ou o crescimento da economia de 5% neste ano são capazes de neutralizar o desgaste do chavismo com a crise de gestão e a escalada da violência.

A maior parte das pesquisas dá vantagem ao presidente, mas também aponta o avanço da oposição nas últimas semanas.

REFÉM DA AGENDA

Chávez, que enfrentou um câncer cujos detalhes permanecem obscuros, dosou aparições na campanha e conseguiu tirar sua saúde do debate. Não pôde, porém, se esquivar das críticas diárias do opositor às falhas nos serviços do governo.

"O candidato do governo diz que quer a paz mundial, mas quem cuida da paz dos venezuelanos? Independência para a mãe de família é que seu filho volte para casa vivo", disse Capriles, ironizando a grandiloquência do adversário, que tornou a Venezuela um ator relevante na geopolítica regional.

"Em 2006, Chávez era um rei. A economia crescendo, uma oposição destruída, o país não estava nas condições de infraestrutura que está agora", diz Alonso Moleiro, colunista do jornal opositor "Tal Cual".

Moleiro observa que, seis anos depois, o presidente enfrenta uma oposição cuja cúpula defende a democracia --sem as aventuras golpistas do passado-- e é defensora da Constituição proposta e aprovada por Chávez em 1999.

"Foi um aprendizado que custou caro. Mas a oposição entendeu que ou o país é para todos ou não é para ninguém", afirma.

Capriles, 40, do partido de centro-direita Primeiro Justiça, apresenta-se como um "progressista" pragmático que quer seguir o "modelo brasileiro" de gasto social com incentivo ao investimento privado.

Contra o pouco espaço na TV ante as cadeias obrigatórias que o presidente seguiu fazendo durante a campanha (não há horário eleitoral gratuito no país), o opositor repetiu uma estratégia que o próprio Chávez usou em 1998, em sua primeira campanha: frisou em quase 300 cidades que não acabará com os programas sociais do governo.

Já Chávez diz que precisa vencer para levar sua revolução a "um ponto irreversível".

Se o presidente vencer, os analistas não esperam mais mudanças na área energética --o país das maiores reservas do mundo de petróleo precisa do investimento das multinacionais privadas para financiar o socialismo.

Preveem mais centralização de poder e esvaziamento de prefeituras e governos estaduais.

Se Capriles ganhar, é difícil imaginar uma transição suave: Chávez tem aliados na Corte Suprema de Justiça até 2020, o Congresso, pelo menos por mais um ano e meio, e um punhado de generais, incluindo o ministro da Defesa, prometem lealdade a ele.

 

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