Manifestantes no Rio de Janeiro rejeitam visita de Ahmadinejad e criticam Lula
Cerca de 2.000 pessoas se reuniram hoje na praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, para rejeitar a visita ao país do líder iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e pedir explicações ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por recebê-lo.
"Lula, explique a seu convidado o que são direitos humanos" e "negar o Holocausto é igual a negar a escravidão" foram algumas das frases exibidas nos cartazes dos manifestantes.
Lula defenderá construção da paz em encontro com presidente do Irã
África e América Latina podem trazer "nova ordem política", diz presidente do Irã
Sergio Moraes/Reuters |
Manifestantes no Rio protestaram contra a visita do presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, que chega ao Brasil nesta segunda |
O protesto teve a participação das comunidades judaica e árabe, grupos afro-religiosos, grupos homossexuais e vários civis insatisfeitos com o fato de que se ofereça uma recepção com todas as honras ao presidente do Irã, que chegará amanhã (23) a Brasília.
Havia muitas bandeiras israelenses junto com a brasileira e a multicolorida do orgulho homossexual, além de camisas com lemas como "Paz" e "Que convidado é esse?".
A manifestação durou cerca de duas horas e percorreu grande parte da pista vizinha à praia, lotada em domingo ensolarado no Rio de Janeiro.
Os manifestantes usaram apitos para protestar contra Ahmadinejad e a Lula, distribuíram panfletos, gritaram e também dançaram, ao ritmo percussão africana.
Também foi feito um minuto de silêncio em homenagem ao povo iraniano, que, segundo os presentes, é o que mais sofre com as "políticas discriminatórias" do presidente do Irã, e os manifestantes cantaram o hino brasileiro.
No final da concentração, os presentes soltaram balões brancos com palavras como "direitos humanos", "liberdade de imprensa" e "paz", que antes estavam em uma gaiola, que representavam as "vítimas" do regime iraniano, nas palavras dos organizadores.
Além da marcha no Rio, também foram convocadas concentrações de repúdio em Brasília, em frente ao Itamaraty, e em algumas outras cidades do país.
Ahmadinejad chegará amanhã à capital brasileira acompanhado de uma delegação de 200 empresários e se reunirá com Lula para tentar conseguir apoio ao polêmico programa nuclear iraniano.
Energia nuclear
O presidente Lula --que recebeu recentemente seu colega israelense Shimon Peres-- defende o direito do Irã à energia nuclear pacífica. O programa nuclear do Irã já foi objeto de cinco resoluções e de sanções do Conselho de Segurança da ONU (Organização das Nações Unidas).
O Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a reeleição de Ahmadinejad, contestada com violência pela oposição. O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, maior aliado de Ahmadinejad na América Latina, já expressou diversas vezes seu apoio ao programa nuclear iraniano.
Construção da paz
Hoje Lula disse que vai repetir ao colega iraniano o mesmo discurso pela construção da paz que manteve com Peres e com o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas. Lula destacou, no entanto, que no momento é preciso descobrir quem não quer a paz no Oriente Médio e colocar para "escanteio".
Lula ainda disse que tem negociado a realização de uma partida de futebol no Oriente Médio, para representar o momento de reconstruir a paz na região, o que ele chamou de "jogo da paz", que seria realizado durante sua visita à região prevista entre 10 e 16 de março de 2010.
O presidente ainda brincou dizendo que poderia ser um dos jogadores da seleção. "Já há disposição dos dois [Israel e palestinos] de montarem uma seleção meio a meio de cada país. Se der eu posso jogar de centroavante em Israel, eu poderia ser meia armador", disse.
Crítica
A chegada de Ahmadinejad ao Brasil no entanto, foi objeto de crítica por parte do presidente da Subcomissão para a América Latina da Câmara de Deputados dos Estados Unidos, o democrata Eliot Engel. Na sexta-feira (20) ele disse que o presidente Lula "está cometendo um grave erro".
"O Irã executou dois atentados terroristas letais em solo sul-americano nos anos 90, pede a destruição de Israel e desenvolve armas nucleares em segredo", afirmou. "Lula não deveria legitimar Ahmadinejad encontrando-se com ele no Brasil."
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