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04/11/2012 - 06h08

Crescer com equilíbrio e mudar a política são próximos desafios

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LUCIANA COELHO
DE WASHINGTON

Se na última década foi a epifania de um mundo apolar e a ascensão de atores não estatais, sobretudo no papel de inimigos como a rede terrorista Al Qaeda, nos próximos dez anos é a noção das próprias fraquezas que delineará os desafios dos futuros presidentes dos EUA.

O retrato traçado à Folha por alguns dos principais estudiosos da política doméstica e externa americana (e enturvado pelo diagnóstico da saúde financeira do país feito pelo FMI) é menos sinistro do que o de dez anos antes, mas não menos desafiador.

Os problemas, se mais mundanos, são também mais profundos e intrincados, dada a radicalização política.

A crise econômica que eclodiu em 2008 tornou urgentes dilemas surgidos na esteira dos atentados terroristas do 11 de Setembro e do subsequente envolvimento americano em duas guerras.

É preciso conter o avanço da desigualdade social, que atinge níveis históricos nos EUA; pôr as contas do governo em ordem, domando a crescente dívida pública; e investir no deficiente sistema de educação básica, ressalta Isabel Sawhill, acadêmica do centro de estudos Brookings que se tornou referência para Orçamento e pobreza.

"Nada disso era realmente grave há dez anos. A desigualdade crescia, mas de modo menos agudo, e havia empregos aos montes", afirma.

"A Grande Recessão exacerbou uma situação iniciada antes, com muitas famílias de classe média em dificuldade. As casas estão se desvalorizando, obter crédito não é fácil, o acesso à saúde e à educação encareceu e empregos para os menos escolarizados estão em falta."

BOMBA-RELÓGIO

Outros desafios --como o aquecimento global, citado por ela, e a necessária reforma imigratória em um país com 11 milhões de não cidadãos, como lembrou Willian Galston, um especialista em governança que serviu a Casa Branca de Bill Clinton-- foram esquecidos sob a "guerra ao terror" e a crise, mas operam como bomba-relógio.

Há ainda dificuldades criadas pela hecatombe econômica, a maior que o país enfrentou em 70 anos: estimular o mercado de trabalho (a 7,8%, o desemprego continua muito acima dos 5% pré-crise) e reanimar a economia --embora ninguém arrisque prever quando ocorrerá.

Essas tarefas são dificultadas pela inflexibilidade do Partido Republicano (que deve permanecer no comando da Câmara) diante de um aumento de impostos necessário para fechar a equação do deficit, segundo o FMI.

Mais custoso, o jogo político pode refrear a reforma imigratória, deixada de lado por Barack Obama no primeiro mandato. Já o nó no caixa federal afeta o investimento em educação e infraestrutura, alongando o círculo vicioso.

"Se não lidarmos com isso nos próximos cinco ou dez anos, os EUA serão mais fracos economicamente, militarmente e diplomaticamente e terão também sua reputação abalada como país que pode lidar com grandes problemas", afirma Galston.

Com o fiasco em conter a crise econômica e a da dívida, o poder de atração americano aos poucos se erode.

REARRANJO

Já os fantasmas que habitam no front externo pouco mudaram, nas análises do cientista político Joseph Nye, pai do termo "soft power" (poder de persuasão e atração, do qual os EUA ainda são os maiores detentores), e do expert em defesa Graham Allison, que serviu os governos Reagan e Clinton.

"A combinação de sanções, isolamento e sabotagem atrasou o programa nuclear iraniano. Ainda assim, é possível que no próximo ano Teerã se aproxime do limiar de uma bomba", avalia Allison.

O professor de Harvard vê as chances de um conflito militar iniciado por Israel ou pelos EUA contra o Irã em até 50% em 2013. Ressalta ainda que o barateamento da tecnologia torna palpável o risco de terroristas terem acesso a armas de destruição em massa --nucleares, inclusive.

Diferentemente de há dez anos, porém, o jogo americano é dificultado pela ascensão econômica, política e militar chinesa e pelo enfraquecimento de aliados-chave na Europa combalida pela crise.

No fim do túnel, está o desenlace do dilema energético (e político) dos EUA, que pode vir com a exploração de novas jazidas de gás de xisto, por ora econômica e ambientalmente controversa.

Está também a resiliência movida a autoconfiança, ainda uma marca da identidade nacional apesar do desgaste.

"O americano passa por ciclos em que vê o país em declínio --achávamos que os soviéticos eram uns gigantes após o [lançamento do satélite] Sputnik; nos anos 1980 eram os japoneses, e agora, os chineses", afirma Nye.

"Essa atitude tende a ser temporária e pode ser útil para catalisar a atenção para as reformas domésticas. Mas será necessária uma liderança eficaz para usar a energia de forma positiva em vez de buscar antagonistas externos."

Editoria de Arte/Folhapress
 

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