Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 
  Siga a Folha de S.Paulo no Twitter
19/11/2012 - 04h30

Análise: Citação à Idade Média leva à presunção de excessos de Israel

Publicidade

GUSTAVO ROMANO
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Minha solução para o problema é dizer a eles que recolham seus chifres ... ou vamos bombardeá-los de volta à idade da pedra".

A declaração de Curtis LeMay, então responsável pela força aérea americana, foi feita em 1965 como alerta aos líderes do Vietnã do Norte.

A guerra se perpetuou por mais uma década e terminou com a primeira derrota da maior força militar do planeta, mesmo depois de despejar 14,3 milhões de toneladas de bombas no país.

A primeira das modernas guerras de guerrilha, que se tornaram regra, é estudada por todas as Forças Armadas de países desenvolvidos desde então. Mas eles continuam perdendo tais guerras.

Daí o espanto causado pela afirmação feita pelo ministro do Interior israelense, Eli Yishai, de que se a hostilidade não terminar, o país pretende "mandar Gaza de volta à Idade Média". Em guerrilhas, poderio militar não se traduz em necessária vitória.

Mas o erro não é só retórico. É também jurídico e estratégico. Guerras têm limites legais. Líderes respondem pelos excessos de seus comandados quando práticas ilegais se tornam política de governo.

A declaração de Yishai pode, mais tarde, ser usada para demonstrar que havia uma política predeterminada de extermínio. Começar uma guerra nessa posição é perigoso porque ela cria uma presunção de excessos. Todas as ações israelenses serão analisas a partir desse prisma.

Do ponto de vista estratégico, estamos em águas nunca dantes navegadas. Ninguém sabe qual será o comportamento de longo prazo dos dois países que tradicionalmente intermediaram a paz entre Israel e Palestina.

No Egito, Mubarak se foi e o novo governo é sustentado por uma frágil coalizão liderada pela Irmandade Muçulmana. Na Jordânia, a população protesta contra o monarca e o país está mergulhado em crise fiscal.

Seus movimentos populares, ainda que democráticos, não significam aproximação com valores ocidentais.

A vitória nas urnas do Hamas é prova disso.

Como se isso não bastasse, há a ameaça iraniana, e a Síria, tradicional aliada do Hizbolah, no Líbano, está há um ano e meio em guerra civil e o regime de Assad pode tentar usar uma guerra religiosa contra um inimigo comum como cartada para congregar sua população.

E os EUA, tradicional aliado israelense, está há uma década enrolado em duas guerras trilhonárias em países muçulmanos e tentando recuperar-se de sua pior crise desde da década de 1930.

Nunca uma solução pacífica foi tão importante para o conflito entre palestinos e israelenses.


GUSTAVO ROMANO, mestre em direito pela Universidade de Harvard (EUA), é o responsável pelo site direito.folha.com.br

 

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página