Após colapso econômico, esquerda declara vitória inédita na Islândia
A primeira-ministra social-democrata Johanna Sigurdardottir declarou uma inédita vitória da esquerda na eleição parlamentar da Islândia, menos de dois meses depois de assumir o governo em meio a protestos contra o colapso econômico do país, que derrubou o governo liderado pelos conservadores.
"Creio que esta será a nossa grande vitória", discursou Sigurdardottir, líder da Aliança Social-Democrata, a apoiadores na madrugada deste domingo (noite de sábado em Brasília).
Segundo dados da Comissão Nacional Eleitoral do país, com 56% dos votos apurados, a Aliança Social-Democrata obteve 32,2%, contra 26,8% nas eleições de 2007, e seu aliado no governo, o Movimento de Esquerda Verde, obteve 20,9%.
Se os dados se confirmarem ao fim da apuração, os dois partidos ganharam quatro cadeiras a mais do que na eleição anterior, conquistando a maioria dos assentos. Os social-democratas elegeram 21 deputados e os verdes, 13, somando 34 dos 63 cadeiras do Parlamento unicameral islandês.
É a primeira vez em que a esquerda da Islândia conquista a maioria absoluta e que o Partido da Independência não é a força mais votada desde a independência total do país da Dinamarca, em 1944. O resultado confirma as previsões apontadas pelas pesquisas nas últimas semanas, que previam uma cômoda vitória da esquerda.
O resultado da eleição fortalece o projeto da primeira-ministra de fazer o país juntar-se à União Europeia, mas ela terá de encontrar uma forma de negociar esse projeto com os verdes, seus aliados de governo, que rejeitam essa ideia. Sigurdardottir afirmou que a Islândia deve iniciar rapidamente a negociação para, em seguida, realizar um referendo sobre a entrada no bloco europeu.
O conservador Partido da Independência, no poder nas últimas duas décadas, ficou com 23,4% e 15 cadeiras, 13,2 pontos percentuais e dez cadeiras menos que na última eleição. O centrista Partido do Progresso alcançou 13,8%, com 9 cadeiras, duas a mais que em 2007, e o Movimento Cidadão, surgido há apenas alguns meses, alcançou 8% e 5 cadeiras, enquanto o Partido Liberal caiu quase 5 pontos para 2,4%, e perdeu os 4 deputados que tinha na legislatura anterior.
O afundamento dos conservadores reflete o voto punitivo dos eleitores contra o partido que, com sua política neoliberal levou o país a um boom econômico inédito, mas que terminou na crise financeira do ano passado, quando o setor bancário islandês quebrou e deixou o país à beira da falência.
Por dois anos, os habitantes se beneficiaram de uma onda de crédito e de desenvolvimento do setor financeiro, que atraiu capital estrangeiro e permitiu uma elevação súbita do nível de vida de boa parte da população de 300 mil pessoas da ilha.
Mas a crise financeira nos EUA, que se tornou mais aguda após a queda do banco americano Lehman Brothers, em setembro do ano passado, secou o crédito internacional e deixou o país afundado em dívidas. O desemprego é crescente, e valor da moeda, a coroa, se esfarela.
A inflação disparou --foi de 15,2% em março--, e o FMI previu que a economia deve encolher cerca de 10% em 2009. Essa seria a maior queda no crescimento do país desde a independência.
O líder do Partido da Independência, Bjarni Benediktsson, reconheceu a vitória do bloco de esquerda da primeira-ministra. Ele admitiu que os eleitores de seu partido não tinham respondido à sua tentativa de renovação após duas décadas no poder.
Os protestos populares contra o governo conservador provocaram a queda do primeiro-ministro Geir Haarde em janeiro passado.
Com Efe e Reuters
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