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28/03/2013 - 03h30

Cresce 'febre' de dólar ilegal na Argentina

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SYLVIA COLOMBO
DE BUENOS AIRES

Só há um assunto que rivaliza com a indicação do papa argentino nas conversas das ruas de Buenos Aires. Trata-se do valor do dólar e onde comprar e vender a moeda norte-americana com a melhor cotação.

A febre atinge argentinos, que buscam a moeda para sua poupança pessoal, e turistas, que querem fazer seu dinheiro valer mais para as compras e passeios na cidade.

O tema ganhou força nas últimas semanas, com o aumento da diferença entre o dólar oficial (5,10 pesos) e o paralelo (8,50), causado pelas recentes medidas do governo Cristina Kirchner de restrição ao acesso à moeda.

Desde então, as chamadas "cuevas" (casas de câmbio clandestinas) e os "arbolitos" (vendedores de rua), assim como serviços clandestinos de "delivery" da moeda, passaram a ser mais requisitados.

Os argentinos, em geral, desconfiam dos bancos, principalmente desde a crise de 2001, em que muitos perderam suas poupanças.

Editoria de Arte/Folhapress

Assim, o dólar tornou-se o principal recurso para quem quer poupar. É muito comum guardar dinheiro em casa, prática apelidada no país de "colchón bank".

Quem compra dólar com frequência tem seu doleiro de confiança, acionado por celular e que entrega as cédulas em casa.

Já os turistas, menos familiarizados com esse sistema, têm de procurar os vendedores ilegais de dólar paralelo pelas ruas de Buenos Aires.

As "cuevas" funcionam, em geral, na parte dos fundos de algumas casas de câmbio oficiais. Muitas se encontram no centro, principalmente nos arredores da Plaza San Martín.

A maioria dos turistas, porém, prefere a solução mais ágil, que é abordar um "arbolito" na rua (o nome faz referência às folhas verdes de uma árvore). Reconhecê-los é muito fácil. Geralmente estão nas esquinas ou diante de lojas de artigos de couro ou das casas de câmbio.

Se a fiscalização da polícia e da Afip (Receita Federal argentina) não estão muito severas, eles se anunciam publicamente: "Dólar, dólar".

Caso haja policiamento perto, eles tentam atrair a clientela com outros "produtos". Anunciam espetáculos de tango, excursões, entradas para shows e partidas de futebol.

Na última sexta-feira, quando a Folha saiu em busca deles, o "disfarce" mais utilizado era a venda de ingressos de última hora para o jogo entre Argentina e Venezuela, pelas eliminatórias da Copa. Nesse dia, era possível encontrar "arbolitos" que compravam dólares a 8 pesos.

Os "arbolitos" circulam principalmente pela calle Florida, a mais turística da cidade -também é a com maior incidência de furtos a turistas. Pela Florida, transitam mais de 5 milhões de pessoas por dia.

O trecho em que se fixam os "arbolitos" com mais frequência é entre as ruas Lavalle e Sarmiento. Também podem ser encontrados em outros bairros, como Palermo, La Boca e Villa Crespo, próximos a feiras de artesanato e outlets.

Estima-se que existam mais de 9.000 "arbolitos" nas ruas de Buenos Aires.

O esforço para atrair os turistas brasileiros é notório. Muitos falam "portunhol", perguntam se o comprador é de São Paulo ou do Rio de Janeiro, fazem alguma piada sobre futebol.

Com a chegada da Semana Santa, os "arbolitos" preparam-se para dias de intenso movimento, principalmente porque as "cuevas" estarão fechadas.

"O turista vai chegar e querer fazer seu dinheiro render mais, vamos ter de disputar a clientela sem levantar a desconfiança da polícia", disse à Folha um "arbolito" que atua na região da Florida e que não quis se identificar.

 

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