Diana era romântica e se casou apaixonada, diz jornalista
A princesa Diana --cujo 10º aniversário da morte se completa nesta sexta-feira, 31 de agosto,-- era uma jovem romântica, casou-se com o príncipe Charles, aos 20 anos, "de coração aberto" e acreditando em sua história de amor, que durou um período "muito curto".
A opinião é da jornalista Teté Ribeiro, autora do livro "Divas Abandonadas - Os Amores e Os Sofrimentos das 7 Maiores Divas do Século 20", que tem um dos capítulos dedicado a Diana.
Na publicação, Teté traça perfis inéditos de Marilyn Monroe, Maria Callas, Jacqueline Kennedy Onassis, Tina Turner, Ingrid Bergman, Sylvia Plath e da princesa de Gales.
Para ela, Diana se casou apaixonada por Charles, mas se desiludiu ao ver que se casamento era uma "grande encenação" e passou a ter relacionamentos com outros homens. A jornalista diz ter se surpreendido ao perceber, durante sua pesquisa, que depois do final do "conto de fadas" com Charles, Diana passou a levar sua vida amorosa "como uma adolescente".
Segundo a jornalista, Diana representou "o auge da monarquia inglesa" do século 20 e despertou mais interesse da mídia do que qualquer outra celebridade do mundo de hoje. Para Teté, a princesa sabia do imenso interesse público que despertava e fazia "bom uso" dele.
Leia abaixo a íntegra da entrevista concedida à Folha Online:
Folha Online - Após dez anos da morte da princesa Diana, o que, na sua opinião, a imagem de Lady Di ainda representa para a sociedade britânica?
Teté Ribeiro - Diana representa o auge da monarquia inglesa no século 20, ela fez o mundo inteiro se apaixonar pela história de amor do príncipe com aquela menina que a gente achava que era comum. Um erro, já que ela era da elite inglesa, de uma família riquíssima, filha de um nobre inglês e, como ela mesma dizia, uma das "únicas opções do príncipe Charles" para ser a futura rainha da Inglaterra. E depois que ela mesma percebeu que o conto não tinha fada nenhuma, decidiu que não seria simplesmente uma coadjuvante naquela encenação toda, e virou uma estrela, até com os dramas que associamos às estrelas de Hollywood, como mania de dieta, bulimia, paixões secretas e proibidas, além de um grupo enorme de "conselheiros" que incluia astrólogos, numerólogos, gurus etc. Fora isso, teve um papel social, quando percebeu que sua imagem e seu tempo livre podiam servir para alguma coisa, sua presença podia fazer qualquer evento beneficente ter mais cobertura de imprensa e mais relevância política, e assim ela mesma acabou tendo um papel mais importante que ser apenas a mulher bonita e luxuosa que deu um herdeiro à monarquia inglesa.
Folha Online- A morte da princesa deixou um vácuo na imprensa de celebridades, onde ela era a entidade máxima. Quem você acha que se aproxima de ocupar esse lugar?
Teté Ribeiro - Diana está para as princesas como as top models estão para os anos 80. Lembra quando a Linda Evangelista, a Christy Turlington, a Naomi Campbell e a Cindy Crawford pareciam que nunca mais seriam substituídas? Pois é, elas ainda são as top models, todo mundo lembra que elas dominaram a cena e ultrapassaram a barreira da moda para virar estrelas. Mas o tempo passou, o mundo mudou, a Gisele [Bündchen] apareceu e conquistou um nível de celebridade de um jeito que elas nem sonhavam. A Diana ainda não foi substituída à altura, a história dela é muito única, tem elementos que nenhuma outra história tem, pelo menos não as que despertam o interesse tanto das rodas de alta cultura quanto do mundo das fofocas de famosos. Se alguém chega perto do fascínio que a Diana desperta hoje em dia é a Angelina Jolie, que também mistura esses dois elementos de forma interessante. Mas ela tem que continuar despertando o interesse, seja com bons filmes, bons dramas ou boas --os más-- ações.
Folha Online - A reação da família real à morte da princesa foi intensamente criticada e continua a ser tema de textos e filmes, como "A Rainha", do diretor Stephen Frears. Você poderia comentar o retrato da "frieza" de Elizabeth 2ª mostrado ali? Sem levar em conta o filme, você acha que a morte exigiria uma postura diferente por parte da coroa britânica?
Teté Ribeiro- Vi o filme, gostei muito, acho que foi um dos grandes longas do ano passado e a atriz Helen Mirren mereceu todos os prêmios que ganhou. E acho que "A Rainha" mostrou como todo aquele esquema da família real inglesa está fora da realidade, eles são uma atração turística hoje em dia, com nenhuma importância política, e ligados a uma tradição que pouco tem a ver com o tempo atual. Não é só na morte da princesa que a monarquia inglesa deveria rever seus conceitos, é no conceito da monarquia em si, a quem isso serve afinal? A indiferença mostrada pela rainha [Elizabeth 2ª] na época não era exatamente uma indiferença, era um respeito às tradições da família real, mas ninguém mais dá a mínima pra essas tradições, elas não servem para nada mais do que justificar o estilo de vida deles. Claro que ela devia ter olhado um pouco pra fora da janela do Palácio de Buckingham e fazer como a Diana fez, tentar entender o mundo e se colocar nele, não o contrário, que foi o que a Rainha fez até que se tornou impossível ignorar a reação do público.
Folha Online- Durante a pesquisa para o capítulo de "Divas Abandonadas" sobre a princesa, o que mais te surpreendeu na biografia de Diana?
Teté Ribeiro - Minha maior surpresa foi perceber como ela viveu a vida amorosa, depois do fim do sonho de Cinderela com o príncipe Charles, como uma adolescente. Com os outros namorados ela fazia aquelas besteiras que me lembro de ver minha amigas fazendo quando a gente tinha 14, 15 anos. Ela ligava mil vezes e desligava na cara, ficava parada na porta da casa dos namorados "vigiando" o entra e sai deles, com cada novo namoradinho fazia um projeto de vida, imaginava onde os dois iam morar, quantos filhos iam ter, onde iam passar férias etc. E essa era uma mulher que já tinha dois filhos, andava com segurança pra cima e pra baixo, já tinha tido a maior decepção amorosa de sua vida, e era uma figura pública, que além de tudo queria conquistar uma importância social. Mas quando se apaixonava, virava uma menininha. A menininha que ela mesma não deixou se apaixonar várias vezes quando era adolescente, exatamente porque fez questão de se manter virgem para um dia, quem sabe, virar princesa.
Folha Online- Tina Brown, autora de "The Diana Chronicles", sugere que Diana sabia fazer uso da perseguição da mídia para seus propósitos, o que coloca em xeque a postura de "vítima" atribuída à princesa. Como você enxerga essa questão?
Teté Ribeiro- A princesa Diana certamente não era uma boboca. Ela percebeu que despertou um interesse imenso do público e fez bom uso dele. Imagino que fez isso só porque não conseguiu o que queria mesmo, que era viver feliz para sempre com o príncipe Charles e ser um dia a rainha mais querida da Inglaterra. Mas, como segunda opção, achou muito interessante ser uma figura pública respeitada e querida, admirada e com o poder de fazer a mídia prestar atenção a causas a que ela se afiliava. E também, imagino, ela devia se divertir com o fato de poder irritar um pouco a família real com sua constante exposição, e jogar com o fato dela ter essa imagem de vítima enquanto o seu marido ficava como vilão, que trocou a bonitinha e inocente por uma mulher mais velha com cara de fuinha.
Folha Online -A vida amorosa da princesa relatada pelos biógrafos, ainda que carregada de tragédias, não condiz com a visão de uma mulher frágil e inocente. No entanto, são as traições de Charles que causaram as mais fortes reações públicas. A que você credita isso?
Teté Ribeiro- Ué, o Charles que começou com essa história de traição, e começou antes mesmo do casamento acontecer. A Diana se casou com o coração aberto, acreditando na história de amor que viveu por um tempo curtíssimo. E ele não, nunca abriu mão da sua amante, nem nunca fez muito esforço pra esconder esse fato de Diana -- no final, acho que a história de amor de Charles e Camilla é que é a mais romântica. Isso é que é amor de verdade, não é mesmo? Mas enfim, as traições da Diana só começaram a acontecer quando ela percebeu que seu casamento era uma grande encenação. E aí ela não era mais aquela menininha de 20 anos, já tinha um pouco mais de experiência e já tinha vivido sua grande decepção amorosa, não era mesmo mais tão inocente assim. E aí ela namorou mais que ele, claro, porque era linda, disponível e despertava o interesse de muito mais gente.
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