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'Homem do povo', Maduro é aposta para manter pobres
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FLÁVIA MARREIRO
DE SÃO PAULO
Nicolás Maduro chorou ontem na Venezuela ao prometer lealdade "para além da vida" a Hugo Chávez, em seu primeiro discurso desde que foi anunciado como herdeiro político do presidente.
De camisa vermelha, microfone na mão e alguma hesitação, o chanceler e vice-presidente tocou num ponto central sobre sua escolha como herdeiro político de Chávez: a lealdade.
A palavra, ao lado de "unidade", tem sido a mais repetida no chavismo, e por Chávez, desde que o presidente admitiu, no sábado, que sua doença pode impedi-lo de tomar posse do novo mandato.
Daí a menção elogiosa que Maduro fez no mesmo ato a Diosdado Cabello, o militar reformado presidente da Assembleia que é influente nos quartéis e nos negócios variados ligados ao governo.
A citação visa aplacar a tese de que já começaram disputas internas pelo poder no pós-chavismo e mostrar que ele conta com trânsito também entre os militares.
"O presidente nomeou Maduro porque sabe que ele é o único com viabilidade eleitoral. Nem integrantes da ala militar nem de sua família teriam chance contra a oposição", diz Eduardo Semtei, ex-integrante da cúpula do Conselho Nacional Eleitoral, que rompeu com o chavismo na década passada.
"Apesar da existência de grupos internos, não é provável uma guerra fratricida no curto prazo. Será uma 'guerra controlada'", segue.
Maduro e sua mulher, a hoje procuradora-geral, Cília Flores, são um dos casais mais influentes entre os "civis" do chavismo. Conhecem Chávez desde que a advogada Flores o defendeu quando ele foi preso após a intentona golpista de 1992.
Analistas e consultorias de risco político concordam que Maduro tem mais "ativos políticos" que outros que gravitam em torno de Miraflores.
O primeiro fator é gozar da confiança dos irmãos Castro, em Cuba --Cabello seria contra a influência cubana em inteligência e segurança.
Mais do que nunca, Havana, que depende economicamente da Venezuela e resguarda a saúde de Chávez, tem peso na decisão.
SORRISO FÁCIL
O chanceler de 1,90 m e sorriso fácil dirigia os ônibus da frota pertencente ao metrô de Caracas nos anos 90, e foi líder sindical da categoria. Não tem diploma universitário. Tem o "coração de um homem do povo", disse Chávez ao ungi-lo no sábado.
Para um observador próximo do governo, esse é um ponto valorizado pelo presidente. Mais do que habilidade para controlar o partido, o PSUV, ou ter a anuência dos militares, o que será decisivo para o futuro da "revolução" é manter o maior capital dela: o apoio massivo da classes D e E, as mais beneficiadas pelo governo.
Maduro, 50, menos vinculado aos negócios do chavismo no imaginário público, teria mais chances de emplacar que Cabello, por exemplo.
Outro "ativo" seria o trânsito internacional e a capacidade de negociar, vinda da experiência sindical e dos mais de seis anos no comando de uma das chancelarias mais influentes da região.
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