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Haitianos são alvo fácil de aproveitadores
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RENATO MACHADO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM PORTO PRÍNCIPE
A política de concessão de vistos para haitianos teve como efeito colateral o surgimento de um mercado paralelo, com pessoas que oferecem "facilidades" para a obtenção do benefício.
Em um caso mais grave entre os registrados, uma mulher chegou a ser detida na saída do consulado brasileiro, sob a acusação de tráfico internacional de pessoas.
Como grande parte da população é analfabeta e apenas uma minoria fala francês --os demais entendem apenas o creole, idioma local--, alguns haitianos passaram a se aproveitar dessa falta de instrução para atuar como agenciadores dos candidatos.
Estes chegam a cobrar até US$ 1.000 e prometem o visto às pessoas, quando na verdade apenas preenchem as guias e fazem o agendamento da entrevista --atuam, na prática, como um despachante. O consulado cobra pelo visto uma taxa de US$ 200.
O posto diplomático brasileiro também suspeitou de indivíduos que solicitavam o documento em nome de dezenas de pessoas que iriam ao Brasil participar de eventos, sobretudo religiosos.
Para isso, um visto permanente não é necessário, bastando um de turismo. Todos os pedidos desse tipo foram negados.
Em um dos casos, uma mulher que se identificou como Madame Aurelus solicitou um encontro com os diplomatas brasileiros, alegando representar uma instituição haitiana que enviaria moradores locais a um evento religioso em Brasília.
Ela apresentou uma lista com 40 nomes de pessoas que deveriam viajar.
"Depois conversamos com alguns desses haitianos na lista dela, que nos informaram que ela fazia propaganda em rádios do interior informando que conseguia os vistos", disse o chefe do setor consular da embaixada brasileira, Vitor Hugo Irigaray.
"Ela cobrava das pessoas, mas dizia que a organização pagaria depois por toda a viagem", completou.
A embaixada brasileira alertou as autoridades haitianas, que identificaram indícios de tráfico internacional de pessoas. A acusada foi presa dias depois, logo após sair do consulado brasileiro.
FALSIFICAÇÃO
Outra prática comum era falsificar documentos e até o carimbo do consulado brasileiro na tentativa de furar a fila do agendamento --quando ainda havia vistos disponíveis.
Candidatos também relataram à Folha que pessoas que ficam em frente ao prédio do consulado dizem conhecer funcionários haitianos que trabalham no posto e que facilitam a obtenção do visto. Cobram também US$ 1.000 pelo serviço.
Irigaray afirma que já houve apuração dessas denúncias, mas que não se identificou nenhuma irregularidade.
O diplomata reforça que apenas servidores do Itamaraty controlam as atividades de agendamento de entrevistas e a confecção e distribuição dos vistos para o Brasil.
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