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13/03/2013 - 04h00

Análise: Escolha dos cardeais tende a escapar do pensamento racional

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MARCELO COELHO
COLUNISTA DA FOLHA

Não bastasse todo o segredo de que se cerca o conclave, há outro fator imponderável na escolha do papa. As especulações de que somos capazes encontram seu limite numa irracionalidade importante do processo.

Segundo a doutrina católica, os cardeais estarão agindo sob o influxo do Espírito Santo. Obviamente, muitas considerações políticas, geográficas, estratégicas e pessoais passam pela cabeça de cada um dos eleitores.

O impasse dos argumentos que se contrabalançam e se anulam pode acabar levando a uma escolha menos maquiavélica e mais baseada na empatia, na intuição, no efeito "bola de neve". No "inconsciente coletivo", se quisermos. É imensa a quantidade de prós e contras a sopesar. Dou exemplos.

Papa europeu ou papa do hemisfério Sul? Do ponto de vista publicitário, nada melhor do que um latino-americano, africano ou asiático. Ao mesmo tempo, para controlar a burocracia interna e suas dissidências, seria mais indicado um italiano.

Haveria possibilidades intermediárias, como a do argentino Leonardo Sandri, há décadas trabalhando no Vaticano, ou a do brasileiro João Braz de Aviz.

Porém, quem diz que resolver os problemas internos da Cúria é de fato a maior prioridade para um papa? Um secretário de Estado eficiente poderia encarregar-se disso.

O dilema não se esgota aí. Um papa europeu pode ter uma visão mais diferenciada e global dos problemas da igreja, enquanto um papa "regional" pode ser opção arriscada. Para se ter uma ideia, os problemas doutrinários e teológicos da África são bem exóticos.

Discute-se não tanto o casamento gay quanto a questão da poligamia: o que fazer, em caso de conversão ao catolicismo, com as quatro ou cinco mulheres que já se tem? Outro problema: há expectativa de que padres dissipem males criados por feiticeiros.

E a geografia pode contar menos do que se pensa. Se há muita vitalidade católica na Ásia e na África, em outros países a maior força religiosa não vem da organização tradicional da Igreja, com suas paróquias e dioceses.

Vem de movimentos religiosos como Opus Dei, Renovação Carismática, Comunhão e Libertação (ligada ao cardeal Angelo Scola). Grupos que se organizam internacionalmente, que se comunicam pela internet, com fiéis que naturalmente obedecem ao bispo local, mas também contam com outras referências.

Tanto quanto uma possível divisão entre "Norte" e "Sul", entre "romanos" e "resto do mundo", existiria também a divisão entre "movimentos" e "clero local". Sem contar, claro, com a divisão entre "reformistas" e "imobilistas".

Imagine-se agora a possibilidade de compromissos entre essas variáveis. Um papa externamente moderno, mas imobilista na organização interna? Ou o contrário, rotineiro para a mídia, mas revolucionário na burocracia? Não é impossível que, no meio de tantas possibilidades, algum cardeal feche os olhos e confie mais no Espírito Santo do que na sua própria capacidade de destrinchar tudo isso.

Lalo de Almeida/Folhapress
Cardeais participam da missa pré-conclave, no Vaticano
Cardeais participam da missa pré-conclave, no Vaticano
 

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