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20/02/2013 - 15h44

Tumulto cerca visita de blogueira cubana dissidente à Câmara

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BRENO COSTA
DE BRASÍLIA

Manifestantes e parlamentares de oposição quase se agrediram fisicamente na tumultuada visita da blogueira cubana Yoani Sanchez à Câmara dos Deputados, em Brasília, nesta quarta-feira.

Na saída da cubana, por volta das 14h, após sessão em que foi ouvida majoritariamente por integrantes da oposição ao governo federal, manifestantes contra e a favor da presença de Yoani trocaram empurrões. Cartazes carregados por jovens que apoiavam a visita da blogueira foram arrancados por manifestantes que acusam a blogueira de estar a serviço dos interesses dos Estados Unidos.

Na confusão, o deputado Domingos Sávio (PSDB-MG) afirmou ter sido agredido pelo médico Wesley Caçador Soares, que diz ser representante de uma associação de médicos formados em Cuba. O parlamentar, que afirma ter levado um empurrão foi em direção ao manifestante, no estacionamento de um dos anexos da Câmara, aos gritos, acusando-o de ter agredido. Seguranças e outros parlamentares tiveram de separar os dois. Soares negou a agressão, "uma falácia", segundo ele.

A confusão foi o ápice de um ambiente de tensão que se estendeu ao longo das duas horas de presença de Yoani na Câmara. Atendendo a um convite do PSDB, a blogueira, um dos principais nomes da dissidência à ditadura de Raúl e Fidel Castro, acabou virando também estandarte para a oposição brasileira.

Mais de 20 parlamentares oposicionistas se aglomeraram na mesa da comissão de Constituição e Justiça, onde Yoani acompanhou a exibição parcial do documentário "Conexão Cuba Honduras", do qual é uma das protagonistas.

Ao seu lado esquerdo sentou-se o senador Aécio Neves (PSDB-MG), potencial candidato à Presidência em 2014 e recebido com aplausos dos colegas. Parlamentares conservadores, como Jair Bolsonaro (PP/RJ) e Ronaldo Caiado (DEM/GO), também acompanharam a visita da cubana. O senador petista Eduardo Suplicy (SP) também estava no grupo.

Os parlamentares praticamente não prestaram atenção nos menos de dez minutos do documentário que foram exibidos num telão. Estavam mais preocupados em falar com a blogueira. O som do vídeo também era abafado por gritos de grupos pró e conta a blogueira, que entoavam coros no corredor ao lado do plenário.

A chegada de Yoani ao Congresso foi bastante tumultuada, menos por manifestantes e mais pela presença de dezenas de jornalistas e seguranças. Algumas pessoas caíram no chão, mas não houve feridos. Ao contrário da recepção à blogueira em Pernambuco e na Bahia, havia oito manifestantes contrários à cubana na Câmara, com bandeira de Cuba.

Sobre os protestos contra ela, Yoani disse que deixará o Brasil com "a lembrança do pluralismo". "Os brasileiros são como os cubanos, mas livres", disse.

PLENÁRIO

Na Câmara, Yoani foi levada ao plenário e em seguida à Mesa Diretora onde a sessão era conduzida pelo deputado Simão Sessim (PP-RJ). A entrada dela interrompeu o debate que ocorria sobre a Medida Provisória que prevê desoneração na folha de pagamento para vários setores e gerou protestos.

"Essa Casa não deve repetir atitudes como esta", disse no microfone a deputada Erika Kokay (PT-DF). Minutos antes das declarações da petista, Bolsonaro ocupou a tribuna e disse aos gritos em direção aos que protestavam contra a blogueira: "Vai para Cuba. Vai para Cuba. Lá que é bom".

Presente no plenário o deputado Fábio Trad (PMDB-MS) também defendeu a ida da cubana ao plenário. "Essa mulher não é só uma blogueira. Ela transcende essa questão partidária. Esse tipo de atitude mancha a história de qualquer partido", disse. "Lamento tudo o que aconteceu aqui", disse o líder do PR, Anthony Garotinho (RJ).

No início da sessão, a vinda da Sánchez já tinha sido alvo de bate-boca entre os parlamentares. O líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO), ameaçou obstruir os trabalhos e pediu a divulgação da palestra de Sanchéz pela TV Câmara o que foi atendido pelo presidente da Casa, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN).

VISITA

A vinda da blogueira ao Brasil ocorre depois de anos de tentativas de autorização oficial para deixar Cuba. Yoani foi recebida no aeroporto de Brasília pelo deputado Otávio Leite (PSDB/RJ), de quem recebeu uma camisa do Brasil, e seguiu direto para o Congresso. A passagem da blogueira, do diretor do documentário e de dois assistentes foram pagas pela Câmara dos Deputados, segundo Otávio Leite, e não pelo PSDB, responsável pelo convite a Yoani.

Criadora do blog Generación Y, Yoani é contrária ao regime cubano, e narra situações da vida cotidiana em Cuba, incômodas para a ditadura dos irmãos Raul e Fidel Castro. Ao mesmo tempo, ela mesmo é alvo de críticas de setores da esquerda favoráveis ao regime castrista e que a veem como uma "mercenária".

Ela é acusada, essencialmente, de ser uma colaboradora dos EUA, com o objetivo de desestabilizar o governo cubano. A principal evidência nesse sentido, usada pelos manifestantes, é o registro de alguns encontros com oficiais da representação americana em Havana, conforme revelaram telegramas confidenciais revelados pelo Wikileaks.

No último dia 6, uma reunião para discutir a chegada da blogueira ao Brasil foi realizada na Embaixada de Cuba, em Brasília. O encontro foi revelado pela revista "Veja". Na ocasião, CDs contendo um dossiê contra a cubana foram distribuídos. Um dos presentes era Ricardo Poppi Martins, funcionário da Presidência da República. A Presidência informou que ele participou da reunião por acaso e que, assim que soube que os arquivos do CD não tinham relação com seu trabalho, "destrui-o" com o auxílio de uma tesoura.

 

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