Otan comemora volta plena da França à organização
O secretário-geral da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), Jaap de Hoop Scheffer, expressou nesta quarta-feira sua satisfação com o anúncio do retorno da França ao comando militar da Aliança e disse que tomará as medidas necessárias para que o retorno se concretize.
A França deixou a estrutura militar da Otan em 1966, sob a Presidência do general Charles de Gaulle, que criticava a influência americana no continente. Desde então, o país fazia parte apenas da Aliança Atlântica.
A decisão do presidente francês, Nicolas Sarkozy, de dar este passo representa "um novo impulso nas relações entre França e Otan", disse o responsável da organização, que participou do seminário sobre defesa europeia no qual o presidente anunciou oficialmente sua decisão.
Philippe Wojazer/Reuters |
Presidente francês, Nicolas Sarkozy, anuncia em Paris o retorno da França ao comando militar da Otan, após 43 anos |
Em comunicado, De Hoop Scheffer ressaltou que Sarkozy deixou muito claro que "o processo que deve levar a França a retomar seu lugar [na Aliança] chegou ao fim". "A França sempre foi um aliado importante dentro da Otan. Sua contribuição atual nas operações e missões é crucial", acrescentou.
Segundo ele, a plena participação desse país nos processos de decisão e de planejamento reforçará a Aliança e "abrirá também novas perspectivas" para uma relação entre Otan e União Europeia mais sólida e complementar.
Essa decisão deve se concretizar durante a cúpula que a Otan realizará no início do mês de abril por ocasião dos 60 anos de sua criação, nas cidades de Estrasburgo (França) e Kehl (Alemanha).
Interesse
O presidente Sarkozy anunciou nesta quarta-feira o retorno da França ao comando militar da Otan "no interesse da França e da Europa". "Chegou o momento de pôr fim a esta situação, no interesse da França e da Europa", declarou Sarkozy, em discurso pronunciado em Paris, na Escola Militar.
"Concluindo este longo processo, a França será mais forte e mais influente. Por que? Porque as ausências são sempre erradas, porque a França deve liderar em conjunto mais do que se submeter. Porque devemos estar no local onde são tomadas as decisões e normas, mais do que esperar de fora e sermos notificados", afirmou.
"Uma vez lá, manteremos nosso lugar nos grandes comandos aliados", acrescentou. "Manteremos nossa dissuasão nuclear independente. [...] A decisão nuclear não se partilha."
Segundo o presidente francês, o retorno completo da França na Otan passou por um longo caminho, marcado principalmente pela participação de soldados franceses nas principais operações da Aliança, na extinta Iugoslávia e no Afeganistão.
Insistiu também em que esta decisão não prejudicará em nada a independência nacional. "Os que dizem que nossa independência será questionada enganam os franceses", declarou.
As pesquisas de opinião apontam que a maioria dos eleitores apoiam a volta da França ao comando militar da Otan, embora os opositores de Sarkozy dizem que a medida limitaria a liberdade francesa no cenário internacional.
Sarkozy aproveitou o momento para reiterar que são "mentiras" as análises segundo as quais o retorno completo à Otan representa um alinhamento com os Estados Unidos. "Somos aliados, mas aliados de pé", insistiu, a propósito da relação com Washington.
Entenda o que muda com a volta da França à Otan
-- Os efetivos dos militares franceses no comando integrado da Otan vão passar progressivamente de 100 a cerca de 800, depois da decisão da França de recuperar seu espaço no comando da Aliança Atlântica.
-- Desde 2004, 107 militares franceses foram "reinseridos" no SHAPE, o grande quartel-general europeu de Mons (sul da Bélgica) e em comandos regionais aliados, devido à participação da França na NRF, a força de reação rápida da Otan.
-- A França, que fornece em média 7% dos efetivos das operações conduzidas pela Otan e paga 12% do orçamento da Aliança, de 2 bilhões de euros por ano, ocupa menos de 1% dos postos de comando militar.
-- Ao colocar oficiais franceses no aparelho da Otan, Paris espera poder ter maior peso no planejamento das operações das quais a França participa há anos, seja nos Balcãs ou no Afeganistão.
-- No entanto, "a integração real dos 800 militares não começará para valer antes de meados de 2010", avisou uma fonte da Presidência francesa.
-- De fato, o processo em curso de reestruturação dos efetivos militares da Aliança não será finalizado antes do fim deste ano. Há no total 13 mil postos militares a dividir entre 28 países.
-- A França deve obter 25 ou 26 das 214 vagas de oficiais generais disponíveis, ou seja, o mesmo número que o Reino Unido mas um pouco menos que a Alemanha, que manterá 27 ou 28. A Itália terá 20 ou 21, e os EUA cerca de 30.
Com agências internacionais
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