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26/12/2012 - 06h00

Crise deve resultar em uma geração perdida na Espanha

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ÉRICA FRAGA
DE SÃO PAULO

A crise europeia pode produzir uma geração perdida na Espanha: "Há um risco enorme de que os eventos atuais impeçam uma inteira geração de realizar seu potencial". O diagnóstico é de Javier Solana, ex-chanceler espanhol e da União Europeia.

Para Solana, que também já foi secretário-geral da Otan, os líderes europeus precisam adotar com urgência políticas que promovam o crescimento econômico.

Solana esteve em São Paulo no fim de novembro para participar de uma conferência sobre a importância das grandes regiões metropolitanas para o comércio global, promovida pelo Brookings Institution e pelo JP Morgan.

Leia os principais trechos da entrevista dele (atualmente, presidente do ESADE Center for Global Economy and Geopolitics) à Folha.

*

*Folha - Desde a crise global os governos se tornaram mais realistas, mais interessados em resolver seus problemas do que em perseguir uma agenda global. Como mudar isso?

Javier Solana - A crise econômica e a consequente conscientização sobre o grau de interdependência têm inspirado um ressurgimento do nacionalismo ao redor do mundo. Mas nos esconder dentro de nossas conchas ou introduzir medidas protecionistas não resolverá os problemas atuais.

Ao contrário, estou convencido de que a solução está nas oportunidades oferecidas pela maior abertura ao mercado global. Os riscos inerentes a essas ações podem ser mitigados em fóruns como a OMC.

Apesar dos recentes acordos em relação à Grécia, parece que a crise está longe de ser resolvida. Como o sr. avalia a ação dos líderes europeus?

Vamos ser claros: a crise tem sido um verdadeiro tranco para todos. Nenhum país estava totalmente preparado para as mudanças e situações dramáticas dos últimos anos.

Mas, considerando a dificuldade extrema da situação, acho que os líderes europeus responderam tão bem quanto podiam.

O desafio atual para a União Europeia é incorporar as causas e repercussões dos eventos econômicos extraordinários em formulação e ação política. Isso vai requerer movimentos corajosos e visionários por parte dos líderes europeus, e espero que essas ações se materializem.

A Espanha enfrenta taxas de desemprego muito elevadas. Por quanto tempo essa situação pode ser mantida sem resvalar em levantes sociais?

Meu país, a Espanha, está de fato sentindo o peso elevado da crise. Mas é também um país forte e muito desenvolvido, que é apoiado por uma rede de laços sociais densa. Essa rede robusta garante que as necessidades básicas sejam cobertas, especialmente nesta situação dramática de desemprego exorbitante.

O maior problema é um iminente pântano geracional: há um risco enorme que os eventos atuais impeçam uma inteira geração de realizar seu potencial.

E embora isso pareça um problema em nível individual, na verdade seu efeito será sentido em uma escala nacional. É imperativo que sejam tomadas atitudes para evitar uma geração perdida.

A Espanha está na direção correta para sair da crise?

Como a Espanha é um membro pleno da União Europeia, eu acredito que a solução para sua saída da crise tem de ser uma solução europeia. A grande pergunta, no entanto, é como migrar de políticas de austeridade para políticas que irão estimular o crescimento.

Embora a austeridade seja um ingrediente essencial, ela não consegue nos tirar sozinha da crise. Apenas o crescimento econômico pode nos fazer mover para cima e para frente. É fundamental que nos dediquemos a encontrar programas e políticas que promoverão o crescimento.

A crise fez com que o G20 tivesse papel proeminente na economia. Como o sr. avalia o desempenho desse grupo?

Concordo que o G20 teve um papel importante nessa crise. Nos estágios iniciais, os membros do fórum reagiram rapidamente e de forma determinada para evitar uma recessão global. Mas, depois dos encontros iniciais, parte desse ímpeto foi, infelizmente, perdido. O grupo encontrou dificuldade em coordenar políticas de crescimento, o que é uma pena.

Mas eu ainda acredito na promessa do G20. O papel forte desempenhado pelos países emergentes nesse fórum corresponde ao seu lugar na economia global.

O sr. acredita que o Ocidente deveria armar os rebeldes sírios ou promover alguma intervenção no país?

A situação na Síria é dramática e deplorável. A cada dia, fica mais claro que o conflito não pode continuar para sempre. Mais cedo ou mais tarde, o presidente (Bashar) Assad terá de reconhecer que não pode mais governar o país e, quanto antes ele admita isso, melhor.

No meio tempo, no entanto, é muito lamentável que a comunidade internacional não tenha sido capaz de cuidar dessa situação. Tem se mostrado impossível construir uma base de legitimidade para uma ação internacional. O impasse no Conselho de Segurança da ONU é revelador: ressalta as enormes e, algumas vezes, aparentemente intransponíveis dificuldades de governar um mundo cada vez mais multipolar.

Como o sr. avalia a estratégia na guerra do Afeganistão? A Otan pode deixar o país sem criar um vácuo de segurança?

A Otan está no Afeganistão há mais de dez anos, muito dedicada à sua missão em um país extremamente desafiador. Essa área é reconhecida por sua geografia excepcionalmente difícil e seus vizinhos muito complexos. Acho que é crucial que o Afeganistão coloque foco nos seus problemas internos. Depois de anos de ajuda internacional sob muitas formas, o país e seus líderes precisam entender que ajuda não é uma fonte eterna.

 

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