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Desafio maior será estancar perda de fiéis
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COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ao escolher um argentino como o novo papa, e em especial um jesuíta com um histórico de engajamento em causas sociais, o colégio de cardeais do Vaticano provavelmente demonstrou uma visão do futuro da igreja voltada para fora da Europa, para o hemisfério Sul do planeta, nas regiões do mundo nas quais o catolicismo ainda é dominante ou tem potencial de crescimento.
Espera-se, por exemplo, que um pontífice latino-americano consiga compreender melhor a situação do Brasil, o maior país católico do mundo, com mais de 120 milhões de fiéis, onde as duas categorias religiosas que mais crescem são os evangélicos e os "sem religião" --entre ateus, agnósticos e, principalmente, gente que diz acreditar em Deus, mas que parece ser alérgica à fé organizada.
Os últimos anos também mostraram a considerável vitalidade do catolicismo na África e na Ásia --a República Democrática do Congo, por exemplo, tem quase tantos católicos quanto a Colômbia, mais de 36 milhões de almas.
Por isso mesmo, soa como uma boa ideia escolher o primeiro papa de uma ordem religiosa como a Companhia de Jesus, com uma longa tradição missionária nos lugares mais remotos da Terra.
É claro que é muito cedo para afirmar o impacto da eleição do papa Francisco nesse cenário, mas os primeiros sinais, dados na breve fala do pontífice após o anúncio de sua escolha, são encorajadores, afirma Moisés Sbardelotto, especialista na relação entre catolicismo e mídia da universidade gaúcha Unisinos.
"A riqueza semântica e imagética do comportamento dele naqueles dez minutos foi muito grande", diz o pesquisador. Ele cita, entre outras coisas, o "Boa noite" despretensioso do papa recém-eleito, "como se ele dissesse que era só mais um ali".
Também é significativo o fato de, antes de dar sua bênção, ter pedido para que os fiéis na praça São Pedro rezassem com ele e, principalmente, a ideia de pedir que a multidão o abençoasse também, inclinando a cabeça.
"A escolha do nome de Francisco multiplica ainda mais esses sinais de humildade e de abertura diante dos fiéis", afirma Sbardelotto.
O especialista destaca ainda as falas de Bergoglio anteriores ao conclave, nas quais ele disse preferir uma igreja que corresse riscos e se abrisse ao mundo a uma igreja "autorreferente, fechada em si mesma".
É claro que é difícil dizer se a mudança de pontífice terá efeitos de longo prazo, por exemplo, na perda de fiéis no Brasil. "Por um lado, acho complicado imaginar que as tendências atuais de crescimento dos evangélicos vão se manter por várias décadas e a gente vai chegar a 80% de evangélicos no país", afirma o historiador do catolicismo Rodrigo Coppe Caldeira, da PUC de Minas Gerais.
"Já no caso dos sem religião há outros fenômenos demográficos que podem até ser mais importantes, como o aumento de renda e de educação, que levaram à diminuição da religiosidade em muitos outros países antes", explica ele. (REINALDO JOSÉ LOPES)
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