Greve de agricultores continua na Argentina e divide população
Estradas bloqueadas agravaram o desabastecimento de alimentos nesta quarta-feira na Argentina, no décimo-quarto dia da greve dos agricultores que levou a um enfrentamento político de larga escala entre simpatizantes da presidente Cristina Kirchner e oposição.
Os agricultores afirmam que manterão a greve e as manifestações enquanto o governo não voltar atrás e suspender os aumentos nos impostos sobre exportações de grãos.
Marcos Brindicci/Reuters |
"Eu não votei nela", diz camiseta de manifestante sobre Cristina |
As medidas extremas no campo recrudesceram nesta quarta-feira, depois que milhares de ativistas tomaram as ruas de Buenos Aires na terça-feira (25) para protestar contra o governo e declarar apoio aos grevistas, acusados por Cristina de extorsão.
O ministério da Defesa ordenou nesta quarta-feira ao Exército que envie gado para os frigoríficos para suprir a falta de carne, um dos principais produtos da dieta dos argentinos, que consomem em média 74 kg por ano (per capita).
Os produtores agropecuários rebeldes mantêm bloqueios e atos de protesto em cerca de cem estradas do centro-oeste argentino, onde o cultivo de soja ocupa mais da metade dos 30 milhões de hectares da superfície utilizada para o plantio de grãos no país.
O ministro da Economia, Martín Lousteau, um dos criadores da taxa que incide sobre as exportações de soja --cuja aprovação gerou a ira dos agricultores-- chamou por sua vez os grevistas de irresponsáveis, dizendo que os protestos em Buenos Aires "foram montados por dirigentes que não estão ideologicamente de acordo com o governo".
Lousteau disse ainda que o governo garantirá o abastecimento e ratificou a alta dos impostos sobre as exportações de soja.
O ministro da Justiça, Aníbal Fernández, afirmou que não permitirá os bloqueios de estradas, dizendo que mandará para a prisão os agricultores que os levarem adiante.
"Se não saírem das estradas, nós agiremos. Quem não entender essas razões irá preso. Tentaremos liberar os caminhos e permitir que os artigos cheguem aos lugares de consumo" para evitar o desabastecimento, afirmou Fernández, em declarações feitas à imprensa local.
Oposição
A Igreja Católica, religião majoritária na Argentina, e vários governadores de Províncias agrícolas fizeram um apelo ao governo e aos grevistas para que iniciem um diálogo e cheguem a uma solução para o conflito. O país já vive duas semanas sem a comercialização de carnes e grãos.
A principal líder da oposição, a social-cristã Elisa Carrió, declarou que "as mobilizações nas cidades foram uma resposta de unidade, de solidariedade com o campo", acusando o governo de "buscar a divisão da sociedade entre peronismo e antiperonismo".
Marcos Brindicci /Reuters |
Fazendeiro participa de protesto contra a presidente Cristina e a alta de impostos |
Carrió, da Coalizão Cívica, e um das candidatas à Presidência na eleição de 2007, saiu à frente do protesto agrário. Ela convocou marchas nas ruas em apoio ao campo, que mobilizaram a classe média de Buenos Aires, distrito historicamente hostil ao peronismo e governado atualmente pelo prefeito direitista Mauricio Macri.
Um enfrentamento entre opositores e grupos de "piqueteiros" (pobres e desempregados) a favor de Cristina Kirchner, que expulsaram os primeiros da histórica Praça de Maio, deixou ao menos dois feridos na noite de terça-feira.
A soja é o principal produto de exportação do país, que também é o terceiro exportador mundial do grão e o principal de azeites e farinhas de sementes oleaginosas.
Com France Presse
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