Chávez tira do ar a mais antiga emissora de TV da Venezuela
Faltando um minuto para a meia-noite deste domingo, o governo de Hugo Chávez cortou o sinal de transmissão da RCTV, mais antiga emissora da Venezuela e única de oposição com alcance nacional.
A decisão de não renovar a licença da RCTV e transformá-la em um canal público, que já havia sido anunciada em dezembro, foi celebrada por "chavistas" nas ruas. Eles puderam assistir à primeira emissão da nova rede, TVes, que entrou no ar à 0h20 (1h20 de Brasília).
Chávez considera que o fim do canal é um combate ao "capitalismo e à ditadura da mídia". Ele acusa a RCTV de "envenenar" os venezuelanos uma programação que promove o capitalismo. O canal também é acusado de ter apoiado o golpe que tentou derrubar Chávez do poder em 2002. Chávez chegou a passar dois dias preso, mas recuperou o poder logo depois.
O diretor-geral da RCTV, Marcel Granier, discorda de Chávez e considera o fechamento da emissora o "início do totalitarismo na Venezuela". "Isso [a extinção da RCTV] mostrou a abusiva, arbitrária e ditatorial natureza do governo Chávez, um governo que impede a liberdade de expressão e o criticismo", disse Granier.
Nos estúdios da RCTV, o clima era de tristeza. Minutos antes de o sinal sair do ar, viam-se artistas, comediantes e jornalistas de mãos dadas.
Todos rezavam e, ao final, garantiram que voltariam. "Não percam a esperança. Nós nos veremos em breve", disse o apresentador Nelson Bustamante.
Diretores e funcionários se despediram da audiência com a mensagem "Um amigo é para sempre", e cantaram o hino nacional antes que o sinal deixasse de ser exibido, às 23h59 (1h59 desta segunda-feira em Brasília).
Protestos
O encerramento das atividades da rede de TV causou violentos protestos nas ruas de Caracas. Antes mesmo do final da transmissão, por volta das 18h (19h de Brasília) de ontem, começaram os distúrbios entre manifestantes contrários à extinção da RCTV e a polícia.
Garrafas e outros objetos foram atirados contra policiais, que responderam lançando jatos de água e bombas de gás lacrimogêneo.
No total, 11 policiais foram feridos, quatro gravemente após serem atingidos por pedras.
A polícia dispersou os manifestantes com o apoio de dois veículos blindados equipados com canhões de água. Outras regiões de Caracas permaneciam tranqüilas durante este domingo.
Enquanto isso, no centro da cidade, milhares de pessoas comemoravam o nascimento da nova rede de TV e demonstravam apoio a esta decisão do governo, que dividiu a sociedade venezuelana e gerou debate e polêmica além das fronteiras do país.
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